Com certeza, Final Fantasy VII Rebirth é um dos maiores lançamentos aguardados de 2024, continuando a saga do remake que vimos começar lá atrás, em 2020. Após esses quatro anos de espera, a expectativa de todo jogador é de uma aventura que leve a novos horizontes. Será que o RPG conseguiu cumprir com essa grande responsabilidade?
A jornada desconhecida continua
A primeira coisa que temos que levar em consideração é que Final Fantasy VII Rebirth é uma sequência. Mais ainda: é a parte do meio de uma trilogia que recria um clássico dos JRPG.
Para lidar com isso, logo no menu inicial tem bem visível a opção “A história até aqui”, contextualizando o mundo e o que aconteceu antes. Até que explica direitinho para um resumo e acredito que Rebirth serve de porta de entrada para a saga, com ressalvas maiores para o começo do jogo, que pode parecer denso para os novatos entenderem os protagonistas, a Shinra, a SOLDIER e a energia mako.
Não dá para substituir o conhecimento do jogo anterior e quem o acompanhou aproveitará aquele universo com mais consistência, mas também não dá para dizer que Rebirth é totalmente dependente do irmão mais velho, uma vez que ele amplia tudo em muitas frentes, tanto em lugares, como em personagens, revelações e aprofundamento da história e dos segredos que o planeta reserva.
O enredo por trás de tudo é bastante sério, mas também sabe descontrair e relaxar com comédia e fan service na hora certa. Por motivos de embargo, tem partes do conteúdo que não podemos comentar antes da data de lançamento, então não vou entrar muito na trama por aqui. Basta dizer que a campanha continua de onde a anterior parou, levando Cloud, Aerith, Tifa, Barret e Red XIII para muitos lugares fora da cidade de Midgar na luta contra os males da mega corporação Shinra e do anjo de uma asa, Sephiroth. Alguns outros personagens surgem para ingressar as fileiras de batalha, como a ninja Yuffie, e vários coadjuvantes antigos e novos recheiam a história com suas participações.
Um por todos e todos por um
Como esperado de um RPG, esse grupo vai entrar em constantes conflitos com monstros e pessoas por toda a campanha. O mesmo sistema que mistura golpes comuns em tempo real e ações especiais selecionadas em um menu está de volta e funciona tão bem quanto antes. A novidade do combate fica por conta das Ações de Sinergia, técnicas realizadas em dupla que reforçam a sensação de ter um grupo unido em batalha e são executadas em tempo real. Há também as Habilidades de Sinergia, golpes mais poderosos e visualmente elaborados que dão um ar mais cinematográfico quando usados.
Eu diria que o principal aqui, porém, é que temos mais personagens e, na maior parte do tempo, podemos escolher quem estará no meio da luta ao lado de Cloud, embora os capítulos centrais ainda requeiram grupos de personagens específicos com formações variadas, o que o jogo aproveita para deixar cada personagem tem seu momento de líder. Essas mudanças deixam o combate tático, que já era muito bom, ainda mais dinâmico. Dá para dizer que é do tipo que não revoluciona, mas certamente aprimora o que veio antes.
O vasto mundo além de Midgar
Outro ponto que retorna é a alternância entre capítulos lineares, com foco em batalhas e história, e os capítulos abertos, que nos deixam explorar o grande mundo e realizar muitas atividades. Dessa forma, Rebirth tem porções de mundo aberto, mas não funciona exatamente como um jogo desse tipo. É claro que você pode vagar a esmo, mas ainda há uma aura de direcionamento que nos conduz aos lugares apropriados para alcançar algum tipo de progresso, seja na história ou nas diferentes melhorias do grupo.
As partes abertas são servidas em porções generosas, mas contidas. A primeira, por exemplo, é a Pradaria, que fica entre a cidade de Kalm e o pântano. Quando estiver satisfeito das atividades locais, o jogador pode atravessar o pântano e desbravar as minas linearmente para prosseguir na história até chegar a outra porção aberta, a região de Junon. A coisa não para por aí, é claro, mas já deu para entender como funciona.
É uma boa alternância entre linearidade e abertura, mantendo nossas mentes focadas nos objetivos ao mesmo tempo que dá o gostinho da liberdade de fazer as coisas no nosso ritmo. Como esperado, o mundo tem que ter recheio para valer a abertura, então espere coletar plantas e amostras naturais variadas, como pedras e metais. Para dar utilidade ao material encontrado, há um sistema de craft para criar ou melhorar itens diretamente do menu, de forma bastante útil. Outras atividades envolvem coletar dados de batalhas de inimigos em lutas com objetivos específicos, encontrar santuários para fortalecer as invocações, aceitar missões secundárias simples em quadros de avisos e — adivinhe! — encontrar e ativar torres para exibir novos pontos de interesse no mapa.
Diversão adicional
Os minigames são vários e o primeiro que surge é Queen’s Blood, um duelo de baralho ágil e estratégico com muitas cartas para colecionar. A forma como Rebirth dá muita atenção a ele parece até como uma mini campanha paralela, com níveis de desafio, inserção gradual de cartas com regras adicionais, puzzles e até um inesperado mistério por trás de tudo.
Há vários outros joguinhos, o que me deixou surpreso com a variedade de gameplay muito eficaz em evitar cair na sensação de repetição. Um deles, por exemplo, é um estande de tiro ao alvo que usa o sensor de movimento do DualSense para mirar e os gatilhos adaptáveis para atirar (essas duas funções podem ser desativadas). Tem até pianos para tocar à vontade ou executando desafios de ritmo.
Essas tarefas são opcionais e trazem recompensas que contribuem para o passo a passo da evolução do grupo em várias áreas, seja em novas Materias, Nível de Grupo, Informes Regionais, Pontos de Habilidade, Medalhas Moogle para gastar certas lojas e até acessórios cosméticos para os chocobos que nos servem de montaria. Assim, as atividades e os sistemas se comunicam bem no contexto geral e o jogo parece querer que nós cumpramos todas elas, embora não nos empurre a isso.
Abordagem diversificada
No fim das contas, a abordagem atende aos dois tipos de jogadores: os que querem perambular por aí e os que querem focar no principal, que podem escolher ignorar essas partes. Ainda assim, essa escolha passará a sensação de estar deixando algo para trás. Outro ponto bastante positivo é que as missões secundárias sempre estão dentro do contexto da história do mundo ou dos personagens, tornando o pacote todo bastante coeso. Os demais personagens do grupo também participam das tramas desenroladas nas missões secundárias, então, mesmo que Cloud seja o protagonista, a participação ativa de seus companheiros faz com que sejam tratados pelo roteiro com a importância devida.
Apresentação de primeira
Visualmente, tudo o que descrevi acima salta aos olhos com a grandeza dos cenários, os detalhes dos personagens e a vivacidade dos detalhes em uma execução que roda muito bem no modo Desempenho (apenas em um momento experimentei soluços da performance). De um modo geral, as cenas são bem dubladas e com animações à altura do detalhamento dos modelos. No quesito sonoro, algumas falas usam os alto falantes do DualSense para passar a sensação de transmissão de telefone. A parte musical também é um show à parte, com numerosos arranjos de músicas clássicas e novas que, assim como a gameplay, conseguem melhorar o que já era muito bom, passando por uma grande quantidade de estilos bem diferentes entre si.
Na parte técnica, o único contra que tenho a mencionar é o excesso de motion blur, que deve estar lá para camuflar a resolução dinâmica das animações de personagens. Na prática, isso não me incomodou enquanto jogava e só ficou óbvio nas capturas de imagens para esta análise, com vários resultados bastante borrados.
Vale a Pena jogar Final Fantasy VII Rebirth?
Só tenho elogios a Final Fantasy VII Rebirth, que cumpriu com folga um dos grandes objetivos que uma sequência deve ter: não apenas continuar, mas também superar seu antecessor. É um jogo claramente produzido com o cuidado e a ambição de fazer algo vasto e cheio de conteúdo que entrega quantidade e qualidade à altura do nome, sem perder a coesão.
Ainda estamos em fevereiro e já temos em Final Fantasy VII Rebirth um candidato de peso para o título de jogo do ano. Ele tem o hype, a grandiosidade, a abrangência e o requinte de produção em cada detalhe para deixar sua marca nos PlayStation 5 dos jogadores mundo afora. Quem não jogou o anterior perceberá que há algo faltando, mas logo entrará no embalo pela grandiosidade da história, do carisma dos personagens e do encanto do mundo vibrante com sua variedade de atividades de gameplay.