Stephen King dizia: “Se você não pode obter a licença de algo, simplesmente vá lá e copie.”
Mentira, Stephen King não falou nada disso. Silent Hill – o primeiro, se enquadra muito mais neste quesito do que Alan Wake. Este jogo, na verdade, é uma mistura de influências muito próximas, e elas são: Twin Peaks com as próprias obras de Stephen King, com pitadas de Além da imaginação.

Em 2010 era possível colocar Alan Wake na roda das Flame Wars contra os donos de consoles da Sony, pois o título começou como exclusivo de Xbox 360, indo um bom tempo depois para os PC’s.  Hoje, o remaster existe como desculpa para abrir para mais plataformas e isso é maravilhoso.

Seja bem-vindo a Bright Falls, uma típica cidade de interior norte americano. Pense nas florestas e montanhas canadenses e você terá um retrato mental ainda melhor da ambientação do jogo. O povoado é diminuto, suficiente para passar a fofoca de boca-a-boca na velocidade da conexão wi-fi.

E é a chegada de Alan Wake que deixa a boca dos cidadão nervosa. A figura é um escritor famoso, que não está nos seus melhores dias. Ele possui um bloqueio de escritor, e está impossibilitado de desenvolver boas novas ideias para escrita. Sua esposa e seu agente preparam umas férias para ele, e essas férias são exatamente em Bright Falls.

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Durante o dia, Alan irá lidar com o público pitoresco da cidadezinha, mas de noite, os personagens dos romances com suspense do autor tomam vida própria e assombram o jogador, tornando embaçada a visão do que é real ou não. No meio disso tudo, sua esposa Alice é sequestrada, fazendo Alan Wake sair de seu estado de conforto, perambulando nas florestas sinistras da localidade em plena madrugada, negociando com a escuridão – literalmente.

A mecânica principal do game é de iluminar os inimigos, pois estão encobertos de escuridão, e desta forma, são invencíveis. Ao iluminar, essa “casca” será quebrada em instantes, e só então você usará a arma convencional para derrotar o game. Existe um botão de esquiva que tem uma janela bem grande para acertar a manobra.

O jogo de câmera durante esse momento é muito característico da Remedy, a desenvolvedora do game. Eles têm uma tara absurda, desde sempre, em câmeras lentas, uma influência bastante direta de Max Payne e por sua vez, dos filmes Matrix.

A forma com que os inimigos nascem (e renascem) no cenário eu diria que é bastante bem pensada, sempre em pontos estratégicos e querendo montar boas sequências de suspense com ação. Nem sempre as soluções que você for arranjar para passar por cada sufoco será a forma que o jogo esperava e por causa da cadência um pouco mais de improviso na natureza do jogo, existem bons momentos que serão totalmente ignorados porque você vai passar por eles de uma forma bem menos emocionante.

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Uma atração bacana que o game traz é de ter a faixa de comentários dos desenvolvedores. Na forma em que o game estava antes de ser remasterizado, você tem pequenos quadrados no canto da tela, onde os produtores aparecem de vez em quando explicando algo. São vídeos feitos com bastante cuidado e produção. Na forma do atual remaster você pode escolher esta opção mas pode também escolher uma segunda linha de comentários atualizados, em que desta vez temos Sam Lake vindo em forma de áudio e uma foto do mesmo no canto.

Seria interessante de se acompanhar se o áudio não ficasse tão misturado com o restante do jogos, principalmente se entrelaçando com as incessantes linhas de diálogo que o jogo possui, fazendo a tarefa de acompanhar os comentários bem desconfortáveis. Para piorar, não temos legendas, nem mesmo em inglês, para esses comentários.

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Uma pena. De qualquer forma, Sam Lake aparece nos comentários com muita, muita vontade de revelar que estão atualmente trabalhando em um Alan Wake 2, ele mal consegue segurar seu segredo. Mas vamos manter em segredo, Sam, pode deixar.

Falando em legendas, desta vez temos legendas em português brasileiro pela primeira vez, o que é uma adição maravilhosa para quem não domina nem a parte de leitura da língua inglesa. Alan Wake tem um nível forte de exploração com recompensa de texto e narrativa presenteando os mais curiosos. São colecionáveis diversos, e alguns não vão aparecer nos níveis de dificuldade mais baixos, fazendo uma segunda gameplay mais possível para aqueles que realmente se apaixonarem por Bright Falls. 

A maior qualidade do jogo está em sua ambientação, que faz o papel perfeito. A narrativa não se sustenta demais, ficando um pouco confusa e não andando muito em frente, apenas estabelecendo coisas que já estamos cansados de entender. Há quem diga que as batalhas são repetitivas, mas eu não acredito em repetitividade em videogames nem como uma característica pejorativa, nem como uma característica enaltecedora.

Repetição é o DNA de videogames. Cabe a nós estarmos investidos o suficiente ou não. Em Alan Wake, temos muitas batalhas sim, que pouco mudam suas mecânicas (embora o terreno sempre esteja fazendo algo para diferenciar a próxima batalha). O maior problema na percepção das pessoas é de tentar comparar com algo que seja mais voltado para a narrativa com pequenas pitadas de combate (o pior defeito de Quantum Break – o jogo que intercorre Alan Wake).

Alan Wake está fincado muito mais na natureza de Max Payne e Max Payne por sua vez também é um jogo bastante enraizado em ser apenas um videogames, com muita gameplay de ação e menos simulador de filme e seriado.

Por fim, a porção “remastered”: As cutscenes, que ocorrem por meio de filminhos, foram renderizadas de novo, com os personagens com rostos remodelados. Isso é muito raro de se ocorrer, indicando que Alan Wake é um jogo bem documentado, ao contrário do tratamento que a Konami deu a seus jogos clássicos, ou mesmo a Squaresoft com seus Final Fantasy.

Esses rostos não parecem nem piores, nem melhores. Parecem apenas diferentes, quase pendendo para o pior, exclusivamente no protagonista. O restante do jogo, bem, ele está construído para ser exibido em sua grande TV com grande nível de detalhes. No jogo original existem vários objetos de cena que eu sabia o que era, mas mais porque o jogo dizia o que aquilo é.

Agora eu sinto que consigo enxergar cada limite de barranco ou objeto em cenário interno, fazendo a caminhada nas noites serem muito mais sóbrias. Fora isso, não há grandes mudanças, o que já é de se esperar de um remaster. Do contrário, já estaríamos no remake gráfico.

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A falta de gore explícito – uma característica da Remedy em quase todos seus jogos, deixa uma responsabilidade grande para o jogo, já que é um jogo de terror. Independente disto, o trabalho é bem feito e consegue se realizar de forma cativante, semelhante ao teor empregado em Control (que pode assustar o jogador de formas muito diferentes também), e isso é valioso demais para uma indústria cheia de obviedades gráficas.

Porém, a narrativa que parece ser esticada demais, num personagem pouco interessante como o protagonista, faz as batalhas aparecerem tão vulneráveis quanto um bicho acuado no escuro que o protegia. Aí vem a reclamação das pessoas de que essas batalhas parecem tão repetitivas, quando na verdade é outro pilar do game que está atrapalhando.

Ouça o podcast sobre Alan Wake Remastered:

 

Nota
Geral
7.5
alan-wake-remasteredAlan Wake Remastered é mais uma obra importante da sétima geração que agora pode ser aproveitada por um público maior, já que a indústria só cresceu, muito mais, desde 2010. O jogo está em um preço muito convidativo e é bom convite até para aqueles que desejam rejogar a obra e outros que desejam verificar o que perderam numa plataforma tão importante.