Apesar de tudo que poderia ser dito sobre a forma como Sea of Stars tece homenagens aos jogos clássicos, é preciso se ir além. Em uma indústria que tanto já inspirou, copiou bem, copiou mal e melhorou o que já era bom ou muito bom, podemos dizer que Sea of Stars consegue um feito e tanto.

Há algumas tantas décadas, como sabemos, jogos de RPGs orientais conquistaram um espaço nos corações e mentes de vários jogadores. Espaços estes que jamais perderam, aparentemente, um centímetro de espaço. Desde os idos dos primeiros Final Fantasy, Breath of Fire, Chrono Trigger, Chrono Cross e tantas outras obras com estas, criou-se um saudosismo que, ano após ano, é se tentado resgatar com outras obras. As tais, como falado mais acima, cópias.

Infelizmente, nem todas as cópias vingaram. Nem todo jogo, mesmo com uma base pré-pronta a seguir, conquistou algum espaço nos mesmos corações e mentes. Ainda assim, de tempos em tempos, algo é anunciado, cria-se toda uma expectativa — que segue crescendo a novo rol de fotos ou vídeos —, é lançado e, para felicidade de tantas milhões de pessoas, alcance um feito e tanto. É o caso, agora felizmente, de Sea of Stars.

Sobre Sea of Stars

Desenvolvido pelo Sabotage Studio, a mesma desenvolvedora por trás de The Messenger, outro jogo que furtou muitas atenções do público, Sea of Stars foi lançado bem no fim de agosto último. E um importante detalhe: totalmente localizado, e muito bem localizado, em português brasileiro. Há um cuidado impressionante na adaptação de certos termos que se referem especificamente aos nomes das localidades no game. Algo muito parecido, por exemplo, com o que é visto nos livros de Senhor dos Anéis e as Crônicas de Gelo e Fogo (Game of Thrones).

Na história, toda as questões que envolvem a Jornada do Herói estão lá. No caso específico de Sea of Stars, ora, a jornada também poderá ser a da heroína. Foi o meu caso, inclusive. Entre os dois personagens principais jogáveis, podemos escolher entre Valere e Zale.

Ela, com a qual jogamos desde a idade pueril, tem a Lua como força motriz mágica. Já Zale, com o qual também iniciamos jogando ainda enquanto ele criança, possui o Sol como o astro-guia das suas habilidades.

Todavia, não iniciamos o jogo com Valere e Zale enquanto crianças. Há um flashforward inicial que os mostra, junto com Garl (este, por sinal, merece e terá um destaque especial mais à frente), já em uma missão um pouco mais avançada. Findada em uma fogueira, este prólogo, após o encerramento da noite e da fogueira, nos carregará para o passado, em que aí, sim, viveremos na pelo dos protagonistas enquanto crianças.

Enquanto crianças que são, Valere e Zale carregam consigo duas coisas que toda criança possui de sobra: a curiosidade e a teimosia. Com isso, um “não vá lá”, para eles, obviamente significa o contrário. É o que acontece, portanto, quando eles, juntos com Garl, os três ainda inocentes, resolvem entrar na Caverna Proibida.

O resultado da desventura, entre perdas e danos, gera algo irreparável em Garl, além de um sentimento de culpa nos outros dois. Por pouco, a inconsequente “missão” não resultada em perdas ainda maiores.

Para além das perdas e danos, contudo, houve um acerto feliz. O Diretor Moraine, responsável pela Academia Zênite, resolve, por fim, treinar Valere e Zale para que ela e ele se tornem Guerreiros do Solstício.

Tudo isso, vejam bem, é apenas um lasco da história de Sea of Stars. Tudo isso pode ocupar, talvez, não mais que uma hora de jogo. Neste sentido, o jogo mostra, muito facilmente, que a sua lore é extensa, profunda e cheia de camadas.

Isto posto, é deveras interessante como o game faz para, ao falar sobre algo que importa a curto, médio ou longo prazo em sua narrativa, sempre dar um jeito para reforçar a importância desta coisa, local, pessoa ou entidade.

Sempre que o jogo quer que nos atentemos para algo, ele marca, nas legendas, a palavra, expressão ou frase com alguma cor. Com isso, podem ter a absoluta certeza que é um recado do do jogo para nós, jogadores: isto importa.

Ao jogador atento, será sempre bastante interessante dar de cara a coisa que importa por aí, nos locais do jogo afora. É uma espécie de pista e recompensa deveras gratificante e positiva à jogabilidade, mostrando claramente como Sea of Stars importa-se com o jogador e com a sua própria narrativa.

A jogabilidade de Sea of Stars

O tradicional combate com turnos, evolução de personagens, troca de itens, armas e armaduras e inserção de itens que melhoram aspectos está aqui em toda a sua glória.

Não há restrições: Sea of Stars é um RPG de grande porte, trazendo tudo que há do melhor no gênero para ele. O combate, além dos turnos tradicionais, traz ainda uma série de outras dinâmicas que deixam o confronto ainda mais interessante. No xadrez dos comandos, o jogador precisa se atentar para algumas coisas importantes, como a maneira como o seu próprio ataque, seja de magia ou corpo a corpo, pode ser incrementado, seja pelo tempo correto de um segundo aperto de botão, seja pelo segurar de um botão até certo tempo.

Além disso, inimigos deixam cair “esporos” mágicos que potencializam seus ataques. Cabe ao jogador, assim, coletá-los e investi-los em seu personagem da vez.

As opções de defesa também possuem comandos próprios. Você não irá, simplesmente, ser atacado sem minimamente poder diminuir o impacto do ataque recebido. O jogo lhe dá opções de defesa.

Através de algo muito semelhante a uma árvore de habilidades, ao se subir de nível, Sea of Stars oferta opções de evolução. Com isso, a variação importa, já que temos sempre mais de um personagem à disposição. Alterar entre evoluções de ataques, defesas, ataques mágicos ou defesa contra magias é importante.

Graficamente impecável

De forma sublime, Sea of Stars opera a partir do fino trato gráfico. No jogo, tudo encanta visualmente. A paleta de cores, a direção de arte, a maneira como os cenários de desenham horizontal ou verticalmente. Há muito, no jogo, pelo que se parar e admirar.

Sem medo de estar errado, Sea of Stars, mesmo não possuindo (e nem precisando ter) gráficos ultrarrealistas, é um dos mais belos jogos de 2023.

Seus cativantes personagens

Em relação a outros produtos da cultura pop, em especial o cinema, que, por sua curta duração, está imbuído de certa dificuldade para que, pela duração reduzida, consiga-se cativar seu espectador. Diferentemente dos filmes, os jogos, principalmente estes lançados nos últimos tantos anos, e que são munidos de dezenas de horas de gameplay, possuem uma facilidade maior para cativar o jogador.

Para além disso, Sea of Stars, desde os seus primeiros minutos, não mostrar ter qualquer dificuldade nisso. Grande que o é, ele não demora a cumprir a tarefa de encantar, a partir do carisma dos seus personagens, todo e qualquer jogador.

Assim é muito interessante que o jogo não se furte, ainda nos seus primeiros minutos, em apresentar uma série de personagens que, certamente, além de nos acompanharem pelas próximas horas da jornada do game, também serão aqueles personagens que, no íntimo de cada hora jogada naquelas noites ou finais de semana, irão encantar e apaixonar o jogador mais ainda por aquela história que está sendo contada.

Assim, é impossível que não nos encantemos por um personagem como o Garl ou Teaks. Por motivos de spoilers, me furtarei de ir além. O próprio jogador precisa correr atrás deste jogo.

Nota
Geral
9.5
sea-of-starsSea of Stars consegue fazer muito bem tudo aquilo que se propõe. Ao mesmo tempo, ele se sobressai ao aceitar não ser uma mera cópia ou cópia apenas boa de outros jogos que certamente o inspiraram e lhe deram base(s). Sea of Stars, antes de tudo, possui alma própria: sabe que possui uma grande história para contar e que, além disso, têm grandes e cativantes personagens para nos fazer companhia.