Ultimamente tivemos muitos jogos indies com qualidades absurdas, direções de arte deslumbrantes, narrativas profundas e emocionantes, repletas de metáforas sobre as coisas da vida real.
Sifu, Kena e Trek To Yomi são exemplos de jogos com pequenos orçamentos, mas com simbolismos gigantes.
Para nossa sorte Hazel Sky chega e prova de uma vez por todas que os vídeo games são formas de arte (caso isso ainda seja alvo de dúvidas), um jogo nacional que nos leva em uma jornada cativante.
O céu é o limite
Em Hazel Sky, iremos controlar o jovem Shane, um aspirante a engenheiro que precisa provar suas habilidades e retornar até a cidade flutuante de Gideon, o game inicia com uma breve introdução sobre a família do rapaz, e mostra seu pai o levando para uma distante ilha.
Ao iniciarmos o gameplay, vamos explorar uma pequena área para termos contato com os primeiros coletáveis do jogo, além de aprendermos um pouco sobre nossa missão, que é construir uma máquina que nos leve para a cidade.
A primeira parte funciona como o tutorial do jogo, mostrando os comandos simples que serão usados por todo o game, podemos correr, saltar, escalar e agarrar coisas, em certas áreas será necessário nadar para superar os quebra cabeças.
Quando completamos o primeiro desafio, que não será difícil, somos literalmente arremessados ao ar em uma cena dotada de certa beleza, no céu azul o logo do jogo aparece, seguindo uma regra que particularmente gosto muito, que é apresentar o nome do jogo depois de sermos inseridos em seu universo.
O voo não dura muito e iremos realizar nosso primeiro pouso forçado, falo isso pois não será surpresa para ninguém, saber que novas tentativas serão necessárias.
Já na nova ilha, iremos conhecer Erin, uma moça que também passou pelos mesmos testes que nosso personagem e ela será nosso único contato durante toda a história. Uma personagem misteriosa que possui comentários curiosos durante todo o jogo.
Com o novo desafio em frente, vamos começar a ver que a beleza desse jogo esconde algo mais profundo, que vai passar por críticas sociais e flertar com o ocultismo.
O misterioso mundo de Hazel Sky
Quando paramos para observar com calma o mundo do jogo, após admirar as cores vibrantes e a estética única, veremos que aqui não possui uma história simples, e que os mistérios que existem vão além do que está acontecendo na cidade flutuante, é necessário atenção para que, aos poucos, possamos entender o significado de certas coisas.
Na jornada teremos contato com objetos simples, mas que aparentam ser raros para Shane, como por exemplo ao acharmos o que ele chama de “fruta esquisita”, o que é uma banana, ou quando ele se espanta em achar uma gaita, e a trata como se fosse uma verdadeira relíquia.
Adentrando mais nos desafios, os achados começam ficar mais bizarros, cadáveres jogados pelas áreas de teste, alguns indicando como foram desesperadores os seus últimos momentos em vida.
Por toda a parte iremos encontrar rádios que tocando mensagens que irão complementar nosso entendimento sobre a história, através deles, descobrimos que um grupo de rebeldes está em conflito com os governantes de Gideon.
Ao escutarmos com mais atenção os rádios, é fato de que um regime autoritário está prestes a ruir em meio aos ataques da oposição, mas esses não são os únicos programas que podemos ouvir.
Música e comerciais também trazem informações, em determinado ponto, um anúncio carregado perturbadoramente de preconceitos, afirma de vez que esse jogo tem seu peso narrativo.
Shane por vezes irá contactar Erin, os dois trocarão informações entre si, não demora muito para percebermos que certas proibições beiram um regime ditador, os dois citam que é errado eles conversarem, em outro momento Erin diz que Shane está cometendo um erro ao simplesmente ouvir música.
A música por sinal tem um papel fundamental na história, ela está ligada ao grande mistério do jogo.
É perceptível o tom de abandono nas ilhas, os animais mortos por algo inexplicável, construções destruídas com indícios de que algo estranho ocorreu, a história é contada em pequenos detalhes, e muita coisa terá mais de uma interpretação para cada jogador.
Os desafios apresentam uma dificuldade quase nula, o foco é de fato a narrativa e a descoberta do universo de Hazel Sky, tudo é muito explicado, quase que didaticamente.
E os desafios são praticamente iguais, com exceção do último. O jogo possui 4 capítulos, e durantes as fases, iremos passar por cavernas, fábricas, plataformas de petróleo etc. Tudo em meio a solidão do das ilhas, a fauna é praticamente inexistente.
Uma coisa que chama bastante atenção, é a temática que beira o steampunk, o que dá uma identidade muito bonita ao jogo.
A Jornada até Gideon
A trama do jogo pode parecer confusa e sem sentido depois da breve introdução, mas cada máquina consertada (e sim, aqui eles chamam qualquer coisa que seja construída para voar, de máquinas) gera uma expectativa do que vamos encontrar na nova fase, navios piratas, ou navios focados para coleta de recursos, são parte dos cenários que poderemos explorar, entre um quebra cabeça e outro, e na busca das chaves que irão abrir novos caminhos.
As ilhas são semelhantes em aparência, o que se destaca são os mistérios de cada uma, na segunda temos esconderijos e minas que guardam mais informações dos engenheiros que ali passaram.
Shane é focado em sua missão, pois deseja ser um cidadão útil para a cidade, isso pode ser confirmado com as citações sobre seguir o projeto (blueprints com nossos objetivos), quando passamos algum tempo explorando o mapa.
E quando Erin fala sobre ter algo de errado com a cidade flutuante, ele questiona se é o certo ir contra seus próprios companheiros. As chamadas máquinas voadoras, possuem forte simbolismo com a personalidade do jovem Shane.
Não só sobre a facilidade de elevar voo, mas em seu desenvolvimento de caráter, isso vai de encontro com a atmosfera do jogo, de que há uma forte crítica à movimentos ditatoriais existentes em nosso mundo, mas que não arrisco citar para não ser injusto com os criadores.
Os livros possuem bastante informações sobre antigos engenheiros e as máquinas que eles criaram, e no meio deles, existem citações a coisas bizarras sobre monstros marinhos e recém-nascidos que acreditavam ser frutos de uma atividade não humana.
O que possui certa similaridade com o que era julgado maldição, simplesmente por não terem conhecimento sobre os assuntos, aqui há até mesmo uma referência ao sentimento que a música gera nas pessoas, algo demonizado anos atrás.
Uma agradável surpresa
Hazel Sky combina de forma excelente gameplay e narrativa, ele não tenta dar um passo maior do que pode, é um jogo honesto e feito com carinho pela equipe, cada detalhe do jogo parece ter sido pensado de maneira que não ficasse apenas algo jogado em tela.
Se fosse apenas um jogo sem história, com diálogos quase inexistentes, mesmo assim valeria a pena jogar, não é estressante, chega ser relaxante jogar e realizar os afazeres do protagonista, por ser um jogo nacional, é gratificante ter algo tão bem-feito.
Em termos técnicos o game não traz nada revolucionário, mas o que ele tem é perfeitamente executado, ao decorrer da terceira fase, a maior delas, todas as mecânicas serão postas em prática.
Um dos pontos mais altos do jogo é a sua trilha sonora, ela deixa a atmosfera do game mais leve, e dá o tom da narrativa, como citei anteriormente.
Entender a proposta ou a mensagem final do jogo talvez seja frustrante para alguns, mesmo terminando o jogo duas vezes, minha interpretação foi algo fora do que eu havia jogado, foi mais para o lado metafórico.
Creio que os criadores quiseram deixar esse tom de “cada um vai entender uma coisa”, isso porque o jogo conta com dois finais, aquele considerado como secreto, requer uma exploração maior por parte do jogador, e igualmente ao primeiro, trará mais perguntas do que respostas.
E não só seu final, durante alguns momentos, o protagonista terá sonhos, e esses nos mostra um outro lado da história, juntando partes da narrativa principal e revelando segredos.
É nítido que o jogo se inspira em obras da fantasia como as fábulas, lendas de piratas etc.
Aos leitores desse simplório texto, recomendo fortemente realizar o final secreto e prestar atenção nas pequenas coisas espalhadas pelo mundo, há momentos que podem ser perdidos, e é muito bom quando eles são presenciados, por mais que não gere recompensa para a trama.
Por fim, Hazel Sky merece os elogios que recebeu desde a divulgação de sua demo, um jogo lindo, uma pena ser tão curto, em pouco menos de duas horas ele pode ser terminado.
Isso para um jogo de puzzle é extremamente curto, dado sua facilidade. O que aumentará esse tempo, será sua exploração e a busca por todos os coletáveis que o jogo apresenta.
Essa análise foi feita com base em uma cópia cedida pelo Coffee Addict Studio, agradecemos a confiança em nossa equipe.