Oh pecadores… alegrem-se, pois a guerra entre o Inferno Ardente e o Paraíso paira sobre nossas cabeças novamente. A batalha entre anjos e demônios retorna com Diablo 4 e nós, pobres mortais, temos um destino a cumprir: TORRAR O PRÓPRIO CÉREBRO GRINDANDO E VARANDO A MADRUGADA!
Passei bastante tempo na frente do meu Xbox Series S nos últimos dois fins de semana de março, mas certamente foi por um bom motivo e pelo qual espero há anos, porque a Blizzard finalmente nos deixou provar um pouco de um dos lançamentos mais aguardados do ano. O primeiro fim de semana do beta só esteve disponível para aqueles que reservaram com antecedência uma cópia do próximo e promissor capítulo da saga. Mas o fim de semana seguinte, por sua vez, democratizou o uso aos pecadores que puderam embarcar em uma jornada que poderia ter o nível do seu personagem elevado até o nível 25.
Como um jogador da franquia de longa data, pensei que esse momento nunca chegaria. Mesmo assim, o que eu mais queria era poder ver com meus próprios olhos exatamente quais novidades haviam sido implementadas e se realmente era o salto que os fãs tanto esperavam. Bem, depois de passar horas e horas matando criaturas demoníacas, o que posso garantir é que estou contando os dias até seu lançamento mais do que nunca.
Livrai-nos do mal
A Filha do Ódio, Lilith, voltou ao Santuário para se reunir com todos os seus pequeninos, apresentando-se diante de nós em toda a sua glória sangrenta. Antes de entrar no beta, não estava muito claro pra mim o que iria encontrar, além de saber que iria se passar na parte do primeiro ato, por isso uma das minhas maiores surpresas foi a impressionante cinemática que aparece logo de cara e coloca um pouco de contexto na história e que é o mesmo para qualquer personagem que você escolha.
Como de costume, a Blizzard mais uma vez nos dá uma aula incrível de como criar as cinemáticas mais impressionantes. Não só por esta que surge logo no início, mas também por outra que surge um pouco mais tarde em que Lilith, a grande vilã deste capítulo, é apresentada pela primeira vez. Não vou estragar muito este momento porque vale a pena testemunhar por si mesmo, mas o realismo mostrado é de cair o queixo.
Após a apresentação da filha de Mephisto, foi a vez de recriar nosso herói como nos capítulos anteriores, podendo escolher entre Feiticeira, Bárbaro ou Ladino no primeiro fim de semana de beta, e Necromante e Druida que foram adicionados no fim de semana seguinte.
A personalização não é das mais completas que você irá ver, mas cumpre-se de uma forma mais que suficiente até começarmos a vestir todo o tipo de roupa que encontramos após matar demônios, abrir baús ou comprar no mercado armaduras com algumas lantejoulas com ouro forjado no próprio calor do inferno.
Ao iniciar a jornada, os primeiros passos por esta terra gelada levam-nos a seguir o rastro de Lilith, cujos planos nos sãos desconhecidos, mas graças a um acontecimento inesperado poderemos descobrir com pouco tempo de jogo. A narrativa característica da saga Diablo logo entra em ação e promete nos dar uma boa história. Uma história, sim, muito mais madura que parece verdadeiramente épica.
Ainda há muita lenha para queimar neste assunto e confesso que eu não quis me aprofundar muito nos inúmeros diálogos com vários personagens que estavam nesta parte inicial do beta. Sinto que poderei aproveitar com muito mais tranquilidade a história mais profundamente quando o jogo finalmente for lançado. Mas pelo que foi apresentado neste beta, as ideias e o enredo incorporados até agora funcionam muito bem.
Aqueles familiarizados com o folclore da franquia estarão cientes da trama envolvendo Lilith e o arcanjo Inarius. O improvável par formou o Santuário eras atrás, e agora o despertar do antagonista mais uma vez virou tudo de cabeça para baixo após os eventos de Diablo III: Reaper of Souls.
De imediato, a primeira Mãe é apresentada ao jogador como uma personagem com grande potencial em termos de desenvolvimento e motivações que consegue se conectar muito bem com tudo o que aconteceu até aqui no mundo desta franquia.
Você não vai querer escapar do santuário
Diablo 4 é sombrio, sombrio e muito sangrento… o que eu particularmente achei maravilhoso. A história anda de mãos dadas com esse tema sombrio, mas tudo o que envolve o desenho artístico deste novo título se encarrega de dar-lhe uma forma requintada que o torna um digno herdeiro de uma das maiores franquias do mundo dos jogos.
O Santuário é muito “triste” e seus infelizes habitantes se encarregam de deixar claro enquanto o próprio cenário e o clima indicam que o que nos espera não vai ser um passeio no Beto Carrero World. O prólogo e o Ato 1 disponíveis nesta versão beta ocorrem em Broken Peaks, um bioma gelado e que claramente não vê o brilho de uma primavera há muito tempo. A neve dá um aspecto medonho a tudo à nossa volta, mal vemos a luz do sol nas primeiras horas e apesar de as tochas brilharem nas masmorras, onde há luz, as sombras florescem… tal como os bichos que nelas habitam.
Falando puramente sobre as missões principais, podemos assim dizer que continuamos com o velho padrão desse gênero e que fez Diablo se tornar o sucesso que é: além de seguir a missão principal, você irá aceitar dezenas de missões secundárias os habitantes das diferentes povoações que se encontram nas redondezas irão te atribuir, e que servem para conhecer as histórias dos seus habitantes, para acrescentar um pouco mais de fundo a este universo e claro, para ganhar mais experiência, novos equipamentos e outros itens.
Claro, não espere muita variedade entre essas missões em termos de objetivos, porque a grande maioria consiste em ir a lugares para matar um grupo de inimigos. De qualquer forma, o Santuário é incrível por causa de quão colossal ele é. É o maior de toda a saga e só pudemos ver parte do primeiro ato, então não quero imaginar como será quando você puder ir livremente para qualquer outro lugar.
O que não me convenceu em nada, são as tradicionais Dungeons. Me parece que ao longo de todos esses anos, a Blizzard sequer tocou nessa parte do jogo, e acredite, você irá gastar muito tempo explorando-as. Nem mesmo na variedade de objetivos a se fazer dentro das dungeons houve evolução. Temos no mercado alguns jogos que já conseguiram adicionar elementos para incorporar no gameplay dentro das dungeons, como é o caso do jogo Lost Ark, lançado em 2022 no ocidente.
Essas Dungeons que foram apresentadas neste beta, mostram algo bem simplório quanto ao seu level design. Isso fica explícito após visitar algumas delas, pois o desenho das masmorras não é muito diferente de uma para a outra, então parecia que eu estava sempre dentro da mesma. Mas já fica aqui o aviso: é melhor você ter tempo ao entrar em um deles, porque são as áreas onde você passará um belo tempo devido ao considerável tamanho que elas têm, com centenas de inimigos para derrotar e o objeto ocasional para localizar.
Uma jogabilidade refinada e prazerosa
Se Diablo nos ensinou alguma coisa, é que onde quer que esteja qualquer demônio, devemos mandá-los de volta para o Inferno. Para realizar esta tarefa, no primeiro fim de semana eu escolhi a classe de Bárbaro, o que pra mim já seria algo novo, pois jogar Diablo com uma classe onde o combate é predominantemente corpo-a-corpo jamais foi minha primeira, segunda ou terceira escolha. Sempre preferi classes com combate à distância e de preferência com o uso de magia.
Usando o Bárbaro eu tive uma dificuldade que não estava esperando em um início na franquia. Muito, claro, porque logo de cara você como Bárbaro não tem muitas habilidades para um dano em área, aumentando o tempo dos combates contra mobs simples do jogo. Com o tempo, as coisas vão ficando mais equilibradas, mas não mais tranquilas. Principalmente contra alguns bosses.
Tudo o que definiu a saga está lá: generosas árvores de habilidades, um amontoado de loot, uma obrigação quase que moral de manter movimentos constantes para evitar o seu fim, hordas de inimigos e customização diabólica em termos de armas e materiais. Algo positivo é que a própria árvore de habilidades, com um design muito intuitivo na hora de aumentar, oferece a possibilidade de reembolsar os pontos obtidos com base no nivelamento, o que permite experimentar todas as combinações que você deseja a qualquer momento para montar a sua build perfeita.
Pulando para o segundo final de semana de beta, eu optei por testar o extremo oposto ao Bárbaro. Joguei usando a classe de Necromancer. E não, nem estou falando no sentido de usar uma magia negra da vida para ressuscitar os mortos ao invés de esmagar cabeças de demônios com minhas armas de corpo a corpo. É que se de um lado o gameplay com o Bárbaro você precisa, pelo menos no início, ter que lidar com mais adversidades e tomar um pouco mais de cuidado antes de descer o pau nos bichões, do outro, você tem o Necromancer onde, de fato, podemos dizer que pelo menos por enquanto, é o “Easy Mode” de Diablo IV.
Não demorou muito tempo para eu obter todos meus slots de habilidades disponíveis para meu Necromancer, e com pouco tempo além eu já estava esmagando dezenas de demônios em um piscar de olhos. Enquanto upar meu Bárbaro me levou algumas boas horas, eu tive a sensação de que usando o Necromancer eu consegui fazer toda progressão que fiz com o Bárbaro em pelo menos metade do tempo. E isso envolve matar alguns chefes logo no primeiro combate, coisa que eu tive que tentar umas duas ou três vezes de Bárbaro.
Mas se tem uma coisa que eu jamais me imaginaria dizendo há 20 anos em relação a Diablo, é que jogar ele com controle é muito mais confortável. Se Diablo 3 já havia sido portado de forma magnífica para consoles e me fez passar a admirar muito o uso de controle ao invés do bom e velho teclado e mouse para jogá-lo, Diablo 4 elevou ainda mais o sarrafo e melhorou o que já estava muito bom.
Diablo é um jogo rápido, e que demanda muita repetição de botões. Testando ele em meu Series S, eu notei que tive sessões de jogatina muito mais confortáveis em meu sofá a uma distância considerável da televisão, do que em relação a estar sentado diante de um computador. Repito: eu jamais imaginaria que eu diria isso, mas recomendo fortemente a quem não provou esse conforto, testar Diablo 4 no controle por pelo menos uma vez.
Está apenas começando!
Este teste confirma o que temos visto pouco a pouco a cada diário de desenvolvimento do jogo. O potencial de Diablo IV é imenso e o demonstra claramente em praticamente todos os aspectos que vi até aqui. E ainda temos muito o que ver e aprender, como será que estarão nossos personagens após o nível 50, o endgame, aspectos como o pvp, mercado, entre outros.
Obviamente, o beta revelou algumas fraquezas e ainda há coisas para corrigir(ainda há textos em inglês que são colocados do nada ao jogar em Português, algumas classes precisam de uma revisão e as dungeons poderiam ser melhores). Além disso, o acesso ao beta poderia ter sido melhor. É como se a franquia fizesse jus ao nome, pois enfrentei um verdadeiro inferno às vezes devido a longas filas, desconexões ou atrasos rollbacks. E claro, resta saber como o temido passe de batalha e outros sistemas distantes da mais pura jogabilidade e história são implementados. Não tem como não ficar cauteloso quanto a monetização do jogo que já é caro, dado o histórico da Blizzard neste assunto.
Em resumo, as primeiras impressões que Diablo 4 me deixou não poderiam ter sido mais positivas. É claro que este beta não mostrou todas as suas cartas e teremos que esperar a versão final para estabelecer um veredicto claro, mas as 35 horas ou mais que joguei ao longo das duas semanas de beta, passaram voando e me deixaram com mais vontade ainda de sentar e jogar novamente.