Era uma unanimidade por parte dos grandes fãs de jogos de estratégia, dizer que Company of Heroes 3 era um dos RTS mais esperados de 2023, especialmente para os fãs de jogos inspirados na 2ª Guerra Mundial.

A Relic Entertainment deixou sua marca na história dos videogames com o primeiro Company of Heroes, lançado em 2006 e recentemente esteve por trás do renascimento de outro RTS clássico, Age of Empires IV, que você também pode ler sobre ele, em minha análise aqui no Gamer Point. Embora eu tenha numerado algumas coisas que não me agradaram no jogo publicado pela Microsoft, tive uma experiência um pouco mais positiva em relação a Company of Heroes 3.

Tenho Company of Heroes 2 como um dos meus títulos favoritos desse gênero tão querido por boa parte dos usuários de PC. Afinal, o caos causado por uma chuva de mísseis caindo sobre uns pobres coitados que nem sabem para onde ir para escapar da morte iminente, é um feito que poucos jogos de estratégia são capazes de mostrar nesse grau de destruição em grande escala como a franquia Company of Heroes faz.

Desde 2006, sempre foi assim, mas mesmo sabendo o que iria encontrar no novo jogo da Relic Entertainment, ainda assim, fiquei impressionado com a intensidade e brutalidade de suas batalhas na Segunda Guerra Mundial. É absolutamente espetacular. Explosões, tiroteios e chamas sem fim que farão seu coração disparar enquanto você tenta sobreviver ao inferno da guerra que o confronta.

De fato, as batalhas continuam tão épicas que a cada área que você percorre no campo de batalha, você acumula “momentos inesquecíveis” que fazem você querer mostrar para algum coleguinha o quão brutal é aquilo.

Um mapa com uma campanha híbrida e que tenta explorar outros gêneros

Enquanto os dois primeiros jogos de Company of Heroes ocorreram no ocidente, mais precisamente após os desembarques da Normandia e em sua linha de frente oriental, ambos durante a 2ª Guerra Mundial, respectivamente, Company of Heroes 3 explora alguns capítulos da grande guerra onde nos coloca na linha de frente das forças armadas no Norte da África e na Itália, entre aproximadamente 1942 e 1944. As quatro facções jogáveis representam as forças envolvidas neste conflito: Forças Americanas, Forças Britânicas, Wehrmacht alemã e Afrikakorps alemã.

Outras nações que estiveram historicamente envolvidas são representadas de forma diferente: os britânicos também podem contar com tropas da Commonwealth, incluindo Gurkhas e forças indianas, enquanto a facção Afrikakorps pode chamar unidades de elite italianas e armaduras para apoio.

A maior força de Company of Heroes 3 se encontra em seus modos single player, claro, que nos dá a possibilidade de jogar um tutorial ou batalhas com grande liberdade antes de mergulhar nas duas campanhas principais, muito bem definidas e diferentes entre si para nos fazer desfrutar delas por bastante tempo, já que contam com um grande fator de rejogabilidade.

A campanha mais duradoura, maior e diferente do que estamos acostumados na franquia Company of Heroes é a Campanha Italiana, que possui uma campanha estilo Total War, que nos coloca em um gameplay por turnos em um mapa tático que se soma ao habitual combate em tempo real com pausa tática.

Como vamos falar sobre a jogabilidade do campo de batalha como tal mais tarde, vamos nos concentrar em tudo o que o mapa tático e esse modo de jogo específico contribuem, começando porque estamos enfrentando uma campanha bastante longa e muito jogável, pois aposta em um estilo sandbox e propõe vários caminhos diferentes, podendo escolher o que queremos, além de certas decisões que devemos tomar como generais e que nos farão ganhar ou perder a lealdade dos comandantes que seguem nossas ordens.

Na prática, essas decisões que tomamos e essas lealdades que recebemos terão um papel fundamental para ter bônus específicos ou novas possibilidades na forma de missões secundárias muito interessantes que, após completá-las, também nos darão alguns recursos extras. De fato, uma das coisas que mais me interessei são todos os caminhos que podemos seguir para alcançar nosso objetivo de libertar a Itália das forças nazistas.

Além disso, existem outros detalhes que achei interessante, como a sinergia entre unidades, poder usar, por exemplo, um avião de reconhecimento para ver onde estão as forças inimigas para puni-las com nosso arsenal de artilharia, a importância do gerenciamento de recursos ou como tudo vai mudando em função do avanço das nossas tropas, embora também acreditemos que este mapa táctico poderia ser um pouco melhor explorado, sobretudo na hora de controlar os diferentes batalhões que temos à disposição, fundindo-os ou tentando sitiar um cidade.

Esse é realmente um ponto falho, já que o jogo peca não só nessa interface, como em várias outras, fazendo com que ele não tenha parecido evoluir em nada do seu antecessor. Em outros momentos, é possível perceber uma falsa sensação de liberdade, já que por muitas vezes o comportamento da inteligência artificial, meio que te aguarda tomar determinadas decisões para então poder tomar uma ação.

Apesar de alguns problemas, eu realmente me diverti bastante com essa adição de um mapa tático. É uma pena que a Relic não trouxe ele para o modo multiplayer, pois de fato, seria algo extremamente bem-vindo e que criaria muito mais opções de jogo.

O brilho da tradicional campanha

Apesar do mapa tático ter suas doses de missões no estilo Company of Heroes, é claro que o estúdio não iria perder a oportunidade de desenhar também uma campanha tradicional, e desta vez situada no Líbano, tendo como principais protagonistas as tropas do general Rommel. E a verdade é que é um grande prazer poder lutar num cenário tão marcante e diferente como o Norte da África. O poder dos veículos blindados alemães é brutal e o jogo não hesita em demonstrar essa superioridade com uma série de missões explosivas que não são nada ruins, principalmente pela variedade de objetivos que propõem ao mesmo tempo.

Company of Heroes 3 tem algumas missões mais lentas e não tão empolgantes, é verdade, mas quando o jogo fica intenso não dá nem para piscar os olhos. São mapas gigantes com tiroteios e bombardeios acontecendo tudo ao mesmo tempo e você precisando lidar com tudo isso simultaneamente. Ele coloca você contra uma série de batalhas que são uma verdadeira carnificina com tanques indo e vindo enquanto soldados morrem envoltos em chamas, ou são explodidos por rajadas de estilhaços da aviação. Então você nunca está em repouso.

Até mesmo meia dúzia de minas podem acabar com seus sonhos de grandeza em questão de segundos, já que elas podem, de fato, interromper o seu avanço pelos flancos tendo que ultrapassar uma determinada ponte que você já estava planejando meia hora atrás. Só que você não contava com várias minas terrestres que ao serem tocadas pelos trilhos do seu tanque, tudo foi para os ares. A sua infantaria, e claro, a ponte que serviria como forma de você flanquear o inimigo. Ok, isso foi muito específico né? True story!

Apesar de esta campanha estar comprometida com um formato tradicional, existem diferenças, já que os combates giram em torno de tanques, fazendo-nos jogar de uma forma um pouco diferente, podendo controlar muitos veículos diferentes (provavelmente mais do que em nenhum outro capítulo da franquia) e tendo que enfrentar 8 missões diferentes, todas elas muito divertidas e inspiradas, fazendo com que a variedade de missões seja de fato impressionante e uma bela evolução na franquia.

Batalhas tradicionais com uma IA bipolar

Passando a falar sobre os confrontos como tal ou a jogabilidade mais pura dentro do campo de batalha, você pode esperar a fórmula clássica de Company of Heroes como sempre, temperada com alguns detalhes como a maior importância da artilharia, tanques de combate ou nas possibilidades que temos de destruir a grande maioria dos edifícios que vemos em cada mapa.

Nestas batalhas mais tradicionais, será fundamental, como sempre, conquistar zonas dos mapas que nos permitam obter recursos mais rapidamente e, assim, poder melhorar as nossas tropas ou pedir reforços mais rapidamente, ao mesmo tempo que podemos pausar o jogo a qualquer momento para ver tudo o que acontece e escolher nosso próximo movimento. É altamente recomendável avançar aos poucos, com unidades na retaguarda cobrindo o movimento de quem está abrindo o caminho, assim como aconteceria em um campo de batalha real.

Preciso dizer isso, pois mesmo já tendo jogado outros jogos da franquia, ainda assim, eu tento meter o louco e brincar de Rambo. Mas não se engane, Company of Heroes não é tão casual como em algum momento possa parecer. Ele irá te punir mais cedo, ou mais tarde, por qualquer erro que seja.

Mas de fato, o melhor é aquela sensação épica que o jogo Relic transmite tão bem em todas aquelas missões que te propõem a sobreviver ao próprio inferno. Ver dezenas de soldados correndo pelas trincheiras enquanto os tanques explodem e continuam seu curso sem rumo, porque ninguém mais está vivo, é assustadoramente espetacular. É preciso vivê-la para entender a intensidade e a brutalidade dessa guerra, que parece incrível.

Mas infelizmente nem tudo são flores. Para a construção de um jogo, ainda mais se tratando de um RTS, você pode acertar em tudo, como Company of Heroes 3 tenta. Mas sem dúvida alguma, o mais importante nesse gênero é um bom uso da IA. Em meados de 2023, acredito que uma IA deve ser inteligente o suficiente para reagir com mais eficácia ao fogo de artilharia e morteiro. Por exemplo, na dificuldade difícil, poderíamos facilmente bombardear peças anti-tanque ou tanques que localizamos por meio de batedores e que não se moveram do local.

As falhas ficam ainda mais explícitas sobre quando os projéteis de artilharia começam a cair, eles se movem, mas quando param, ficam exatamente no mesmo lugar sem mudar de posição, prontos para o próximo minuto, quando podemos usar nossa artilharia novamente, podemos bombardeá-los novamente na mesma posição até que sejam aniquilados, algo que desanima totalmente o quão épico Company of Heroes 3 poderia ser em mais ocasiões.

Além disso, não é a única situação em que a IA falha. Em um jogo em que os tanques receberam tanta importância, acreditamos que a maneira como eles se movem na batalha poderia ter sido melhor monitorada, pois poderiam expor muito menos seus pontos fracos ao inimigo, inclusive os nossos, ao responderem de forma errada em uma boa parte do tempo as nossas ações. Em outros momentos, é possível ver soldados inimigos tomando noção de uma tentativa de serem flanqueados, e continuarem atirando especificamente na linha de visão que estavam desde o início, sem tentar reagir em nenhum momento, a nossa estratégia óbvia.

Outro ponto negativo nesse novo jogo, é que a câmera não permite que você aumente o zoom muito perto para observar melhor a ação ou para diminuir o zoom. Muitas vezes eu gostaria de poder diminuir o zoom mais para manter uma visão geral de tudo o que está acontecendo, já que apesar de útil, o mini-mapa não entrega todas informações que eu gostaria.

E já que estou listando coisas que não gostei, preciso também deixar uma nota crítica final: a música de fundo do jogo pode se tornar bastante repetitiva às vezes. Por vezes parece ser silenciosa ou inexistente, e por outras muitas vezes, é como se estivéssemos escutando o mesmo amontoado de músicas de suspense tocando repetidamente e de forma nada condizente com o jogo.

Uma variedade de modos de jogos que darão sobrevida

Se por um lado a campanha pode entregar muita rejogabilidade, muitos sequer irão colocar as mãos nela. Os jogadores mais hardcores da franquia, realmente preferem se deliciar na boa variedade de modos de jogo que Company of Heroes sempre proporciona. É claro que estou falando dos tradicionais 1v1, 2v2, 3v3 ou 4v4 que podem ser jogados contra jogadores reais em modos multiplayer online, o que sempre vem a ser o principal ouro da franquia.

Sem falar também, que aqui são modos sandbox onde você pode personalizar sua batalha da maneira que você preferir. Ou seja, quer brincar apenas de combate de infantaria? Seu lugar é esse. Quer uma guerra de tanques? Vá fundo. Personalize a seu bel prazer e crie sua grande guerra para ficar marcada na história.

Além de tudo isso, o jogo ainda conta com uma boa implementação com a Steam Worskshop, e isso é algo que faz com que o jogo seja praticamente infinito, já que jogadores podem criar mapas para serem publicados e baixados por outros usuários. Além de claro, modificações que podem mudar completamente a estrutura de gameplay do jogo. E sim, estou falando também de um bom e velho Cheat Engine, que também é disponibilizado na steam workshop.

Mas falando sobre os modos de jogo citados acima, a vitória em um dos mapas 1v1, 2v2, 3v3 ou 4v4 requer um ato de equilíbrio cuidadoso. Existem muitas unidades diferentes à sua disposição, e cada uma delas limita ou reforça uma outra unidade específica. Você pode ser capaz de tomar um ponto de captura com infantaria leve, mas isso depende de quais unidades seu inimigo está enviando para decidir quais contra-unidades você deve produzir como reforços.

Além de chamar arsenais como metralhadoras, morteiros e unidades lança-chamas, também é possível construir defesas de campo usando engenheiros (e protejam seus engenheiros a todo custo). No entanto, há sempre um limite para a população do seu exército, então você é constantemente mantido em seus dedos dos pés sobre qual unidade você precisará, quais tecnologias pesquisar e como gastar pontos em grupos de batalha, com estes sendo uma nova adição, que permitem que você chame unidades especializadas, como infantaria de elite ou destruidores de tanques.

Sem grandes problemas tecnicamente

Em pleno 2023, em uma indústria que cada dia que passa nós vemos muitos jogos sendo lançados com inúmeros problemas técnicos no PC, podemos dizer que a Relic fez um bom trabalho. A nível visual, acredito que o jogo é bem bonito, apesar de que eu gostaria de ver algo num nível mais alto. A franquia Total War me deixou mal acostumado com visuais em jogos de RTS. Mas algo que de fato é muito bem-vindo, é a adição da destruição dos edifícios nos cenários, isso aqui é realmente muito bem feito nesse jogo, ainda mais por se tratar de um elemento visual que reage de acordo com nossas ações no gameplay.

As unidades também estão bem detalhadas, mas não mais do que eu mais apreciei durante minhas horas de jogatina: os veículos. A interface do jogo é bem estruturada e atraente, mas ainda assim me deixa com um gostinho de que poderia ser melhor. Eu sei que não dá para pedir muitas mudanças, mas eu não senti um salto de evolução muito grande de um jogo pra outro nesse quesito.

E por falar em interface, algo que surpreende negativamente é a aparência dos menus principais do jogo, muito pouco trabalhados e básicos demais, parecendo até uma build inicial, ou um jogo indie duvidoso.

Em desempenho, não tive grandes problemas com ele. Usando uma RTX 2070 Super, Ryzen 3700x e 32gb de ram, não notei grandes problemas durante meu gameplay. Apenas algumas quedas de fps em algumas interseções cinemáticas, mas nada que me atrapalhou muito.

Eu até tentei jogar o jogo no Steam Deck, mas em sua semana de lançamento, ele apresentou problemas na interface, que ao que parece é um problema do jogo com telas menores. Mas acredito que com o passar dos dias, exista um update que traga melhorias para o aparelho portátil da Valve.

Vale a pena?

Havia o desejo de toda uma comunidade com um novo Company of Heroes e fico feliz em dizer que esse retorno correspondeu às expectativas. A intensidade e a espetacularidade das batalhas que este RTS recria estão a um nível que poucos jogos de estratégia atingem, e realmente é algo a se elogiar o jogo se atrever com uma novidade tão importante como um mapa estratégico que funciona muito bem na hora de criar um conflito “vivo ” em constante evolução.

Os inimigos às vezes são muito passivos e nem todas as missões são tão empolgantes quanto em outros Company of Heroes, mas assim que você entrar nessa guerra, por mais simples que seja sua ação, será difícil não sair com um sorriso enorme no rosto.

Dito isto, é válido dizer que essa é uma boa continuação apesar das falhas em alguns pontos importantes para um título de RTS. Acredito que vá agradar os antigos fãs da franquia, mas muito mais que isso, esse é o título definitivo para se entrar na saga de jogos, já que é o que traz mais melhorias de vida, principalmente para novatos no gênero.

Nota
Geral
8.0
company-of-heroes-3Company of Heroes 3 é um jogo muito completo para os amantes de estratégia, com uma campanha altamente rejogável, uma boa variedade de modos de jogo e com suporte ao steam workshop. A IA poderia ser melhor trabalhada e alguns efeitos de som 3D também.