Enotria: The Last Song é um soulslike que mergulha profundamente no folclore italiano, trazendo elementos de RPG em um cenário repleto de cultura e mitologia. Desenvolvido pela Jyamma Games, o jogo nos transporta para uma versão encantada da Itália, onde a música deu origem à criação da humanidade. Uma premissa poética e única, que me cativou logo de início.
O jogo se destaca por uma narrativa fragmentada, em que detalhes da história são revelados aos poucos, ao estilo dos melhores títulos do gênero. No entanto, à medida que avançava, a confusão e algumas lacunas na trama começaram a me deixar com a sensação de que algo não se encaixava.
Um Parry para Todos os Momentos
Como fã de jogos soulslike, sempre espero uma dificuldade brutal, e o combate de Enotria: The Last Song parecia promissor à primeira vista. Aqui, a fórmula conhecida de atacar, desviar e, claro, o famoso parry está presente. No entanto, as coisas não saíram como eu esperava. Embora o combate tenha sua dificuldade, especialmente contra bosses, ele me pareceu inconsistente. A esquiva, por exemplo, foi mal aproveitada; o parry, por outro lado, tornou-se meu principal aliado, mas de uma maneira simplória demais. Aprender o tempo certo para aparar os ataques foi tudo que precisei para derrotar qualquer boss, o que, em certo ponto, tirou parte do desafio.
Por mais que o jogo tentasse trazer variação com bosses que mudam de estágio, a precisão necessária para acertar o parry ainda facilitava bastante. Entretanto, um ponto que me incomodou foram os ataques “teleguiados”. Diversas vezes, ao tentar desviar de um golpe, o ataque simplesmente fazia uma curva ilógica, me atingindo de formas inesperadas.
Uma das mecânicas mais fascinantes de Enotria é o uso das máscaras. Cada uma delas oferece um conjunto de benefícios e malefícios, o que adiciona uma camada estratégica interessante ao jogo. A máscara da Mudança, por exemplo, aumenta o dano de ataques fortes, mas vem com o preço de sofrer mais danos em todas as áreas. Gostei muito de como essas máscaras se conectam com a lore do jogo, complementando a narrativa de forma criativa. É uma dessas adições que me fez pensar: “Isso faz sentido”, o que não é algo que eu encontro com frequência.
Explorando a Itália
Se há algo que Enotria: The Last Song faz com maestria, é o seu mundo visual. A Jyamma Games capturou a essência da Itália de uma forma belíssima. As cores vivas, que são incomuns em outros jogos do gênero, combinam perfeitamente com o cenário e passaram a sensação genuína de estar explorando terras italianas. O mapa é vasto e detalhado, cada canto parece carregado de história, e a ambientação é rica e imersiva. A trilha sonora também desempenha seu papel de forma impecável, embora existam momentos de silêncio que me tiraram um pouco da atmosfera.
Os NPCs de Enotria são únicos e bem construídos, com diálogos e personalidades que chamam a atenção. No entanto, a inteligência artificial me decepcionou um pouco. Em muitos momentos, os inimigos se comportaram de maneira previsível ou errática, tirando um pouco da tensão que o combate deveria ter. Mesmo com bosses impressionantes, a fraqueza na IA ficou evidente, especialmente em lutas mais complexas.
Desempenho
No quesito desempenho, joguei Enotria em um Ryzen 5 3600 com uma RTX 4060 e 16 GB de RAM. O jogo rodou suavemente, mantendo uma média de 70 FPS nas configurações máximas, com DLAA ativo em 1080p nativo. Quando ativei o DLSS 3, o desempenho subiu para 101 FPS, mas em algumas áreas mais carregadas, percebi uma queda para cerca de 80 FPS. Felizmente, esses pequenos soluços não atrapalharam a jogabilidade de forma significativa.
No entanto, me deparei com um bug que se repetiu algumas vezes: sempre que eu morria, minhas memórias, essenciais para o progresso, ficavam presas em locais inacessíveis. Isso me obrigava a reiniciar o jogo para recuperá-las, o que quebrou um pouco o ritmo. Fora isso, o jogo foi relativamente estável, sem grandes problemas que comprometiam a experiência.
Uma Melodia Incompleta
Enotria: The Last Song tem muitos pontos fortes. Sua ambientação na Itália, a mecânica das máscaras e a narrativa fragmentada em torno de itens são elementos que o destacam. No entanto, o combate, que deveria ser o coração pulsante de um soulslike, acabou me decepcionando em alguns aspectos. Os ataques teleguiados, a IA fraca e a dependência excessiva do parry tiraram parte do brilho que o jogo poderia ter.
Ainda assim, há algo especial em Enotria. A forma como ele mescla cultura, história e combate faz com que seja uma experiência única, mas inegavelmente, há uma sensação de que faltou um polimento maior em certos aspectos. O jogo é bom, mas não atinge o nível de excelência que outros do gênero conseguiram alcançar.
Enotria é como uma melodia que começa com notas poderosas, mas se perde no caminho, deixando o jogador com a sensação de que algo mais profundo poderia ter sido explorado. Não será o último canto que ouviremos da Jyamma Games, mas espero que, no próximo, eles afinem melhor seus instrumentos.