A franquia Assassin’s Creed sempre esteve presente na minha vida, desde que joguei pela primeira vez a trilogia Ezio, quando eu tinha apenas 12 anos. O que me atraiu naquele momento foi a ideia de poder explorar momentos históricos e, mais importante, experimentar a adrenalina de assassinatos furtivos, parkour e uma narrativa profunda que nos transportava para diferentes períodos da história. Desde então, a série sempre me fascinou, seja com as inovações que apareceram ao longo do tempo ou com as jogabilidades renovadas, como a introdução do sistema de navios em Black Flag e a transição para um estilo RPG em Origins. Cada título trouxe algo novo, algo que me manteve interessado. Quando soube que Assassin’s Creed Shadows estava ambientado no Japão feudal, não pude deixar de ficar extremamente animado. O Japão, com sua rica cultura samurai, seus templos e paisagens, parecia o cenário perfeito para a franquia. A expectativa estava nas alturas. Agora, após várias horas de imersão, posso finalmente compartilhar minhas impressões sobre este título incrível.
Uma História de Vingança e Conexões Improváveis
A trama de Assassin’s Creed Shadows é multifacetada e envolvente, começando com a introdução de dois personagens centrais que seguem caminhos paralelos e, ao mesmo tempo, interligados. De um lado, temos Yasuke, um homem que foi resgatado no mar por padres católicos e levado ao Japão. Com o tempo, ele se torna um samurai treinado por um grande senhor feudal, um mestre em combate que, apesar de ser muito forte, carrega uma certa melancolia consigo. Do outro lado, temos Naoe, filha de um dos maiores guerreiros da província de Iga, cujo pai é considerado um dos maiores samurais da região. Ao longo da história, vemos que Naoe busca vingança por acontecimentos impactantes em sua vida, enquanto Yasuke segue um caminho completamente diferente, mas ao mesmo tempo, de alguma forma, seus destinos acabam se cruzando.
O que mais me atraiu nessa trama foi a maneira como as duas histórias se entrelaçam. Naoe, em sua busca implacável por vingança, se vê cercada por um mundo de intrigas e traições, enquanto Yasuke, que se vê preso entre suas obrigações e seu destino como guerreiro, tenta encontrar seu lugar em um Japão em tempos de grande turbulência. Não me aprofundarei mais para evitar spoilers, mas o que posso afirmar é que a dinâmica entre esses dois personagens é fascinante e, ao mesmo tempo, cheia de surpresas. Cada um com sua história, seus objetivos e motivações. O desenvolvimento dos dois ao longo do jogo é o que mantém a narrativa instigante e cheia de mistério.
No entanto, é importante destacar que, apesar de a história ser interessante e envolvente, não há algo realmente inovador ou que traga grandes surpresas. O jogo segue uma fórmula bem conhecida, com uma narrativa que não tenta reinventar a roda, mas sim, se aproveitar dos clichês e das dinâmicas da franquia Assassin’s Creed. No entanto, a abordagem de permitir que o jogador escolha entre uma história canônica ou um caminho de escolhas impactantes foi uma jogada inteligente da Ubisoft. Isso realmente eleva a rejogabilidade do título e torna a experiência mais personalizada, dando ao jogador a chance de moldar o destino de Yasuke e Naoe de acordo com suas próprias decisões.
A Diversidade de Estilos e Mecânicas de Combate
Em termos de jogabilidade, Assassin’s Creed Shadows oferece uma experiência bastante rica e variada, com mecânicas e estilos de combate que se complementam e se diferenciam de maneira eficaz. A primeira grande diferença, ao assumir o controle de Yasuke, é a sensação de peso. Ao contrário dos outros personagens da franquia, Yasuke é mais lento e pesado, o que exige do jogador uma abordagem mais cautelosa e menos frenética. No entanto, essa lentidão vem com a vantagem de um combate mais robusto e com golpes poderosos. Sua katana é um instrumento de morte, e o sistema de combate de Yasuke reflete essa brutalidade. O Iaijutsu, uma técnica de ataque extremamente rápida, é um dos destaques de Yasuke e traz uma sensação de poder incontrolável ao usar o personagem.
Mesmo que Yasuke seja um personagem focado no combate direto, ele ainda tem a capacidade de se esconder nas sombras, mas isso não se compara à fluidez com que Naoe executa seus movimentos. Naoe é uma assassina ágil, e seu estilo de combate é um reflexo disso. Ela se movimenta com rapidez e leveza, usando as sombras a seu favor e tendo acesso a uma gama de mecânicas furtivas que tornam a experiência de jogar com ela um prazer para quem curte uma abordagem mais estratégica. A diferença de ritmo e estilo entre Yasuke e Naoe foi uma das coisas que mais gostei no jogo. Alternar entre os dois personagens durante a missão não apenas torna a experiência mais dinâmica, mas também permite uma profundidade de gameplay que varia de acordo com o momento ou o tipo de missão.
Naoe se destaca por sua habilidade em utilizar o parkour e as mecânicas de furtividade com uma fluidez impressionante. É possível usar as sombras para se esconder e avançar pelos cenários de forma quase invisível, algo que traz uma sensação de controle absoluto ao jogador. Já Yasuke, embora também possa usar furtividade, é mais propenso a atacar diretamente seus inimigos. Sua movimentação no parkour é mais pesada, o que traz uma sensação de realismo à sua postura como guerreiro samurai. A alternância entre esses dois estilos de jogo não só foi uma adição bem-vinda, mas também deixou a experiência mais rica e menos repetitiva.
Além disso, Shadows oferece uma série de habilidades e upgrades para ambos os personagens. O sistema de progressão das habilidades permite que o jogador desenvolva suas capacidades ao longo do jogo, o que torna o combate ainda mais interessante. As habilidades de Yasuke incluem melhorias em seu ataque, resistência e resistência ao dano, enquanto Naoe foca em habilidades furtivas e agilidade, tornando-a ainda mais mortal quando se esgueira pelas sombras. Embora o sistema de habilidades seja algo já visto em outros títulos da franquia, ele ainda consegue trazer uma sensação de personalização e adequação ao estilo de jogo do jogador.
O Japão Feudal em Sua Forma Mais Bela
Visualmente, Assassin’s Creed Shadows é uma verdadeira obra-prima. Os detalhes dos templos, as vilas tradicionais, as florestas densas e os campos de arroz são lindamente renderizados, criando um mundo aberto vasto e incrivelmente imersivo. O nível de detalhamento nos cenários é surreal. Cada área é rica em história e cultura, e a sensação de estar em um Japão do século XVI é palpável. A Ubisoft fez um trabalho excelente ao criar um ambiente aberto que não apenas parece bonito, mas também funciona como uma parte viva do jogo. Os NPCs, os eventos dinâmicos e as interações entre os personagens e o mundo ao seu redor fazem com que o Japão feudal se sinta vibrante e dinâmico.
A trilha sonora, por sua vez, complementa a imersão de maneira perfeita. Composta por músicas que evocam tanto a grandiosidade quanto a melancolia do Japão feudal, a música do jogo é um dos seus pontos altos. As composições orquestrais, misturadas com sons tradicionais japoneses, criam uma atmosfera que captura perfeitamente a essência da cultura e do período histórico em que o jogo se passa.
Sistema de Gerenciamento da Vila
Outra adição interessante em Assassin’s Creed Shadows é o sistema de gerenciamento da vila, que lembra muito o que vimos em Assassin’s Creed Valhalla. No entanto, Shadows leva isso a um nível superior, permitindo que você construa e modifique sua base em uma área mais aberta e com mais liberdade de escolha. O sistema de construção e personalização da vila é algo que me viciei completamente. Passei horas modificando e ajustando a minha base, criando novos edifícios e melhorando a infraestrutura. Esse sistema não apenas serve como uma forma de personalização, mas também traz benefícios para o progresso do jogo, com novas habilidades, itens e recursos sendo desbloqueados conforme a vila se desenvolve. Esse tipo de sistema me fez sentir que estava realmente criando algo pessoal dentro do jogo.
Desempenho
Em termos de desempenho, joguei Assassin’s Creed Shadows com um PC de configurações intermediárias: uma RTX 4060, um Ryzen 5 3600, 16 GB de RAM em dual channel e SSD. Com todas as configurações no máximo, o jogo rodou entre 60 e 80 FPS, com o DLSS em qualidade e a tecnologia de frame generation da Nvidia ativada. Embora o jogo tenha rodado de maneira bastante fluida com essas configurações, percebi que o uso do DLSS deixou o jogo um pouco mais pesado. Quando as configurações foram ajustadas para níveis mais baixos, o desempenho foi muito mais suave, sem a necessidade do DLSS. Em termos de bugs, não encontrei grandes problemas técnicos ou falhas que atrapalhassem minha experiência de jogo. O título funcionou de maneira muito estável, o que, sem dúvida, é um ponto positivo.
Uma Obra-Prima da Franquia
Chegar ao fim de Assassin’s Creed Shadows me fez perceber o quanto a franquia evoluiu, mas também o quanto se mantém fiel a si mesma. Yasuke e Naoe não são só dois protagonistas jogáveis – são extremos opostos de um mesmo conflito. Uma luta com brutalidade e presença, o outro se move como um sussurro na escuridão. E essa dualidade não é só narrativa, mas se estende à gameplay, transformando cada missão em uma experiência diferente.
A Ubisoft pode não ter reinventado a roda, mas refinou a experiência ao ponto de me fazer perder horas explorando, ajustando cada detalhe da minha vila e experimentando cada abordagem possível. A liberdade de escolha – seja no combate, na furtividade ou na forma como a história se desenrola – é o que torna Shadows tão envolvente. E, diferente de alguns títulos recentes da franquia, este conseguiu equilibrar RPG e Assassin’s Creed de uma forma que me prendeu do início ao fim.
No fim das contas, Shadows não é apenas um jogo sobre vingança, conspirações e batalhas. Ele é sobre como cada decisão molda o caminho, sobre o peso que carregamos quando a lâmina já foi guardada. Não é uma revolução na série, mas é um lembrete do porquê Assassin’s Creed ainda consegue entregar experiências que ficam na memória.
E se tem uma coisa que este jogo me ensinou, é que as sombras nunca se dissipam por completo. Elas apenas aguardam o momento certo para agir.