A ironia de que o gênero de simulação sempre entra nas listas dos videogames mais vendidos do ano nunca deixa de me surpreender, mas um motivo muito provável que fazem esse gênero fazer tanto sucesso, é algo que que comumente damos aos videogames quando precisamos dizer o porquê gostamos deles: fuga da realidade.

Muitos destes jogos simulam(ou pelo menos tentam) atividades que são a realidade de muitas pessoas, embora o fator que importa é fazer com que o seu público-alvo que nunca teve a oportunidade de praticar uma determinada atividade que está presente em um jogo, se sinta fisgado por ele.

Focando mais nos simuladores de esportes, podemos dizer que em muitos casos seus usuários praticam o esporte no qual jogam o videogame, e podem até praticá-lo em nível semi-profissional inclusive, mas o mais provável é que a maioria nunca vai conseguir ganhar a vida com eles, mas por outro lado, a fuga da realidade para os videogames permite isso. O Nacional de Patos-PB jamais iria ganhar um torneio de nível nacional, mas no meu FIFA eu consegui fazer isso.

Fugindo da realidade. Mas ao mesmo tempo que jogo um FIFA, eu ainda continuo me enxergando nele, afinal toda semana estou batendo um futebol com os amigos, e essa é a atividade de milhões de brasileiros semanalmente. O futebol é um esporte democrático a ponto de fazer ele se tornar popular desta maneira. E simuladores nada mais são do que experiências que te permitem sonhar a ponto de quem sabe, te proporcionar algo novo em sua própria realidade.

Muitos títulos desse gênero se permitem isso. Curiosamente, se falamos de títulos de golfe, como o caso do jogo que intitula este texto, posso dizer que é extremamente provável que a maioria das pessoas que vão colocar a mão nele, nunca o tenham praticado na realidade, por isso EA Sports PGA Tour e outros jogos de golfe tem uma tarefa muito difícil: transmitir para os jogadores uma experiência de simulação para pessoas que nunca praticaram o esporte. Falando propriamente sobre o cenário brasileiro, isso fica ainda mais visível. De 10 pessoas que você conhece em seu círculo social, quantas praticam ou já praticaram Golfe?

Abaixo vamos conferir se a Electronic Arts retorna pela porta da frente ao mundo do golfe com o EA SPORTS PGA TOUR após sete anos de ausência.

Um retorno com uma curva de aprendizado

EA Sports PGA Tour é um jogo difícil. Eu poderia dar alguns rodeios para chegar a essa conclusão neste texto, mas a verdade é que é melhor deixar claro desde o início antes de entrar totalmente em sua seção jogável e como ela se desenrola quando começamos a pisar em seus campos. Praticar golfe na vida real é complicado, principalmente para iniciantes, e o título da EA Sports se voltou para essa ideia. Desde seu sistema de rebatida, passando pela interface com opções e efeitos do taco, até a física realista da bola ao percorrer os campos magnificamente escaneados do jogo. Nas primeiras horas é muito difícil conseguir executar uma tacada perfeita, daqueles que você diz ‘eu acertei’. Pelo menos foi o meu caso.

O que certamente é uma boa notícia para golfistas experientes e amantes de jogos de golfe, mas de fato não é tão acessível para novos jogadores. Resumindo, o EA Sports PGA Tour é um jogo complicado para os novatos. Se colocarmos na pauta de que os novatos possam ser brasileiros, que nunca viram esse esporte na tv aberta, por exemplo, a curva de aprendizado se torna ainda maior, precisando que você ainda entenda antes de tudo todas as regras que cercam os vastos campos de golfe. O problema é agravado se levarmos em conta que o jogo é totalmente em inglês, assim como Madden NFL, outro título de simulação da EA, mas focado também no público americano. Se você não é um especialista em terminologia de golfe ou simplesmente não é um grande poliglota que domina o idioma de Shakespeare, esta será uma dificuldade a mais em uma experiência já complexa.

Mas vamos entrar em coisas jogáveis. Dar uma tacada no EA Sports PGA Tour funciona única e exclusivamente através do movimento para baixo e depois para cima do analógico do nosso controle. Este sistema, o mais difundido nos jogos de golfe, é o que oferece a experiência mais próxima do golfe real, mas também tem os seus inconvenientes. Para começar, é uma fórmula que pode gerar erros devido à menor imprecisão e, para continuar, é muito afetada por qualquer leve desvio que nosso controle possa ter. Se o seu controle não estiver nas melhores condições, como por exemplo, drift no analógico, é possível que dar umas tacadas no EA Sports PGA Tour se torne uma provação.

O restante das ações que podemos realizar antes de executar uma tacada incluem selecionar o taco certo, diferentes tipos de tacadas ou aplicar giro na bola para evitar obstáculos ou aliviar a ação do vento. Também temos um botão para aumentar o zoom na área onde nossa bola cairá previsivelmente, para que possamos controlar melhor a direção do golpe. Nesse sentido, e principalmente estando dentro ou perto da grama, me deparei com algumas inconsistências e tomadas de câmera que, ao invés de ajudar a posicionar, dificultam ainda mais, gerando perspectivas confusas que dificultam a execução de uma boa tacada.

Física digna de next-gen

Aqui estamos diante de um jogo que dá todo indício de que não seria possível existir em uma geração passada. Claro que esta decisão tem uma série de implicações para o jogo em si. O mais marcante em minha opinião é o que tem a ver com a física da bola e seu comportamento ao entrar em contato com os campos. A EA Sports fez um trabalho meticuloso ao tornar todos os campos existentes na vida real uma réplica perfeita do jogo por meio de digitalização, relatórios e documentos oficiais. Não há dúvida que isso se percebe logo que se começa a fazer alguns buracos logo nos primeiros campos de golfe.

O mesmo vale para a física da bola. Quando fazemos um arremesso e a bola bate na grama, a vemos quicar com força, correr muitos metros e ser afetada pelo vento ou qualquer monte no campo. Tanto que nos primeiros momentos com o jogo não dá nem para acreditar no que estamos vendo. No nosso caso particular, era muito comum pensar que havíamos feito um chute perfeito para deixar a bola a poucos metros da bandeira e ver como ela finalmente correu mais do que o necessário até cair por uma rampa e nos levar diretamente a um bunker ou em uma caixa de areia.

Estamos diante de um verdadeiro simulador, portanto você irá precisar de algumas horas até se habituar com o looping de gameplay, e claro, com a jogabilidade e física dele. O problema é que o EA Sports PGA Tour não perdoa. O menor desvio no golpe com o taco ou um desvio muito pequeno na força ou direção do taco penaliza muito. O jogo faz você aprender com erros grosseiros. Mas conseguir um birdie(encaçapar a bola com menos tacada do que o previsto para aquele buraco), ou até mesmo um par(encaçapar com o número de tacadas previsto), já é extremamente satisfatório e recompensador.

Um grande playground de golfe

O EA Sports PGA Tour é um simulador de golfe que se concentra na liberdade e no conteúdo. Isso já é algo padrão da EA Games, que sempre oferece seus títulos de esporte com uma variedade muito boa de modos de jogo. O título co-desenvolvido pela EA Orlando e EA Madrid foi concebido para nos dar opções para tudo: podemos personalizar nossa aparência, nosso estilo e nosso equipamento em detalhes, decidir como acertar cada bola com 20 tipos diferentes de tacos, podemos escolher entre dezenas de modos de jogar, entre muitas outras atividades. É, em suma, um jogo em que é fácil sentirmo-nos à vontade e encontrar algo que nos apeteça, quer tenhamos cinco minutos e queiramos jogar um jogo rápido ou se tivermos uma hora e quiser competir online.

É também um jogo feito pensando em todos os tipos de jogadores, com muitas opções de acessibilidade e dificuldade para ajudar os menos experientes com o esporte a se acostumar com as peculiaridades e controles do jogo. De fato, no modo Carreira – que, como você pode imaginar, nos oferece os típicos elementos de RPG para subir de nível e melhorar nossas estatísticas, além de uma série de desafios para conseguir um patrocinador, etc. Alternar as nossas competições com treinos para melhorar tanto o nosso golfista como nós com o controle.

Assim, encontraremos um número infinito de modos de jogo, tanto para um jogador quanto para até 16 jogadores, tanto offline quanto online. Jogos rápidos para desfrutar de jogos de todos os tipos com diferentes regras, competições classificatórias ou torneios online, ou eventos sociais para enfrentar outros usuários online, mas sem pressão. Até mesmo uma bela coleção de desafios para completar todos os tipos de objetivos de habilidade. É realmente de se elogiar o que a Electronic Arts nos oferece com o EA Sports PGA Tour em questão de conteúdo de jogo.

Infelizmente, o jogo não se livra das clássicas microtransações características dos jogos da EA. Isso faz com que um dos menus importantes do jogo seja a Loja, onde podemos comprar equipamentos cosméticos para o nosso jogador de golfe com a moeda do jogo ou, se quisermos atalhos, com a moeda obtida com dinheiro real. É curioso que o único texto que aparece em português ao longo do jogo é aquele que explica para que serve a moeda do jogo e sobre como adquiri-la.

“Olha, parece até real!”

Quem viveu a evolução dos 32 bits para 64 bits com certeza já se pegou ou ouviu algum amigo dizendo que o jogo é tão bonito que parece até realidade. Com EA Sports PGA Tour, essa frase realmente faz jus ao real sentido dela. Os jogos de golfe têm a virtude (diria praticamente única no gênero esportivo) de oferecer uma experiência calma e relaxante.

O EA Sports PGA Tour não o desperdiça e faz com que seu título pareça espetacular. A modelagem dos personagens (e principalmente do público que cerca os campos) pode não ser seu ponto forte, mas as paisagens, as construções, a grama, os campos em geral ficam realmente maravilhosos. A isto devemos acrescentar a já mencionada física da bola, que na minha opinião é um dos grandes pontos positivos do jogo.

Essa gloriosa parte visual, no entanto, também envolveu sacrifícios. Tanto que o EA Sports PGA Tour roda a 30 quadros por segundo nos consoles sem nenhuma opção gráfica alternativa que nos permita aumentá-lo. Em geral, não é um problema, porque como um bom jogo de golfe, sua ação é muito lenta e a experiência é agradável, apesar dessa limitação.

A parte sonora, por sua vez, brilha com luz própria. Aos sons relaxantes de um campo de golfe, às comemorações do público e aos maravilhosos – e não posso dizer o mesmo da narração, pois opto por desligá-la-, se juntam a uma boa seleção de músicas que nos acompanham nos menus e que tornam a nossa experiência mais agradável.

Uma ótima experiência que você pode testar antes de comprar

Como não poderia ser diferente, não posso recomendar logo de cara, principalmente para o público brasileiro, que faça um investimento em um jogo cujo o esporte não é difundido no país, o que iria acarretar antes de mais nada, um aprendizado sobre as próprias regras do jogo e então, aprender a jogar o jogo.

O que posso recomendar com toda certeza, é que caso você seja assinante do EA Play, ou do Game Pass, cujo EA Play está incluso, você pode testar o EA Sports PGA Tour por até 10 horas. Esse é um tempo onde você pode facilmente ter a plena certeza de que gostou do jogo a ponto de comprá-lo.

Essa dica é válida não só para este, mas como para outros inúmeros títulos disponíveis no EA Play.

Dito isto, embora não seja um produto imaculado, EA Sports PGA Tour é sinônimo de qualidade em termos de simulação de golfe. Suas opções de jogo, sua excelente recriação dos campos e campeonatos mais emblemáticos do esporte e seu amplo e extenso modo de carreira e desafios farão a alegria dos fãs do golfe virtual.

O melhor é a sensação de aprender a dominar a bola e o jogo com suas tecnologias, e que é gratificante ver como melhoramos, principalmente depois de entender os meandros da mecânica de swing. A imprevisibilidade da bola não vai transformar o jogo para os mais experientes numa simples repetição de remates e será sempre um desafio. O maior ponto negativo, continua sendo a falta de localização para o português como em todo título de esporte mais voltado para o público americano ou britânico.

Nota
Geral
8,0
ea-sports-pga-tourA EA teve um excelente retorno aos campos de golfe com EA Sports PGA Tour. A tecnologia dos consoles de nova geração e a grande variedade de modos de jogo, contribuem para um excelente simulador. Mas a falta de localização atrapalha demais os planos de um possível novo fã brasileiro.