Spider-Man: Miles Morales foi o primeiro grande jogo da nova geração de consoles, lançado juntamente com o lançamento do Playstation 5 em 2020. Apesar de não ter o salto gráfico esperado pelos fãs que recém haviam comprado o novo console da Sony, o jogo foi um grande sucesso tal qual o seu antecessor.
Se bem que chamar Marvel’s Spider-Man (2018) de antecessor de Miles Morales, não é bem o correto. Digamos que seria o meio termo entre uma expansão e uma sequência, algo parecido com o que a Naughty Dog fez com Uncharted: The Lost Legacy.
O jogo foi vendido separadamente em 2020 para Playstation 5, e novamente ocorreu o mesmo com o seu lançamento para PC. E já de antemão, digo que acredito que assim como a Coleção Legado dos Ladrões, que a Sony disponibilizou no PC, bem que poderia ter feito o mesmo com os nossos cabeças de teia.
Equilíbrio e avanço
Logo de cara, se teve uma coisa que eu gostei bastante em Miles Morales, foi o fato de existir um único grande vilão. Diferente do título anterior, onde apareciam muitos inimigos clássicos do Homem-Aranha para gerar grandes confrontos, em ‘Spider-Man: Miles Morales’ só existe um vilão. Há reviravoltas e participações especiais que obviamente não pretendo revelar para aventureiros de primeira viagem, mas nesse sentido o jogo está mais próximo da abordagem de qualquer um dos filmes do Aranha que temos ao nosso alcance.
Miles Morales é uma aventura bem mais cinematográfica do que o seu jogo anterior protagonizado por Peter Parker. Ele se assemelha tanto aos dirigidos por Sam Raimi quanto por Marc Webb, assim como os últimos estrelados por Tom Holland, o Homem-Aranha, que em todos os filmes, o protagonista costuma enfrentar um único inimigo. Exceto em um caso em que há alguns bandidos à solta, alguns deles conhecidos, o jogo faz questão de sempre deixar claro quem é o vilão, mas confesso que não há muitas distrações nesse sentido.
Homem-Aranha: Miles Morales aposta nisso, o que faz a história seguir em uma direção desde o primeiro momento e permite que a Insomniac se expanda em nível narrativo bem mais equilibrado. Sem ter que ficar de olho em várias ameaças malucas, o jogo nos permite viver a vida de Miles Morales de uma forma muito mais íntima. Mas isso também é fruto do excelente personagem que é Miles Morales, que em minha humilde opinião é de longe, o melhor Homem-Aranha já criado.
É perceptível que o estúdio quis aproveitar a oportunidade de contar as coisas de uma forma mais descontraída e profunda do que na anterior, o que nos permite conhecer muito melhor Miles e gostar dele desde muito cedo. É um jogo muito emocionante que consegue algo que poucos outros jogos conseguem: com que nos preocupamos com seus personagens e com o que acontece com eles a todo momento.
Aliás, não quero deixar passar a oportunidade de dizer o seguinte: a primeira meia hora de Homem-Aranha: Miles Morales é provavelmente um dos melhores começos que já vi em um jogo recente e diria que é no nível do que podemos ver em qualquer um dos filmes de heróis da Marvel. Espetáculo puro.
Mais do mesmo mecanicamente
Se por um lado, um maior peso na narrativa é algo que evolui de forma esplendorosa, a nível da mecânica é onde há o menor salto entre Marvel’s Spider-Man e Spider-Man: Miles Morales. Combos, movimentos, esquivas e golpes são praticamente os mesmos. Miles tem um novo poder que lhe permite dar choques elétricos, o que, agora, lhe dá um novo conjunto de movimentos, mas caso contrário, quem jogou o anterior poderá começar a lançar teias de aranha e distribuir socos e pontapés de olhos fechados, sem oferecer nenhum novo desafio.
Balançar por Nova York de ponta a ponta ainda é uma experiência fabulosa. A cidade está incrível e, assim como em Marvel’s Spider-Man, ainda dá vontade de ficar em pé em cada telhado para contemplar tudo com calma. Os quebra-cabeças, por outro lado, são os menos inspirados do jogo. Ao longo da história, você não precisa necessariamente resolver quebra-cabeças um pouco mais complicados como os que existiam na edição anterior que nos fazia perder muito tempo mexendo os circuitos, por exemplo, mas os que temos que resolver, praticamente todos eles estão relacionados à eletricidade, são muito simples.
Os combates, por outro lado, são extremamente satisfatórios, assim como eram no anterior, mas é verdade que os movimentos finais para acabar com os inimigos aumentaram vários pontos de espetacularidade. É muito fácil realizar longas coreografias para acabar com grandes grupos de inimigos: esquivando-se, desarmando-os, jogando-os para o ar, paralisando-os com teias de aranha e muito mais, é executado com grande velocidade, simplicidade e espetacularidade. Confira um trecho da gameplay.
Durante o jogo teremos uma série de materiais que nos permitirão desbloquear fantasias e gadgets, além de fazer melhorias de todos os tipos. Há também uma árvore de habilidades com três ramos diferentes que podemos subir com os pontos de habilidade ganhos. Muitos trajes vêm com vantagens e os gadgets podem ser atualizados de várias maneiras. No final das contas, a curva de evolução do jogo trata-se de ter o maior número de possibilidades ao nosso alcance e montar as builds que melhor se adequam ao nosso estilo de jogo.
De qualquer forma, e isso já aconteceu no jogo anterior, não é necessário melhorar tudo ao máximo ou enlouquecer com esse tema para aproveitar a experiência do jogo, pois com os conjuntos básicos de movimentos do personagem é possível sair de qualquer situação de forma tranquila. O que não significa que a um nível mais visual e espetacular estejamos interessados em desbloquear tudo. No meu caso, passei pelas missões principais sem parar de coletar colecionáveis para obter materiais e mesmo assim acabei desbloqueando quase todos os três ramos da árvore de habilidades, além de vários trajes e melhorias.
Para os amantes da platina, o mapa vai se enchendo gradativamente com mais e mais ícones de todos os tipos com objetos para coletar ou desafios para realizar. Se a história me levou cerca de 9 horas, acho que completar tudo 100% poderia ser, a olho nu, por volta das 13h ou 14h. Com jogos de mundo aberto fica difícil ajustar muito com os tempos, cada um vai decidir quanto quer se dedicar a cada coisa e em que ritmo avançar.
Um port para PC bem completo
Assim como em Marvel’s Spider-Man, que teve seu port para PC lançado em agosto de 2022, o novo jogo da franquia chega 3 meses depois com Miles Morales tendo o mesmo conteúdo técnico. Por se tratar de jogos que poderiam facilmente ser vendidos juntos em um pacote, era normal que esperássemos que não tivesse nenhum grande infortúnio que fosse quebrar a boa experiência que tivemos no port de Marvel’s Spider-Man.
As configurações que usamos para jogar este port, foram as seguintes:
- Placa de Vídeo: RTX 2070 SUPER
- Ram: 16GB
- Processador: Ryzen 7 3800x
- SSD NVME
Em nossos testes, o jogo rodou a suaves 60 fps em 1080p com Ray Tracing ligado e DLSS no modo qualidade. Fazendo upscalling para 1440p, o jogo teve uma queda no desempenho, fazendo com que eu tivesse que travá-lo em 30FPS para conseguir algo estável. Ao testar em uma TV 4K de forma nativa, foi preciso fazer ajustes maiores para conseguir os 30fps estáveis.
O Ray Tracing teve que estar na menor das configurações e o DLSS no modo desempenho. Mas ainda assim, era possível notar algumas quedas de desempenho. Mas ao retirar o Ray Tracing, o jogo se comportou de forma magistral com 60fps cravados em 4K e DLSS ligado no modo qualidade.
Em resumo, o port se comportou muito bem em nossos testes, já que ele recomenda no mínimo uma RTX 3070 para conseguir ter 4k@30FPS com Ray Tracing ativado ou uma RTX 3080 para alcançar o 4K@60FPS nas mesmas configurações.
Assim como nos demais ports lançados pela SONY para PC, Spider-Man: Miles Morales também conta com suporte à resolução ultra-wide, onde é possível jogá-lo de forma nativa em monitores com suporte para proporções 21:9, 32:9 e até 48:9, caso use três monitores nessa última. Além dos já mencionados Ray Tracing e DLSS, o jogo também conta com suporte ao DLSS 2.0, que é uma tecnologia exclusiva para as novas placas de vídeo da NVIDIA, o NVIDIA DLAA e o NVIDIA Reflex.
Vale a pena?
Spider-Man: Miles Morales é realmente espetacular, assim como seu antecessor, se jogado em um SSD, não há telas de carregamento e tudo funciona na velocidade da luz, o que significa que todas as partes do jogo, tanto as de ação quanto as narrativas mais calmas, estão perfeitamente interligadas e fluem organicamente. Os gráficos continuam espetaculares, principalmente se você jogar com Ray Tracing ligado e continuar se pendurando pelos prédios cheios de vidros de New York.
O jogo é muito contínuo em sua mecânica e na forma de lidar com a ação, o que não é ruim justamente porque sabemos de antemão que não é uma continuação, mas sim uma forma de expandir o anterior com um novo protagonista e um pequeno arco de história muito mais emocionante e com várias reviravoltas interessantes.
Posso dizer com segurança que se você aproveitou ao máximo Marvel’s Spider-man, vai adorar ainda mais Miles Morales, por todos os motivos que já citei neste texto, e os que você irá descobrir por conta própria. E acho que, na realidade, é um jogo com uma importância maior do que parece ter à primeira vista, sobretudo ao nível da inclusão.
Muitas pessoas que não costumam ser representadas em jogos encontrarão seu lugar aqui. E isso faz com que Miles Morales seja não só o meu Homem-Aranha favorito, como a partir de agora, é dono do melhor jogo do Homem-Aranha que já tive a oportunidade de jogar, mesmo sabendo que mecanicamente ele não entrega nada de novo em relação ao seu antecessor.