Imagine um jogo que começa de maneira leve, como se estivesse prestes a nos contar uma história sobre dois irmãos, algo bastante parecido com os contos de fadas que costumamos ouvir quando ainda crianças.
Mas aos poucos ele vai revelando sua verdadeira intenção, e leve é uma palavra que passa longe. Desde Little Nightmares, uma obra não me deixava tão vidrado em sua narrativa sombria, onde tudo é perigoso e a tragédia se faz presente na vida de Olle e Lillemor.
Em uma floresta escura…
Quando ouvimos os contos de fadas (pode imaginar aqueles bem famosos) sempre são histórias sobre uma princesa, ou um jovem que deve salvar a donzela, e apesar de ter perigos e até mesmo um pouco de violência, sempre é algo leve que nos deixa uma mensagem positiva, em Bramble: The Mountain King, talvez reste somente a mensagem, pois o resto é brutal.
E digo brutal com bastante força, iniciamos de uma forma tranquila, Olle acorda e sua irmã Lillemor não está no quarto, preocupado com ela, ele decide sair e verificar o que aconteceu, então o jogo começa.
Em um mundo com jogos que entregam gráficos que beiram a realidade, Bramble pode não impressionar os mais exigentes, mas vai encantar os admiradores de uma boa direção artística, no caminho pela floresta é possível ter uma boa noção da qualidade do jogo, um belo jogo de sombras que dão um charme especial para a obra, além de criar uma atmosfera sombria, uma junção perfeita para uma narrativa tensa.
O jogo parece querer que a sensação de ser observado esteja sempre presente, ou que o jogador sinta isso mais de uma vez durante sua aventura, para isso os ângulos de câmera são friamente escolhidos e posicionados em pontos diferentes de costumamos ver; por detrás de um arbusto, dentro de uma casa, espiando pelas frestas de uma cerca.
Esse tipo de escolha muda a forma de enxergar o jogo, e deixa ele com uma característica a mais para ser lembrada, claro que não é algo original, mas mudar é sempre uma bom, se levarmos em consideração muitos jogos genéricos que a indústria produz.
E não entendam genérico por ruim, é apenas uma forma de provar um gosto novo ou que há muito não passava por nosso paladar.
Após uma breve caminhada, vamos encontrar Lillemor e teremos o tutorial de combate, que resume apenas mirar com L2 e atacar com R2 (na versão de PlayStation) e para isso usamos uma luz mágica.
O caminha segue, e as sombras cedem lugar para a luz do sol, e após uma brincadeira com Gnomos, Lillemor é levada por um Troll e aqui a verdadeira jornada do jogo começa.
Os magníficos e cruéis contos nórdicos
Olle tem movimentos muitos simples, correr, pular, mover determinadas coisas, agachar e escalar, além do ataque com projéteis de luz, o jogo segue um padrão de capítulos e em cada um deles teremos desafios para superar, um mais pesado que o outro.
A obra segue o folclore nórdico, com contos que não estão aqui para ensinar as crianças sobre algo bom, mas para deixá-las com pesadelos, imagine uma versão do flautista de Hamellin, mas extremamente macabra, ou a história uma versão de João e Maria, mas com um final sangrento, assim são algumas das histórias que iremos ver, e podemos inclusive ler elas, caso achemos os livros correspondentes.
Alguns dos contos serão as ameaças pelo jogo, em forma de chefes, após vencermos a fase, restará vencer o chefe, aqui começamos a falar sobre o leveis no decorrer do game, são todos bastantes divertidos, sua dificuldade não é frustrante, porém isso acaba sendo simples demais, é muito fácil saber o que devemos fazer, até mesmo em níveis mais avançados.
Possuem uma excelente jogabilidade, mas poderiam ter colocado elementos ainda melhores, nada que comprometa, mas faltou algo ali, infelizmente. E digo isso porque é notável a dedicação do estúdio, e alguns chefes e fases são de fato incríveis.
É necessário dizer que além da direção de arte e fases divertidas, outra coisa que impressiona é a narrativa, que após um começo morno, nos leva para o coração de uma história cruel e violenta em muitos momentos lembrei de filmes como a Bruxa de Blair, A Bruxa e Hagazussa (aqui o título ficou como a Maldição da Bruxa), filmes que trazem contos semelhantes.
A jornada do pequeno Ollie será marcada por traumas, encontros com o desconhecido e com formas tristes de encarar a vida, tudo em um cenário cada vez mais opressor, há momentos assustadores, capazes de gelar o sangue.
E isso tudo é muito bem contado pela narradora, é como se estivéssemos de fato ouvindo alguém ler um conto, mas esse nem de longe é para crianças, fica o alerta, vão com calma caso não sejam intolerantes a temas pesados.
O caminho até a montanha do rei
Algo que senti falta, foram puzzles mais elaborados, que desafiassem mais, parece que eles focaram muito na forma em que enfrentamos os chefes e pouco no caminho até eles, por mais divertido que seja, sabemos que poderia ser melhor.
Mas para suprir isso, o desafio de fato se esconde em momentos do jogo em que um erro é fatal, aliás, vale mencionar que assim como Little Nightmares e Limbo, qualquer dano gera fim de jogo, logo tentativa e erro serão nossa forma de aprendizado. Isso é o que determina a tensão no jogo, ora, reagir rápido e manter a progressão sem falhas é sempre melhor.
O jogo nos dá formas de entendermos a trama, e elas estão espalhadas na forma de livros de contos, cada um deles trás um tipo de situação diferente, o que torna tudo ainda mais fantástico, é que sempre vemos esses livros após os acontecidos, o que completa nossas informações.
Por ser um jogo indie, mais uma vez vemos o carinho que os desenvolvedores tem em fazer algo bom, por mais que eu tenha dito que poderiam melhorar isso ou aquilo, o jogo entrega uma boa aventura, com momentos chocantes e aterrorizantes, aos amantes de boas e sombrias aventuras, Bramble – The Mountain King é uma excelente pedida.
Essa análise foi feita com base em uma cópia cedida pela Merge Games, agradecemos por confiar em nossa equipe.