LEGO Horizon Adventures é um resumo do jogo original estreante no PS4, e apesar de sua direção de arte divertida, imersiva e colorida, faz pouco no universo LEGO e entrega uma estrutura cansativa.
O jogo, desde sua concepção, parece caminhar na corda bamba entre homenagear Horizon e atender às expectativas de um título LEGO. Contudo, o resultado se posiciona mais como um resumo condensado do universo de Aloy do que como uma verdadeira expansão dele. A proposta visual é vibrante, e o uso das cores e texturas entrega um mundo convincente, mas isso não é suficiente para mascarar o descompasso entre a ambição estética e a execução mecânica. O cansaço que emerge da estrutura repetitiva do jogo acaba contrastando com a energia de sua apresentação visual, criando uma experiência que atrai o olhar, mas sustenta dificilmente o interesse.
Ao entrar em uma fase, como entramos numa fase no hub de Crash Bandicoot de PS1, ao menos esperamos um equilíbrio bom entre duração e sensação de plenitude nesses segmentos. Nada disso ocorre ao ponto que a visita a cada fase é curta demais, se resumindo a uma missão breve, interrompido pela tela de pontuação, a sua volta ao vilarejo central, para depois começar o loop novamente.
Essa fragmentação prejudica gravemente a imersão. O jogador é constantemente retirado do fluxo da ação, com pausas que, ao invés de oferecerem um respiro, cortam qualquer sensação de continuidade. Em um jogo como Crash Bandicoot, os hubs oferecem liberdade, mas também carregam um propósito claro na progressão. Aqui, cada fase parece existir apenas para preencher um requisito mecânico, sem a densidade necessária para justificar sua inclusão.
O loop, em vez de satisfatório, cria uma sensação de trabalho incompleto, onde a promessa de algo maior nunca se realiza. A tela de pontuação e o retorno obrigatório ao vilarejo não se sentem como uma pausa estratégica, mas como uma interrupção forçada e repetitiva.
Fica certo e incerto dependendo da pessoa que joga, se essas fases são repetidas, a minha impressão é de que se não se repetem, possuem um layout muito parecido, com landmarks reutilizados para corroborar nessa desconfiança. Uma resolução mais interessante seriam vários objetivos a serem cumpridos em uma só investida, com pequenas bifurcações nessa fases. Invés disso, o resultado picota o ritmo em pequenas partes, fazendo o jogo descompromissado demais até para quem está ciente de que no geral LEGO é voltado para a audiência infantil. O que é engraçado de se pensar, já que provavelmente as crianças de hoje estão jogando jogos complexos de multiplayer, enquanto os marmanjos estão explorando jogo para audiências mais jovens e tentando fazer críticas aprofundadas com o material, exatamente como faço agora.
A similaridade das fases levanta questões sobre o cuidado dedicado ao design do mundo. O uso repetido de landmarks não apenas empobrece a experiência visual, mas também reforça uma impressão de falta de criatividade na construção das fases. A proposta de incluir múltiplos objetivos em uma única investida, com caminhos alternativos, seria uma solução que traria dinamismo e tornaria cada fase mais memorável.
As aventuras só não ficam mais tediosas devido a alguns fatores, e posso começar pelo carisma de Aloy, aqui servindo como uma personagem pragmática, alegre e destemida. Apesar deste não ser um jogo LEGO “cinema mudo” como costuma ser, as piadas visuais continuam, com as piadas verbais.
O carisma de Aloy é um ponto alto no mar de mediocridade que permeia a experiência. Adaptada ao estilo LEGO, ela consegue trazer um pouco da coragem e da determinação que a tornaram icônica, sem perder o tom leve e bem-humorado que caracteriza os jogos da franquia. As piadas, tanto visuais quanto verbais, acrescentam momentos de leveza e contribuem para humanizar a personagem em um cenário onde a jogabilidade não oferece tantas oportunidades para conexão emocional. Apesar disso, fica claro que esses lampejos de charme não conseguem carregar sozinhos o peso de um jogo que carece de profundidade em tantos outros aspectos.
O outro fator são os belos gráficos, se esforçando ao máximo na hora de emular as nuances mais profundas das pecinhas de plástico. Só me fez pensar que talvez a parte mais divertida no desenvolvimento do jogo foi construir seus assets.
Visualmente, LEGO Horizon Adventures se destaca. O nível de detalhe empregado para replicar a textura e o brilho das peças LEGO demonstra um cuidado técnico impressionante. Os ambientes, embora reciclados em termos de design, são visualmente encantadores e mostram como a estética LEGO continua sendo um ponto forte. No entanto, a beleza gráfica apenas realça a frustração gerada pela jogabilidade limitada. O contraste entre a atenção dedicada aos gráficos e a falta de inovação em outros aspectos sugere que o esforço criativo talvez tenha sido desproporcionalmente alocado, deixando o jogo desequilibrado em sua entrega final.
Por não ser um jogo da TT Games mas sim do Studio Gobo e Guerrilla (estúdio do jogo original), a minha imaginação se configurou a pensar que a fórmula de jogo LEGO dessa vez iria fugir um pouco do esperado. O resultado é muito mais próximo dos jogos habituais, e oferece os velhos ângulos aéreos da câmera, combates mais rasos e muita coletânea de pecinhas no caminho.
A expectativa de que o envolvimento de Guerrilla e Studio Gobo pudesse trazer frescor à fórmula LEGO foi frustrada. Em vez de uma abordagem que desafiasse os paradigmas estabelecidos, o jogo se conforma em reproduzir as convenções conhecidas, com combates simples, ângulos de câmera previsíveis e a já habitual coleta de peças. Essa falta de ousadia é particularmente decepcionante ao se considerar a rica bagagem dos estúdios envolvidos, que poderiam ter introduzido elementos mais complexos ou adaptado melhor a identidade de Horizon ao universo LEGO.
O combate basicamente consiste em atirar suas flechas contra os inimigos robôs ou humanos das tribos. Nos robôs temos os pontos fracos que já são marca registrada da franquia, mas aqui no LEGO, basta atirar sua flecha a partir do lado certo invés de ter um controle espacial complexo de mira. Alguns elementos entram no mix, como a habilidade de passar a flecha no fogo antes de acertar o alvo, a fim de obter dano maior, mas o sistema não vai muito mais distante do que isso.
O combate apresenta uma versão excessivamente simplificada das mecânicas características de Horizon. Embora elementos como a identificação de pontos fracos e o uso de flechas flamejantes tentem replicar aspectos da série original, a execução rasa não faz jus à profundidade tática que define os combates de Horizon. Isso resulta em um sistema que não exige do jogador nem estratégia, nem habilidade, tornando os confrontos um aspecto quase descartável da experiência.
Nas tais tantas voltas ao vilarejo entre fases poderemos contar com melhorias de personagem, mas o jogo tem uma ênfase em construir estruturas no vilarejo, tal como Ezio em seu lar em Assassin’s Creed II. Isso será interessante para quem valoriza esse prazer inocente de se ter uma cidade que pouco serve para algo pronta. No máximo, algumas estruturas poderão oferecer habilidades de mudanças estéticas de personagem, ou mesmo de aspectos da vila. Se o jogador não valorizar esta parte, automaticamente estará descartando grande parte da carne que Lego Horizon Adventures tem a oferecer, tornando-o um pacote bem mais pobre.
A mecânica de construção do vilarejo traz uma tentativa de diversificar a experiência, mas sua utilidade é limitada. Para quem não encontra satisfação na construção pela construção, o vilarejo rapidamente se torna um espaço redundante, minando ainda mais o valor do jogo.
No geral, LEGO Horizon Adventures é um título que se perde entre o potencial de sua proposta e a execução limitada. Apesar de seu apelo visual e dos momentos de charme proporcionados por Aloy e o humor característico da franquia LEGO, o jogo sofre com uma estrutura fragmentada, mecânicas simplórias e uma falta de inovação que o impede de se destacar. A sensação que fica é de um produto funcional, mas desinspirado, que tenta agradar tanto fãs de Horizon quanto da linha LEGO, mas não consegue entregar plenamente para nenhum dos públicos.
É uma experiência que entretém levemente, mas que dificilmente deixa uma impressão duradoura, ficando aquém do que poderia ter sido se tivesse ousado mais em sua concepção e execução.