Desde o primeiro momento em que ouvi falar de O Escudeiro Valente, fiquei completamente fascinado pela sua proposta. A ideia de um jogo onde você pode entrar e sair de páginas de um livro, alternando entre mundos 2D e 3D, parecia uma experiência inovadora. Essa mecânica, desenvolvida pela All Possible Futures e publicada pela Devolver Digital, me chamou atenção por ser algo que, no meu ponto de vista, é único no mundo dos jogos. Mas será que o jogo realmente entrega o que promete?
Uma História em Meio a Folhas e Desenhos
Em O Escudeiro Valente, acompanhamos a jornada de Pontinho, o personagem principal de um livro criado por Sam, um garoto com uma imaginação fértil e cheio de criatividade. O vilão da história, Enfelzado, que sempre foi destinado a perder, decide mudar o curso da trama. Seu objetivo é expulsar Pontinho do livro e dominar o Reino de Mana, onde a história se passa. É aí que começa a nossa aventura, uma longa e divertida jornada por fora do livro, onde somos levados a conhecer personagens de outras histórias e revisitar as páginas do livro O Escudeiro Valente, onde a trama original se desenrola.
Mesmo sendo uma narrativa claramente voltada para o público infantil, ela conseguiu me prender e querer continuar a história para saber o desfecho. A história é leve, bem-organizada e transmite uma sensação de simplicidade e alegria que me deixou envolvido. De certa forma é apenas mais uma história de herói e vilão; mas há uma leveza em sua execução que me fez sorrir diversas vezes. A narração desempenha um papel fundamental aqui, com uma voz (muitos vão reconhecer) que narra a que guia toda a história, nos fazendo sentir como se estivéssemos de fato dentro de um livro. O curioso é que só ouvimos a voz do narrador, e não dos personagens, o que reforça ainda mais a ideia de que estamos imersos em uma obra literária.
Gameplay Simples, mas divertida
A jogabilidade de O Escudeiro Valente é, sem dúvida, um dos seus maiores pontos fortes. Não há nada de extraordinariamente complexo aqui, mas é exatamente isso que torna o jogo tão divertido. Ele se encaixa bem no gênero de aventura e ação que todos nós conhecemos, com uma fórmula que, embora familiar, é bem executada. A exploração é fluida, permitindo que o jogador vá de um lado para o outro, atacando inimigos, pulando obstáculos e desbloqueando habilidades ao longo do caminho.
No início, tudo se passa em um mundo 2D que lembra muito os antigos RPGs. Mas à medida que avançamos pelos capítulos, o jogo faz uma transição fascinante para o 3D, e é aí que a diversão realmente começa. A mecânica de alternar entre os dois mundos é um dos maiores destaques do jogo. Poder transportar objetos entre o mundo 2D e o 3D abre possibilidades interessantes, tornando a jogabilidade dinâmica e cheia de surpresas. E, claro, temos outras mecânicas, como a habilidade de mudar palavras da história para resolver puzzles.
Esses quebra-cabeças são simples, mas eficientes — basta explorar o cenário e até voltar para páginas anteriores do livro para encontrar a solução. Porém, devo admitir que, após um tempo, os puzzles começam a se tornar repetitivos e, em alguns momentos, um pouco cansativos.
Um Livro Animado em Cores
Se há algo em que O Escudeiro Valente realmente brilha, é na sua apresentação visual. As animações em 2D são impressionantes, com um estilo artístico que me fez sentir como se estivesse folheando um livro animado. As cores vibrantes e a atmosfera fantasiosa fazem o mundo 2D parecer vivo, como se cada página fosse uma obra de arte em movimento.
Quando o jogo faz a transição para o 3D, ele ainda mantém uma qualidade visual excelente, mas não consegue ser tão expressivo quanto no mundo 2D. Mesmo assim, a mudança de estética faz sentido dentro da narrativa, já que o mundo real é retratado de forma mais sombria, com cores mais escuras e uma atmosfera mais pesada. Essa diferença visual entre os dois mundos parece ser intencional, e a maneira como o jogo alterna entre esses dois estilos é algo que mantém a experiência fresca e interessante.
A trilha sonora de O Escudeiro Valente é um complemento perfeito para a sua narrativa e estética. O uso da trilha sonora para criar imersão é impecável, e eu não posso deixar de mencionar o quanto isso me fez sentir ainda mais dentro daquele universo de papel e tinta. É o tipo de trilha que você não percebe de forma intrusiva, mas que, ao mesmo tempo, é essencial para o clima geral do jogo.
Outro ponto que merece destaque em O Escudeiro Valente é a presença de diversos mini games ao longo da aventura. São tantos que, a cada novo capítulo, me encontrava surpreso com a variedade de desafios extras que o jogo oferece. Esses minis games foram, sem dúvida, uma das partes mais divertidas da minha experiência, trazendo momentos de leveza e distração no meio da narrativa principal. Eles adicionam um toque de criatividade e são bem integrados ao universo do jogo, tornando cada um deles uma pequena surpresa agradável.
Desempenho
Eu pude experimentar O Escudeiro Valente em um computador com as configurações Ryzen 5 3600, RTX 4060 e 16 GB de RAM, rodando todas as configurações no máximo, em 1080p nativo. Nas partes em 2D, o jogo manteve uma média de 304 FPS. Já nas partes em 3D, o desempenho caiu para uma média de 121 FPS, ainda assim bastante satisfatório para a complexidade gráfica que o jogo oferece nesse modo.
O mais interessante é que, apesar da queda natural de FPS entre as transições de 2D para 3D, não houve nenhum problema significativo de desempenho. A experiência foi extremamente fluida em todas as áreas exploradas. No entanto, durante minha jornada, acabei encontrando um bug que me forçou a reiniciar o jogo para prosseguir. Embora isso tenha sido um incômodo, foi a única falha técnica que enfrentei, e felizmente, não prejudicou minha imersão no geral. Fora esse pequeno incidente, o jogo rodou de maneira consistente e sem maiores problemas, proporcionando uma experiência visualmente rica e tecnicamente estável.
Uma Aventura Criativa que Vale a Pena
O Escudeiro Valente é, sem sombra de dúvidas, uma das experiências mais criativas que já joguei. A ideia de alternar entre mundos 2D e 3D, combinada com uma história envolvente e personagens carismáticos, resultou em uma jornada mágica que foi além das minhas expectativas. A simplicidade da gameplay, a beleza visual e a trilha sonora complementam a narrativa de forma brilhante, tornando cada momento no jogo uma verdadeira obra de arte.
Apesar dos puzzles repetitivos e de algumas limitações no mundo 3D, o jogo ainda consegue se destacar por sua originalidade e execução. Ele me surpreendeu mais do que eu esperava, especialmente por ser voltado para um público mais infantil. Se você está em busca de uma aventura leve, encantadora e com uma mecânica inovadora, O Escudeiro Valente é uma escolha que vale cada minuto de jogo. É uma experiência que nos faz lembrar do poder da imaginação e do quão longe uma boa história pode nos levar, tanto no papel quanto nas telas.