Sem dúvidas, além de ter inaugurado o subgênero, Mario Kart é a maior referência em jogos de kart com elementos de combate veicular. Porém, ao jogar cada iteração da franquia da Nintendo, a gente consegue ver claramente que os modos de jogo oferecidos não estão progredindo. Vamos pegar um jogo que nada tem a ver com Mario Kart, a não ser de ter as mesmas siglas: Mortal Kombat.
Desde a era Game Cube, a franquia de Ed Boon sempre procurou agregar valor aos jogos de luta, mesmo que a gente estivesse pensando nos jogadores solitários, jogando seus modos single player. Hoje, a franquia Mortal Kombat é um dos melhores exemplos de jogo recheado de conteúdo. Vamos para outros jogos de kart que chegam a ter mais de 20 anos de idade: Diddy Kong Racing, Crash Team Racing, ambos com seus modos interessantíssimos de campanha, oferecendo meios instigantes de distribuir os desafios.
Em Mario Kart, o máximo de agrado nesse sentido que consigo pensar são as missões do excelente Mario Kart DS. De resto, os modos são bem diretos ao ponto. Você entra, escolhe a copa, que são pequenas playlists, e cumpre aquela ordem. Sem coleta de balões do Diddy Kong, sem os cristais do Crash, tem a variedade louca de veículos de Sonic Racing…
Lego 2K Drive chega para ensinar como manter o jogador engajado entregando conteúdo divertido de momento a momento, e, logo de cara, é um dos melhores jogos de corrida de 2023. Logo, logo, nota-se o padrão que faz de Lego 2K Drive um jogo similar aos Forza Horizon em muitos quesitos, porém, é importante falar sobre algo que me incomoda no jogo da Playground Games (o Forza Horizon) que veio impregnando cada vez mais nas sequências. Lá, eu sinto que por um lado, o clima de glória generalizada é tamanha que até perder parece significar festa, e aos poucos, saindo de veneta, está a característica tão bela que os videogames sempre tiveram no DNA: a de fazer o jogador sempre ser desafiado e intimidado num ponto agradável, se o jogo é competente.
Lego 2K Drive é muito mais feliz, inocente e colorido, mas pode oferecer desafios cabeludos pelo caminho, mesmo que não sejam os principais e necessários para se alcançar o fim do produto. Mas é aí que acontece o pulo do gato: se o jogo tem um game design bom, ele consegue pegar qualquer marmanjo cético e fazer o indivíduo passear, e se entrelaçar hipnotizado entre coisas triviais num jogo e as coisas necessárias.
Isso pode ser concebido de várias formas, e várias ao mesmo tempo. Aqui, temos essa ambientação mágica, de fazer inveja às terras da Nintendo. E por ter este desprendimento com a realidade, tudo no jogo está desimpedido. São jetpacks em carros, saltos absurdos e assim como no jogo de corrida do Sonic, veículos que se transformam instantaneamente, conveniente e contextualmente. Se você está passando por grama alta, seu carro pode se transformar num veículo agrícola que corta o mato na lateral para que você perca menos velocidade. Se temos água, o seu veículo é uma lancha, etc. É exatamente nesta falta de compromisso com a realidade que temos um encontro com a criatividade, e isso deveria ser uma regra obrigatória em games.
A estrutura do game é de vários pequenos mundos abertos. Cada pequeno mapa deste traz uma temática. Temos o primeiro mundo mais básico, análogo ao “overworld”, temos o mundo árido, temos um mundo mais na pegada country com suas minhas e colinas, e por aí vai. Cada local traz vilas e cidades e muitas pessoas oferecendo várias atividades e desafios dos mais bizarros e divertidos.
Isso quer dizer que não teremos apenas corridas e campeonatos no modo de campanha principal. Imagine fazer entregas malucas, desarmar bombas sem encostar em nada, batalhar contar um trem fantasma que ronda uma vila de velho oeste, subir rapidamente uma montanha espiral, voar em argolas e ser impulsionados por correntes quentes de ar, tal como em Pilotwings… A lista vai embora.
Como se não bastasse, ainda temos pequenas diversões não obrigatórias como a montagem dos carrinhos. Na garagem, antes de entrar num carango novo você precisa montar peça por peça, exatamente como se estivesse montando um LEGO. Não tem truques de videogame, o jogo não vai resumir e servir regras que adiantem o processo. Isso significa que cada carrinho foi cuidadosamente montado bloco por bloco pelo desenvolvedor, só para que você pudesse brincar de montá-lo. Claro que, se você não deseja brincar disso, um botão faz tudo pra você. Existe o grupo de peças já separadas para você, que serão usadas na montagem daquele carro, e você deverá pegar uma a uma para encaixar, camada por camada. É nesse momento também que você vai descobrir que a profissão de designers desses brinquedos reais, é algo genial.
Se eu pudesse citar três coisas que negativam um pouco a experiência de Lego 2K Drive, essas seriam o modo caótico como as corridas ocorrem, assim mal dando tempo para pilotar, pois o jogador estará o tempo todo levando ataques ou atacando os adversários. A segunda coisa é que o aglomerado de coisas que aparece em quase todas as telas, a HUD é cheia de muitas informações, e por sorte são atrativas e coloridas. Por fim, a coisa que fica no caminho e em qualquer caminho de um jogo que escolha empregá-las, são as micro transações e ofertas de passes e afins.
Felizmente o título pode ser curtido sem elas, mas cada vez mais a gente pode sentir que as estruturas de menus desses tipos de jogos estão orientadas para conviver com essa prática como se fosse algo benéficos de verdade para os jogadores no fim das contas.