A Redescoberta da Luta pela Liberdade
Quando ouvimos falar em “remaster”, a ideia geralmente remete a melhorias gráficas e pequenas correções. No entanto, quando se trata de Freedom Wars Remastered, o conceito de remaster é feito de forma bastante interessante. Originalmente lançado para o PS Vita, Freedom Wars conquistou um pequeno, mas dedicado, público com sua proposta única de mistura entre ação intensa, exploração, e uma narrativa que desafia as concepções de liberdade e opressão.
A chegada do jogo aos PCs, com gráficos atualizados, novas otimizações e uma jogabilidade refinada, traz à tona uma segunda chance para a obra, tanto para aqueles que já a conhecem quanto para os novatos. Este remaster, mais do que uma simples melhoria visual, oferece uma experiência com uma profundidade imersiva. No entanto, como todo remaster, ele não é isento de falhas que podem tirar um pouco do brilho dessa obra-prima distópica. Vamos explorar os aspectos que fazem esse retorno valer a pena e os que ainda precisam de ajustes.
A Distopia Nunca Foi Tão Imponente
A maior melhoria que Freedom Wars Remastered traz em relação ao original está, sem dúvida, nos gráficos. Quando o jogo foi lançado no PS Vita, ele já impressionava com seus cenários e design de personagens, mas a versão remasterizada leva isso a um nível completamente novo. As cidades-prisão, chamadas Panopticons, agora se destacam com uma riqueza de detalhes que realmente imerge o jogador na opressiva distopia futurista.
As estruturas de concreto das prisões, que antes pareciam estáticas e monótonas, agora são mais nítidas, com texturas altamente detalhadas que realmente fazem você sentir o peso do regime que domina esse mundo. As sombras e os reflexos nas superfícies metálicas criam uma atmosfera densa e claustrofóbica, perfeitamente alinhada ao tom sombrio da narrativa. As luzes artificiais que iluminam as ruas e os corredores das prisões agora parecem mais realistas, reforçando a sensação de estar preso em um sistema autoritário que observa e controla cada movimento.
O design dos Abductors, inimigos mecânicos colossais que dominam o jogo, também recebeu atenção especial. Suas armaduras enferrujadas, articulações hidráulicas e os inúmeros detalhes de suas estruturas mecânicas são mais evidentes, tornando cada encontro com essas criaturas uma verdadeira batalha de titãs. A sensação de choque quando você acerta um Abductor com seu Thorn é palpável, como se o impacto reverbera não apenas no corpo do inimigo, mas também no ambiente ao seu redor. Essa sensação de peso nos confrontos é algo que a remasterização conseguiu capturar de maneira impressionante.
Contudo, nem tudo é perfeito. A repetição de cenários — uma falha presente desde a versão original — ainda é um ponto fraco. Embora as texturas tenham sido significativamente melhoradas, a falta de variedade nos ambientes explorados pode fazer com que, após um tempo, o jogador sinta que está revisitando os mesmos locais sem muito propósito. Durante as primeiras horas de jogo, a estética visual é empolgante, mas, com o passar do tempo, a sensação de estar preso nos mesmos ambientes pode gerar um certo cansaço. Isso é particularmente notável durante as missões secundárias, onde a repetição dos cenários e dos inimigos se torna um desafio adicional.
O Retorno do Thorn e o Desafio da Cooperação
A jogabilidade de Freedom Wars Remastered segue sendo sua principal força. O uso do Thorn, um dispositivo que permite ao jogador se mover rapidamente pelo cenário e interagir com os inimigos, é uma das mecânicas mais inovadoras do jogo, se levarmos em conta o ano em que o jogo foi lançado. Ao usar o Thorn, conseguimos agarrar inimigos, escalar paredes e até realizar manobras de combate rápidas e precisas.
Além disso, a mecânica de combate recebeu melhorias significativas. Os ataques com o Thorn agora são mais precisos e as animações de batalha são fluidas, o que torna as lutas contra os Abductors mais empolgantes e viscerais. As diferentes armas também oferecem uma variedade de estratégias de combate, e a personalização das suas ferramentas de luta torna cada jogador único. Não é apenas sobre atacar e destruir — é sobre como você usa a sua mobilidade, sua inteligência e suas armas para derrotar inimigos que são desproporcionais à força.
Mas talvez a maior atração de Freedom Wars Remastered seja a ênfase na cooperação. Embora seja possível jogar sozinho, o título brilha realmente quando você se junta a outros “Sinners” para enfrentar as ameaças. O modo cooperativo permite que cada jogador se especialize em diferentes habilidades, criando uma dinâmica de equipe que exige coordenação e estratégia. Cada missão é uma oportunidade de trabalhar em conjunto, onde falhas de comunicação ou desorganização podem ser fatais. As batalhas em grupo são intensas e exigem mais do que simples combate — elas exigem trabalho em equipe e uma estratégia bem elaborada.
Filosofia e Opressão em um Mundo Ruim
A narrativa de Freedom Wars nunca foi apenas uma desculpa para justificar as lutas. Ela é, na verdade, o coração do jogo, e o remaster não faz concessões nesse aspecto. No meu papel como “Sinner”, me vi preso em uma sociedade totalitária, lutando pela minha liberdade enquanto pago minha “pena” em batalhas contra criaturas monstruosas e sistemas implacáveis. A metáfora da “Redução de Pena” não é apenas uma mecânica de jogo, mas uma reflexão sobre o preço da liberdade, e o jogo explora isso com uma profundidade rara.
Uma das mecânicas que achei especialmente divertida e intrigante é o sistema de penalidade, onde, por exemplo, até andar demais dentro da cela resulta em mais tempo de punição. Esse detalhe me fez sentir ainda mais a opressão do mundo em que estou reforçando a sensação de que a liberdade é uma moeda cara. As regras do sistema penal fazem parte dessa construção de opressão, sendo uma constante lembrança de que a qualquer momento posso pagar um preço ainda maior.
À medida que eu avançava pela história, era impossível não me envolver com as questões filosóficas levantadas pelo jogo. O que significa ser livre em um mundo onde as escolhas são limitadas? A luta por liberdade é apenas uma forma de prisão? Essas são questões que o jogo me fez repensar, e me desafiar a refletir sobre as implicações de minhas ações. A cada nova missão, eu encontrava outros personagens, “Sinners” como eu, e suas histórias se entrelaçam com a minha, criando uma tapeçaria emocional que tornava cada vitória e derrota ainda mais significativa.
A Realidade do Novo Mundo
Uma das maiores surpresas de Freedom Wars Remastered está no desempenho, ou, melhor dizendo, na falta de otimização que se faz presente em alguns momentos. Embora o jogo tenha sido bem otimizado para várias configurações de hardware, é nos momentos mais intensos de combate e efeitos gráficos que ele começa a falhar. Ao testar o jogo com um Ryzen 5 3600, uma RTX 4060 e 16GB de RAM, a média de 60 FPS (que é o limite) foi mantida durante a maior parte do jogo, mas, quando os efeitos especiais se intensificam — como explosões, uso do Thorn e interações com múltiplos inimigos — o desempenho começou a cair de forma drástica.
No entanto, o maior problema de desempenho não está no hardware, mas sim no sistema operacional. O Windows 11 24H2, em particular, apresenta uma série de problemas com Freedom Wars Remastered. Fiz uma pesquisa rápida e descobri que muitos jogadores relataram quedas de FPS e uma performance instável, e a minha experiência não foi diferente. Essas quedas de desempenho são desconcertantes, já que o jogo tem um visual legal, mas os problemas técnicos acabam tirando parte da fluidez que você esperaria de um remaster de 2025. Para quem utiliza versões mais antigas do Windows 10 ou configurações específicas, o desempenho parece mais estável, mas ainda assim, o remaster não se livra totalmente desses erros.
Felizmente, algumas soluções alternativas podem melhorar a performance — como ajustes nas configurações gráficas, desativação de certos efeitos e atualizações de drivers — mas é inegável que isso tira um pouco da experiência. Para um título que foi relançado com tanto potencial, a falta de uma otimização perfeita para todos os sistemas acaba sendo um fator de frustração.
O Peso da Liberdade
Freedom Wars Remastered é mais do que um simples remaster. Ele é uma janela para um mundo distópico, onde a liberdade é uma moeda cara e a luta por ela é brutal e incessante. Embora o jogo tenha suas falhas, tanto gráficas quanto de desempenho, ele continua a ser uma experiência única, que é capaz de envolver qualquer um com sua narrativa filosófica e suas mecânicas de combate inovadoras. A jogabilidade, com o retorno do Thorn, e a ênfase na cooperação são aspectos que tornam o jogo especial e desafiador.
No entanto, as falhas técnicas, como os problemas de desempenho no PC, são um fator importante a ser considerado. Mesmo com essas falhas, Freedom Wars Remastered continua sendo uma experiência rica e cheia de camadas, que vale a pena para aqueles que buscam mais do que um simples jogo de ação. Em última análise, o que fica é a pergunta: até onde você iria para ser livre? Para Freedom Wars, a resposta nunca é simples, e talvez, no final, a verdadeira liberdade seja uma jornada em si mesma.