O ano é 2013 e uma nova franquia de sucesso debutava em um console da Sony. The Last of Us logo de cara ganhou o gosto do público e da crítica, e consequentemente levou consigo diversos prêmios de jogo do ano.
Os anos se passaram e o jogo se tornou ainda maior, mais popular e atingindo fãs ao redor do mundo. Isso se solidificou ainda mais com a sequência do jogo que chegou em 2020 e com a adaptação em live action para a TV. É fato que The Last of Us é hoje uma das marcas mais poderosas do mundo dos videogames, e com todo merecimento possível.
Mas calma aí, que eu vou contar um pouco sobre a minha relação com a franquia. Quer dizer, se é que podemos chamar de relação, afinal eu só pude colocar as mãos em The Last of Us pela primeira vez, agora, quase 10 anos depois de seu lançamento original para Playstation 3. De lá pra cá, eu evitei de todas as formas assistir gameplay, assistir conteúdo que mostrasse cutscenes do jogo para evitar spoilers, etc.
Após a Sony começar a portar seus jogos para o computador, que é minha plataforma principal, pois nunca tive um console da Sony, veio a minha grande esperança: The Last of Us iria chegar para PC. Cedo ou tarde, mas iria chegar. Demorou, mas ele chegou. Se bem que chegar não é a palavra certa, e claro, eu vou te contar os motivos pelo qual The Last of Us, mesmo que apesar de estar sendo vendido, ainda não chegou de fato aos computadores.
Um port mais perigoso do que o fungo
Foram dez anos aguardando jogar essa que é considerada por muitos, uma obra-prima dos videogames. Após assistir a série, eu estava pronto para finalmente ter em mãos pela primeira vez esse jogo tão aguardado por mim e por muitos outros usuários de PC. Mas antes mesmo de eu poder colocar as mãos nele, eu já havia visto toda repercussão durante a tarde em que o jogo foi lançado, e eu só consegui abri-lo pela primeira vez à noite. Então eu já estava a par da situação em que o jogo se encontrava. Restava saber se eu seria um dos azarados, ou não.
Eu sento na minha cadeira, clico no botão de jogar e torço para que funcione. Eu suspiro profundamente. Preparo-me para o pior, e não me refiro àquele cenário pós-apocalíptico brutal imaginado pela Naughty Dog, mas para enfrentar como ele chegou ao PC. Ou melhor, de que maneira. Porque, apesar de ter sido lançado oficialmente, atualmente é impossível aproveitar a jornada emocional de Joel e Ellie com mouse e teclado (ou DualSense). Algo que dói o dobro, ainda mais, depois de um remake que foi muito elogiado no PS5 e mais ainda quando o jogo chega na sequência do interesse gerado pela bem-sucedida série da HBO.
O motivo pelo qual eu só consegui jogar o jogo quase meio-dia após ele ter sido lançado, é que tal qual um jogo de décadas atrás para PC, ele ainda requer que você aguarde a compilação de shaders. Até então, eu já estava acostumado, pois todos os ports de jogos da Sony requerem a compilação de shaders na primeira vez que o jogo abre(ou após um grande update). Hoje no mercado, eu só conheço Call of Duty e os ports da Sony que ainda exigem isso, ou seja, não é algo padrão. Mas tudo bem, sem problemas. Para quem já esperou 10 anos, alguns minutinhos com o jogo “carregando” pela primeira vez, não seria problema. O problema é que esses minutinhos se tornaram dezenas de minutos. E depois horas. O jogo levou 2 horas para compilar os shaders iniciais pela primeira vez. E detalhe: ele estava instalado em meu SSD. Uma curiosidade, é que a Steam permite que você teste um jogo por até 2 horas até que você possa pedir reembolso dele caso não goste. Então imagina só que o prazo que a Steam coloca para você decidir se quer ou não jogar algo, foi gasto exclusivamente para o jogo carregar.
Eu optei por deixar o PC ligado, fui passear com minha cadela na rua, voltei, tomei banho, assisti alguma coisa e após duas longas horas, lá estava The Last of Us pronto para eu aproveitar. Ah, como eu estava enganado. A minha frustração começou no primeiro segundo de cutscene do jogo, onde os personagens ficaram travados na tela e suas vozes se repetiam. Reiniciei o jogo e tentei novamente, mas sem sucesso. As cutscenes, algo pré-renderizado, onde você não tem interação alguma, que consequentemente é um ambiente controlado, foi a primeira pá de terra que The Last of Us Parte 1 havia colocado em minha vida. E eu mal imaginava que tinha muito por vir.
Eu ainda estava querendo me enganar, então aceitei colocar um walkthrough do jogo no Youtube só para ver a cutscene inicial, já que comigo ela não funcionava. Após assistir a cutscene no Youtube e pular ela no meu jogo, finalmente pude controlar Joel pela primeira vez, e bem, não durou mais que 30 segundos e o meu jogo fechou. A taxa de quadro ao longo desses 30 segundos variava entre 25 e 40 frames por segundo. O que já demonstrava o quão problemático o jogo já estava a ser. Eu não havia mexido em nenhuma configuração gráfica até então e deixei tudo no preset que o jogo recomendou para mim.
Para fins de testes para trazer mais conteúdo para esse texto, eu também já estava com o desejo de testar o jogo no Steam Deck, que é notoriamente um hardware bem mais fraco do que meu PC. Mas se eu pude rodar jogos como God of War, Red Dead Redemption 2, Resident Evil 4 Remake, entre outros, é claro que eu queria também poder jogar The Last of Us de maneira portátil. Após 3 horas com meu Steam Deck ligado para The Last of Us compilar os shaders pela primeira vez, eu abri o jogo nele e o jogo iniciou em sua primeira cutscene(outra vez bugada e em um hardware diferente) com as temperaturas de GPU e CPU acima de 93 graus. Como provavelmente não está no contrato de uso do jogo que a Sony iria me dar outro Steam Deck caso ele explodisse, eu optei por fechar o jogo e não abri-lo mais no aparelho.
Foram mais dois dias seguintes de patches diários que, segundo o patch notes, corrigia dezenas de bugs e problemas de desempenho. E cada patch era uma esperança a mais após abrir o jogo novamente. Mas parece que quanto mais a Naughty Dog em conjunto com a Iron Galaxy, responsáveis por este port, mexiam no jogo, mais problemático ele se tornava.
A experiência mais desastrosa que já tive em pc gaming
Sou usuário de PC há mais de vinte anos e desde então, todos os anos pude jogar a maioria dos principais jogos lançados para a plataforma que eu uso como primária em minha vida de amante de videogames. Já passei por muitos lançamentos conturbados, como Diablo 3, Battlefield 4, No Man’s Sky, Fallout 76, Batman Arkham Knight, Cyberpunk 2077, entre outros. Em todos esses jogos, tive a experiência com bugs, saves corrompidos, problemas de desempenho, de conexão e tudo mais que você possa imaginar. Mas em nenhum desses casos, eu tive a experiência de quase perder meu hardware.
Após decidir que eu iria jogar The Last of Us independentemente dos bugs e dos problemas de desempenho, com a finalidade de escrever esse texto, eu abri o jogo novamente e para o meu desespero, o meu inferno estava começando logo em uma manhã de sexta-feira. Antes mesmo de chegar na tela de menu principal, o meu computador desligou. Assim, sem mais nem menos, ele desligou. Fiquei surpreso, e ao mesmo tempo angustiado, já que após eu tentar ligar novamente o meu computador, a ventoinha da minha placa de vídeo iniciou na velocidade máxima e com um barulho ensurdecedor. Para o meu desespero, o computador por sua vez, não ligou. Ele simplesmente não dava tela. Como um grande pessimista que sou, já comecei a imaginar o pior: minha placa de vídeo havia morrido?
Com as mãos tremendo, eu desconectei a minha placa de vídeo do computador, e o liguei novamente, dessa vez para iniciar direto na placa de vídeo integrada, e ele ligou sem problemas. Eu ainda estava incrédulo, me perguntando como que um jogo poderia fazer isso com um hardware, ao mesmo tempo que estava preocupado com a vida da minha placa de vídeo. Após desligar o computador, tomar um copo d’água e tentar me acalmar, eu voltei a conectar a placa de vídeo e ligar o computador novamente, e para o meu alívio, tudo voltou a funcionar.
Mas eu ainda queria tirar a prova de que de fato havia sido The Last of Us que havia causado esse infortúnio. E novamente, para fins jornalísticos para esse texto, eu abri novamente The Last of Us, e poucos segundos depois: tela preta e computador desligado. Refiz o mesmo processo que havia feito anteriormente e o computador voltou a vida. Mas eu me recusei a abrir novamente um jogo que coloca em risco, pelo menos no estado atual, a integridade do meu hardware.
Como eu sabia que o jogo estava lotado de problemas, fui nos fóruns em busca de usuários narrando a mesma experiência que eu tive, e para minha surpresa, tem vários. E dos mais variados tipos de combinação de hardware que possa existir. Independentemente de ser high-end ou low-end, a verdade é que muitos usuários estão nos fóruns relatando a experiência de The Last of Us estar desligando os seus respectivos computadores. Problemas derivados de uma conversão desastrosa que ofusca uma obra-prima. A um jogo que vem conquistando à mão, com base na excelência, um merecido lugar entre os melhores já produzidos pela Sony, mas que infelizmente vai ficar marcado como um dos piores lançamentos para PC na história.
É muito difícil aproveitar a essência quando o jogo está tão mal otimizado. E não é por ser exigente, mas porque não é aceitável que um dos carros-chefe do PlayStation Studios o receba em desktops com a mensagem de que ele foi fechado de forma inesperada pela última vez e pedindo que você o reinicie em modo de segurança.
De fato, esta não é a obra-prima da Naughty Dog oferecida aos jogadores da plataforma mais exigente e poderosa, muito menos para aqueles que esperaram dez anos pela jornada de Joel e Ellie no PC.
Frustração para fãs novos e antigos
Digamos que você, assim como eu, não tenha jogado The Last of Us. Ou, pior ainda, que você jogou muito. Que você é extremamente fã da saga, sabe de cor e até já jogou o remake no PS5 novamente motivado pela série da HBO. O golpe que você leva ao iniciar a versão para PC é extremamente frustrante. Principalmente ao ver como tudo o que a Naughty Dog conquistou se dissolvendo bem debaixo do seu nariz. Porque o problema da versão para PC não é o conteúdo. Não é a história. Nem sequer são os personagens nem a abordagem do jogo. Isso ainda está lá.
O que realmente prejudica tudo isso é como o Iron Galaxy, a quem devemos o desastre de Batman Arkham Knight no PC, em vez de imergi-lo totalmente em uma experiência de sobrevivência com uma grande profundidade emocional, constantemente o tira do jogo. A imersão que a Naughty Dog conseguiu construir, é arremessada no chão. Às vezes baseado em uma atuação desastrosa e outras no sentido mais literal da expressão. Existem soluções, para constar, como fazer ajustes específicos diretamente nas configurações de sua placa de vídeo, ou até mesmo modificar arquivos do jogo para compensar o que não funciona. Mas não deixa de ser isso: um conserto. E ter que consertar algo que não é sua obrigação fazê-lo, é muito frustrante.
O grande problema da versão para PC de The Last of Us Part I é que a versão diante de nós parece ter montado as mesmas peças da Naughty Dog no PS5, mas ao invés de dar um polimento especial, com aquele cuidado que ela exige.
Configure, conserte e jogue(?)
Aqui está uma palavra de advertência: se o seu PC exceder ou estiver de acordo com os requisitos do jogo, pense bem, e então crie coragem para executá-lo. É preciso superá-los com muita amplitude, e mesmo assim eu diria que podemos nos encontrar diante de um coco muito difícil de quebrar que vai depender de mais do que um simples remendo. Com a minha atual configuração de sistema, eu deveria, no mínimo, rodar o jogo em 1080p e 60 FPS na qualidade mais alta, e jamais consegui.
O jogo obriga você a gastar muito tempo mexendo em suas configurações, e nem todo mundo está disposto a fazer isso. É normal, não há homogeneidade no PC, muito menos no videogame em geral. Limitar o FPS a 60 e não tocar nessa opção até o final do jogo, é o melhor conselho que posso te dar. E embora possa ainda assim ser impossível conseguir rodar a 60 fps para muitos de vocês, se você não conseguir estabilidade, limite-o em 30 ou 40 FPS e quem sabe assim, você evite alguns problemas maiores. Problemas que nesse caso seriam de superaquecimento do seu processador e placa de vídeo, o que consequentemente faz com que o computador desligue sozinho por precaução. Os bugs nas cutscenes e no gameplay, além do insuportável stutter, continuarão lá, e cabe a você decidir se joga assim, ou prefere esperar com que ele seja consertado ao longo do tempo.
O consumo geral de VRAM é escandaloso. Nenhuma das minhas configurações passaram da qualidade alta. Muitas delas, como sombras ou ajustes de ambiente, tiveram que se contentar com o médio e baixo. Mesmo com tudo, o consumo de RAM fica próximo aos 20 GB com resolução de 1080p. Ou próximo de 25gb com a resolução de 1440p e DLSS no modo Quality, que corta a resolução para manter alguma estabilidade. E o VRAM não fica atrás. Para se ter uma ideia, subir essas já citadas Texturas de Ambiente de Médio para Alto, algo que melhora a qualidade visual, implica no uso de 800 Mb apenas nessa configuração. Não é um jogo, pelo menos no estado atual, para todos e você precisa de um PC com um hardware muito bom para que funcione. E veja bem, não estou dizendo que vai ser o ideal, apenas que ele pode funcionar.
Todas essas configurações você pode fazer na página de gráficos do jogo, que é extensa. É uma das maiores que já vi em toda minha vida de PC Gaming. As opções gráficas que o jogo te permite escolher vão dos que já estamos acostumados, até um vasto número de opções “inúteis” que modificam minimamente a experiência visual.
Entrando nas opções, encontramos os já famosos DLSS e FSR, ambos em sua versão mais atual (FSR 2.2 e DLSS 3.1.2.0.), vários ajustes para mexer com ray tracing, muito importantes visualmente; e os mais conhecidos que atacam texturas, iluminação e efeitos volumétricos. São essas duas últimas opções que realmente marcam uma linha divisória entre as plataformas como uma importante diferença visual. Parece óbvio considerando que, pelo menos basicamente, o PC é mais poderoso, mas como não se limita aos “limites” do console, a nitidez, potência e resultado das sombras, iluminação e como isso afeta as cenas escuras e o os reflexos são mesmo muito difíceis de ver. Eles fornecem um visual espetacular ao jogo e que quando funciona, enche os olhos.
O acabamento visual pode ser comparado à versão mais alta do PS5 (Fidelity Mode), mas com a margem e a fluidez que o FPS desbloqueado oferece. Claro, nem pense em subir ou descer de uma configuração em Médio-Alto. Apostar em presets gráficos neste jogo significa ter pesadelos, garanto. Há um grande problema na construção deste port. Não quero cair no óbvio deste texto que é “estar quebrado”, mas o fato é que reduzir a qualidade visual significa ficar com um acabamento pior que a própria versão de PS3, lançada há 10 anos, e é preocupante. Já os segmentos Ultra ou Muito Alto consomem mais do que oferecem. Com um bom olho você pode ver como eles superam o PS5, mas não recomendo ir além em nenhum caso. Nem por curiosidade.
Aguarde o jogo ser consertado para jogá-lo
O problema de TLOUS são todos problemas visuais? Sim e não. A nível de conteúdo é um jogo impecável que te prende logo de início. O problema com The Last of Us Part I no PC é como ele repentinamente tira você da experiência. Após 10 anos aguardando ter a experiência emocionante que todos meus amigos tiveram quando o jogaram em um Playstation, optei por esperar ter uma experiência boa com ele. Mas até que chegue um grande patch que conserte tudo, o que temos em mãos hoje é uma decepção.
Isso não quer dizer que não haja novidades, porque há. Se você tiver um monitor ultrawide, é sempre algo atrativo. E se você tiver o DualSense, também poderá aproveitá-lo conectado ao seu PC. Mas independente de qualquer algo a mais, hoje é uma experiência frustrante tentar jogar esse aclamado título no PC.
Posso ter sido muito exigente, mas acho que a própria grandeza do título, pede que elevemos mais um pouco o sarrafo. Principalmente quando no estado atual que se encontra, ele é um perigo para o hardware do usuário. Joel e Ellie definitivamente precisavam ser levados além do PlayStation, mas não assim. Não dessa maneira. Não depois de entregar um remake bem aclamado que restaura e faz o original parecer um jogo totalmente novo. Não depois de ter causado um fenômeno televisivo que bateu recordes de audiência.
The Last of Us não precisava se provar, sequer precisava de marketing para se tornar um sucesso de vendas no PC. A Sony só tinha um trabalho para obter um grande sucesso no PC e se tornar um dos títulos mais vendidos do ano na plataforma. E, no entanto, esse único trabalho não foi cumprido. E dói. Quem nunca sonhou em ver The Last of Us no PC? Bem, cuidado com o que você deseja, porque às vezes isso se torna realidade.