Eu juro que não ligo tanto para filmes de heróis e heróis em geral, mas existem obras como Batman na série de jogos Arkham, que vão exceder as expectativas e funcionar independentes de serem uma obra Marvel ou DC ou não. É o caso de Guardians of the Galaxy.
De qualquer forma, não confunda jamais com o jogo lançado pela Tell Tale em 2017. Esse jogo não será mencionado em ponto algum na análise, mesmo porque eu não joguei. Eu digo isso porque o nome original deste lançamento é Marvel’s Guardians of the Galaxy.
Para quem não está ligado, nem nos filmes, Guardiões da Galáxia são um grupo de heróis da Marvel com o diferencial de terem um humor extremamente ácido, ao mesmo tempo que traz referências nostálgicas aos anos 80, de forma adoidada. Se é gratuito ou não, você decide. O que eu acho só é que pessoas se incomodam exageradamente, quase infantilmente com obras que usam a nostalgia como referência.
O jogo traz inclusive uma característica forte do filme (entre todas as outras): que são as músicas de rock’n roll e pop dos anos 80. Isso será o pesadelo dos streamers e produtores de conteúdo, já que a forma com que essas músicas estão incluídas na obra, é mais que estética. Elas dão o tom ao senso de equipe e à composição das cenas de ação, que por sua vez resolvem mais levar tudo numa boa do que se levar muito a sério, ignorando filarmônicas de forma deliciosa.
Esse problema criado pelo capitalismo é grave e ainda não há solução. Eu fico imaginando uma polícia dos tímpanos: se você ouvir música licenciada sem ter o direito para tal, um drone vem e fura sua estimada membrana. Os personagens não compartilham o mesmo visual do filme e isso é super OK, mesmo porque os filmes Guardiões da Galáxia não estão no consciente popular como os Vingadores estão. E também, sinceramente, os modelos da Eidos Montreal são muito melhor resolvidos.
Gamora por exemplo, ficou ainda mais bonita de rosto na minha opinião, e Rocky, bem, é só uma questão de não cair na armadilha de fazer pelos e cabelos tão ruins quanto os cabelos presentes no jogo Avengers.
Às vezes o que precisamos é de alguém que saiba misturar elementos que gostamos num game só. Mas a execução disso é ruim na maioria das vezes, vamos encarar. Então mais do que isso, a gente precisa de pessoas que saibam misturar isso tudo, que cada coisa não soe como uma cópia vagabunda e que todas as coisas sejam coerentes.
O trabalho da Eidos Montreal é tão bom em Guardians of the Galaxy que é impossível não ficar surpreso, pois eu duvido que no geral as pessoas esperassem muito deste jogo, ainda mais depois de Avengers, também pela publisher Square Enix. Desta vez sem a porcaria do desejo de tornar o jogo algo de cauda longa, cheio de DLCs e com microtransações, além de partidas online repetitivas.
O jogo de Guardiões da Galáxia é um jogo singleplayer tão puro quanto um jogo de NES nos anos 80, em que você não precisa de nada mais do que o jogo, o console e a TV. De fora fica a internet, compras adicionais e outros tipos de frustrações relacionadas.
Existe aqui uma mistura de elementos copiados na cara dura de outros jogos famosos, como por exemplo esse minigame de girar e destrancar conexões por trás de tetos, chãos e paredes, copiados sem medo nenhum de Watch Dogs. Quando a obra como um todo é de qualidade, esses tipos de coisas agregam mais do que parecem apelos desesperados para deixar o jogo interessante. Como eu já amava esse minigame do exemplo em Watch Dogs, não há o que reclamar aqui.
Falando em cópia, eu definitivamente enxerguei fortes traços de batalha de Final Fantasy XV em Guardiões. Antes que isso soe péssimo, deixa eu me explicar logo: Em ambos os jogos você só controla um personagem e dá comandos de especiais aos outros, dando um ar forte de tag team a tudo. E não é só isso: alguns inimigos precisam ter sua barra de stagger rompida para ficarem mais vulneráveis ou totalmente vulneráveis (alguns até são indestrutíveis a não ser que você os atordoe). O senso de equipe unida no jogo como um todo remete bastante ao Final Fantasy de 2016, o que encaixa bastante, se formos assistir ao filme de Guardiões da Galáxia.
Ainda na gameplay, acho que é a batalha mais satisfatória que joguei em tempos, exatamente por misturar bem tudo que um jogo em terceira pessoa consegue. No meio da peleja é possível tratar o jogo como um shooter em terceira pessoa, sem mudar layout algum do controle, assim como é possível ficar no brawler, desses em que o personagem tem total peso e captura de movimentos realistas, dando saciedade na hora de executar golpes mais trabalhados.
É uma pegada totalmente diferente de jogos como Devil May Cry, onde os personagens movem seus braços como se não houvesse momento algum, até a zona de impacto. Eu sei que existe um público para as duas coisas, mas no momento, eu fico com o combate que eu consigo ler perfeitamente, aliás, é uma diferença entre Final Fantasy XV. No jogo japonês tudo era um caos com eventuais especiais e esquivas. Aqui eu consigo ler tudo que o meu personagem está fazendo, mesmo que para o resto dos personagens, seja um caos total.
A batalha em si, é sobre mirar e atirar com os gatilhos do controle, comandar seus amigos para executarem habilidades especiais enquanto eles lutam por conta própria, mas você pode e vai querer também usar os botões de face, que são usados para socar, evadir, pular e acionar evento especiais.
Eu não acabei de mencionar outros elementos de outros jogos. A parte de tiroteio, só não é tão parecida com Gears of War porque não traz muretas para se esconder, mas o minigame de recarregar na hora certa, está presente aqui. Se você consegue executar com sucesso, Quill termina a sessão de tiros com um gran finale de tiro, um ponto final antes de partir para a próxima investida. É um pouco difícil mirar corretamente quando isso acontece, mas creio que seja uma questão de “fique bom nisso ou vá pra casa”.
O grande ponto baixo é que pelo menos até o momento em que essa análise foi escrita, um bug assola o jogo. Ele ocorre geralmente quando uma cutscenes precisa começar ou terminar. O que acontece é que… Nada. Não acontece nada e o jogo fica simplesmente parado, inerte, sem prosseguir. Não congelado, mas parece que todo mundo perdeu o cérebro, ou então uma grande tela preta ou branca que nunca vai embora é estampada.
Isso é resolvido depois de recarregar o último checkpoint. Acredito que esse seja um problema fácil de contornar, não parece ser algo que mexe na estrutura básica do jogo, na batalha, na qualidade das partes de plataformas, etc.
Também não consegui acessar o modo com ray tracing. Ele é mencionado nas opções mas não está selecionável. Com certeza um patch também habilitará esta opção, e sinto que tenho que falar da falta deste modo exatamente porque é algo que irá existir e essa análise irá parecer defasada nesse ponto. Para a alegria de milhares, o jogo está com dublagem em português do Brasil e adivinha: os mesmíssimos dubladores dos filmes dos Guardiões!
Não preciso nem dizer que a qualidade dessas performances vocais é a mesma. O Rocky felizmente não cala a boca, só fazendo ele irritantemente mais adorável; Drax nunca compreendendo ironias e ditados, chegando a achar “cheiro de bunda” algo positivo, enquanto a equipe só confirma.
Cada vez mais me convenço de que muitas vezes, jogos mais abertos machucam mais jogos licenciados do que fazem bem. O jogo de aventura linear, sem podermos alcançar e ver o que está por trás de cada montanha, mantém o mistério e prestígio pela obra. Indica que ainda existem respostas, existem elementos que por enquanto vão ficam presos na sua imaginação e nenhum jogo Ubisoft irá preencher esse lugar e acabar com a graça de tudo.
E assim é Guardians of the Galaxy. Quero dizer, o game é uma aventura de ponto A ao B, como Uncharted. Você viaja para pontos que o jogo escolhe, faz um tour e dentro destes lugares, explora as mecânicas de batalha e o carisma dos personagens. E está ótimo assim.
Aqui a estrutura é de estar na sua base, a nave Milano e partir para a próxima “fase”. Sem escolha de qual será. O roteiro leva momento a momento, sem bifurcações. Falando em roteiro, ele se desenvolve de forma humilde e quase mundana – coisa que eu adoro. Olha, você só quer saquear alguns ferros-velhos pra ganhar uma grana e viver na farra.
Você vai supostamente conseguir isso se arranjar um monstro assustador o suficiente para agradar a Lady Hellbender. Só que de cara a Milano entra num local expressamente proibido, sendo repreendido pela Tropa Nova. Sorte sua que, quem comanda essa tropa que o captura é um rosto conhecido – até demais, do Peter.
Então você parte para a missão de conseguir dinheiro suficiente para pagar uma grande multa. No caminho, coisas que não estavam planejadas, ocorrem. Tudo isso, enquanto cada vez mais o carisma de todos os personagens vai se desenvolvendo e você adquire mais habilidades de batalha. Essas batalhas, cada vez mais, são mais intensas, populosas e duradouras, tal como grandes chefes “Metroid-escos” com suas barras de energia que tanto amamos.
O ponto máximo da batalha é quando você tem seu especial cheio. Com o toque de dois botões a equipe se reúne e todos parecem pensativos, duvidosos quanto ao sucesso na missão. Na tela então surgem duas opções, a fim de motivar a equipe. O tom musical de fundo, que mais lembra uma vinheta motivacional criada por Imagine Dragons, dá um toque sutil mas que revela todo o tom épico proposto, num jogo que não se leva a sério.
Se você escolher a melhor das duas opções, a party volta para a batalha com atributos adicionais. Isso tudo não antes de Quill dar o play em seu Sony Walkman e começar a rolar um som nervoso dos anos 80. Eu sempre torço para que role um Never Gonna Give You Up. Uma pena que não se pode mostrar essa composição de cena por completo graças a essas malditas gravadoras de merda.
Esses especiais também são capazes de levantar, dar um “Fenix Down” em toda equipe derrubada. Se você for aquele que é derrubado, porém, é game over. Pode até parecer, mas o game não conta com sistema de nível de RPG. Existe uma barra que é preenchida com pontos ganhos em batalha, mas os números do que seriam níveis, na verdade são pontos de habilidade para serem gastos com habilidades, aquelas que você aplica na batalha, ordenando cada herói. Esses pontos são divididos entre todos da equipe. Cada vez que a barra é cheia, um ponto é adquirido.
Existe uma bancada de melhorias que Rocky pode efetuar em Peter Quill. Essa bancada está presente nas fases e em sua nave. Na nave Milano, você conversa com quem quiser conversar de sua equipe na Milano e depois desce em algum planeta ou outra nave ou estação para explorar com andanças recheadas por conversas e brigas bem-humoradas, com muitas escolhas de diálogo para fazer enquanto anda – sem interromper o que você está fazendo.
Enquanto você coleta peças para fazer seus upgrades em bancadas, você pode achar locais escondidos com tesouros maiores como log files, trajes para cada um da equipe (isso mesmo- sem DLC). Essa exploração irá conter plataforma, pulo duplo com aplainamento ( qualquer jogo com pulo duplo já merece joinha) e também pequenos puzzles. Como em The Lost Vikings, o jogo da Blizzard para SNES, você usa seus companheiros para realizar tarefas diferentes no cenário, a fim de abrir caminho.
Você olha para o local desejado, abre o menu de comando, escolhe quem irá desempenhar a função da vez e manda até lá. Drax pega objetos pesados e os carrega para outro lugar que você especificar. Pode haver mais de um lugar para colocar objetos pesados, a fim de alcançar segredos ou caminhos de progressão. Rocky hackeia coisas, como portas, além de entrar em buracos menores para ter acesso a salas que você não consegue entrar.
Uma vez lá dentro, ele pode abrir portas ou acionar máquinas do lado de fora. Gamora corta cabos com sua espada e também te dá uma mãozinha para acessar certos lugares muito altos. Groot cria vinhas que formam pontes. É importante dizer que, existem lugares pré-definidos para essas coisas, e o Peter Quill irá perceber esses lugares usando seu visor especial e analisando várias coisas ao redor, exatamente como em Metroid Prime.