O personagem mais famoso do Playstation finalmente está dando as caras em uma outra plataforma. Com a Sony abrindo cada dia mais as portas de suas IP’s para o PC, inclusive com um novo selo recém lançado (Playstation PC), era normal que alguns de seus carros-chefes dessem as caras na plataforma.

E para a surpresa de muitos, a sua principal franquia, God of War já chegou da forma mais brutal, visceral e PASMEM: mais madura que nunca. E nem estou falando apenas sobre o próprio jogo, que se trata de um reboot da franquia que antes era um hack n’ slash com um Kratos extremamente raso e hoje o jogo é um Action RPG com um Kratos maduro e muito bem escrito. Estou falando de como a SONY vem amadurecendo os seus ports para PC. God of War é tudo o que o fã aguardava!

Sobre montanhas e homens

Foram-se os dias em que God of War não passava de um festival de testosterona, sangue e membros decepados; uma franquia que ganhou um merecido reconhecimento graças à sua jogabilidade frenética e visceral, mas que, realmente, nunca teve o seu principal protagonista muito bem trabalhado.

Até a chegada deste reboot, lançado em 2018 inicialmente para Playstation 4, um ponto é separado dentro da série que abandona a mitologia grega para mergulhar em Midgar criado por Odin e habitado pelos deuses nórdicos.

god of war kratos e atreus

Não é surpresa que Kratos sempre foi um anti-herói, um cara “bom demais para a guerra” com ataques de raiva. A história dos deuses foi contada através da violência e do excesso. O que antes era quadrado-quadrado-triângulo é agora R1-R1-R2. Em outras palavras: a saga “Deus da Guerra” era para o gênero, hack-and-slash,uma espécie de panteão dos jogos, porém muito mais forte e visceral, o tempo todo.

Mas não só o Kratos, como também os fãs da série, em sua maioria, hoje estão cientes de seu cabelo grisalho e suas cicatrizes que não são visíveis apenas no corpo, e sim por suas emoções. As correntes duplas são substituídas por um machado que vai e vem. As primeiras roupas com as quais começamos o jogo, nos lembram que este filho indesejado de Zeus só queria fugir de seu passado de caos e destruição, começar do zero em outro mundo e escapar daquela espiral de ameaça que ele mesmo construiu. Kratos é agora um homem mais velho, para o bem e para o mal.

God of War proporciona uma jornada emocionante que demonstra que qualquer um é capaz de mudar e redirecionar sua vida. Mesmo se você tiver acabado com todos os deuses do olimpo. Mas é claro que para Kratos isso implica quebrar um ciclo de anos cheio de violência, desconfiança e traições que o fizeram construir um caráter impulsivo, calado e muito escrupuloso.

Agora com a ajuda de seu filho, ele terá que aprender a controlar suas impetuosas falhas para deixar o monstro sair do seu interior apenas nos momentos necessários. Que melhor maneira de saber dosar essa transformação do que quando você tem uma nova oportunidade de ser pai?

“Garoto”

Nas suas aparições anteriores, Kratos era uma máquina de matar. As suas motivações sempre foram um pouco duvidosas. Não importava se ele tentou ajudar em sua missão ou não, qualquer personagem que cruzasse o seu caminho, acabaria morto. Toda essa raiva nunca foi muito justificada. Agora, o caso é o oposto. Cory Barlog (diretor de God of War II, 2007) viu a franquia como uma oportunidade para explorar o crescimento de seu personagem, das próprias mecânicas do jogo em si e também e dos próprios jogadores.

O novo Kratos é um personagem humano e bem desenvolvido. As implicações de chamar seu filho de “garoto” durante a viagem são claras. Só com essa palavra você já pode perceber a relação de um pai com um filho que tem dificuldade em chamá-lo como tal.

Quem poderia dizer há alguns anos que a franquia God of War seria uma das obras que melhor representa a relação paterna-filial nos videogames? A principal vitória de God of War nesse quesito, é o fato do jogo fazer isso em detalhes, pouco a pouco, sem esquecer os momentos bons e ruins. Desde como é difícil (ou deveria ser) ser pai, ao superprotecionismo, que nem sempre é a melhor maneira de se educar.

E claro, sempre também sempre com olhos para o outro lado da moeda: sobre como é frustrante também ser um filho. Tudo isso só pode ser alcançado por um estúdio que cresceu não só como desenvolvedores, mas também amadureceu como pessoas, cujas preocupações são mais amplas e necessárias.

God of War não tenta em nenhum momento enterrar o passado. Kratos não é um reboot do zero, mas alguém plenamente consciente das ações de seu passado, que absorveu muitas lições de seus erros e que agora tenta passar para seu filho. Essa raiva, se não for controlada, não ajuda em nada.

Um gameplay mais maduro

Quadrado-quadrado-triângulo. Em um modo de dificuldade moderada, é o que mais me lembro da franquia God of War. O combate foi espetacular durante muito tempo, e inspirou outras dezenas de grandes títulos. A magnitude dos combos era mais opcional e dedicada para quem queria um desafio maior. No novo God of War, mesmo no modo de dificuldade normal, o combate é mais técnico.

Um bom número de movimentos é necessário porque os inimigos respondem melhor a alguns padrões do que outros. Na verdade, no modo Deus da Guerra, o modo mais difícil do jogo, não se trata apenas de elevar as estatísticas de saúde e dano dos inimigos, mas também mudar seus padrões, tendo que ser muito mais cuidadoso. E este combate tem um nome: o Machado leviatã.

A variedade de estratégias é bem ampla. Você pode jogar o machado em um Draugr e congelá-lo enquanto luta contra outros inimigos. Com alguns outros inimigos, os punhos e o uso do escudo são mais eficazes, pois embora tiram menos saúde, aumentam a barra de atordoamento, necessária para execuções à queima-roupa. E quando tudo parece perdido, a Ira dos Deuses nos transforma em uma besta imparável que desbloqueia ataques ultra-poderosos.

A mudança mais marcante à primeira vista é a mudança de câmera. Poucos minutos depois de começar o jogo você começa a ver como a mudança tem sido um sucesso total em todos os sentidos. O combate com esta câmera se torna muito mais brutal, cada um dos golpes parece muito mais real, você se aproxima do que Kratos vive em cada uma das lutas, o que também é fundamental quando se trata de transmitir sensações e sentimentos, porque a câmera foi alterada não apenas levando em conta o combate, mas também busca nos aproximar de Kratos.

Para o bem ou para o mal, a franquia God of War tem sido caracterizada por ser um título onde distribui golpes independentemente da evolução ou motivações planas do personagem, como vingança ou raiva, desculpas variadas, mas não muito profundas. Nesta edição a evolução do personagem é constante, assim como sua relação com seu “garoto”.

Atreus nos acompanha durante toda a jornada, por isso veremos o fantasma de Esparta agir como um pai com todas as responsabilidades, dúvidas e problemas que isso implica. Um dos maiores triunfos desse jogo é o fato de fazer com que o personagem de Atreus, filho de Kratos, não seja insuportável.

Afinal, ter uma figura que está do seu lado durante uma grande jornada na maioria das vezes se torna bem irritante (cof, cof, Navi). Pelo contrário. Além de ser imprescindível na trama, ele nos ajuda no combate, na resolução de puzzles, obedece nossas ordens e também ajuda a se aprofundar em Kratos. Além disso, Atreus amadurece e cresce em sua mentalidade ao longo do jogo, sendo muito marcante a evolução do personagem do início do jogo até o fim.

As novidades deste reboot têm uma linha bem constante de boas descobertas. A estrutura do jogo foi modificada desde o princípio afetando até mesmo o mundo ao nosso redor e a progressão do próprio personagem. God of War ainda é um jogo de ação, embora para este novo rumo da franquia, os desenvolvedores tenham decidido combinar elementos de outros gêneros, construindo uma aventura muito semelhante ao que o reboot de Tomb Raider oferece.

Portanto, encontramos mais exploração dos cenários graças a um mundo de dimensões consideráveis e uma progressão de personagem mais trabalhada. Desta forma, inclui um sistema de progressão muito semelhante ao que vemos em outros jogos de RPG ou sandbox.

Podemos personalizar os atributos e habilidades de Kratos ao nosso gosto, e até mesmo seu equipamento, que não só influenciará seu visual, mas também os valores de defesa e ataque, e outras coisas. Derrotando inimigos, avançando na história, completando missões secundárias, descobrindo segredos ou informações sobre a mitologia nórdica, ganhamos experiência que podemos trocar por diferentes habilidades para melhorar Kratos.

Quanto aos chefes, veremos lutas dignas de um God of War, com combates espetaculares e brutais contra todos os tipos de inimigos. Algumas dessas lutas beiram o destaque absoluto, pois são acompanhadas por longas cinematics extremamente bem dirigidas. No entanto, nos momentos finais da aventura, ficamos com a sensação de que o jogo poderia ter tido o estranho inimigo final, já que alguns chefes que aparecem no início se repetem ao longo do jogo.

God of War não é um jogo curto. Terminar a aventura indo exclusivamente para a missão principal pode ser de cerca de 20 horas de duração. Mas isso seria ter perfurado apenas a superfície de tudo o que o jogo é capaz de oferecer. O mundo de Midgard e dos outros reinos que visitaremos está cheio de missões secundárias, segredos e atividades extras para realizar.

E me refiro apenas a meros itens desbloqueáveis ou matando um certo número de inimigos (que também existem). Os chamados favores são tarefas que nos levarão a explorar áreas gigantescas e completamente opcionais que muitas vezes enriquecem a relação entre Kratos e Arteus.

Essas missões secundárias não são tão abundantes como em um RPG de mundo aberto, é claro, mas muitas delas são muito elaboradas e são completamente necessárias se quisermos mergulhar no final do jogo. Terminando ou não a missão principal, podemos continuar fazendo muitas tarefas. Midgar é, sem dúvida, a maior área de todas, embora alguns reinos também guardem alguns segredos.

Um port para PC sem grandes problemas

A Sony parece ter aprendido com o lançamento um pouco conturbado de Horizon: Zero Dawn no PC em 2020. Em Day’s Gone, seu segundo título no PC, o port já agradou muito mais e com boas opções gráficas de personalização já no seu primeiro dia de lançamento.

Mas God of War é o carro-chefe da empresa e principal título da Sony sendo lançado no PC até o momento. E o port precisava ser perfeito para fazer jus a um jogo que beira a perfeição. E a versão de PC de God of War é muito bem otimizada no quesito desempenho. No computador usado para esta análise, não senti quedas de FPS na maior parte do jogo. Apenas em alguns momentos de batalha em grandes ambientes abertos, existem algumas oscilações, mas que não atrapalharam a gameplay.

O jogo conta com DLSS da Nvidia e FidelityFX da AMD para melhorar ainda mais o desempenho. Nos meus testes, a tecnologia da AMD sobressaiu diante da Nvidia. Mesmo eu usando uma placa de vídeo RTX 2070 Super, o DLSS não proporcionou resultados tão bons quanto o FidelityFX.

Mas por outro lado, o jogo permite usar a tecnologia Reflex da Nvidia. Apesar de ter essas duas ótimas tecnologias presentes como opção para uso, o jogo infelizmente não conta com o uso de ray tracing, que é um baita ponto negativo. Principalmente se pensarmos que a barreira que impede isso no PC, é o próprio hardware do usuário. Mas muito provavelmente isso deverá ser implementado ao longo do tempo em um futuro novo driver da nvidia.

Mas é fato que a principal feature da nova geração dos jogos até o momento, não está presente nesse port em seu lançamento. Alguns entusiastas também sentirão a falta de personalizar os gráficos ao seu bel-prazer, já que God of War conta com apenas alguns presets gráficos que lembram muito mais um port de jogo para PS5 que tem como opção escolher entre gráfico e desempenho.

Conclusão

Mantendo-se ainda com raízes originais e se reinventando ao mesmo tempo. Esta é a lei de ouro que diferencia as grandes franquias de videogames, aquelas que continuam a ser bem sucedidas apesar dos anos, do resto dos títulos que, mais cedo ou mais tarde, acabam caindo no esquecimento.

Super Mario, The Legend of Zelda, Final Fantasy, Tomb Raider e GTA triunfam ao longo de décadas até hoje graças a esta regra não escrita. God of War hoje está junto desses grandes nomes da indústria como uma franquia que soube se reinventar e manter a essência. E o novo capítulo que está por vir promete uma aventura ainda maior e mais emocionante.

God of War é um título obrigatório para usuários do PC que não tiveram a oportunidade de jogar em um Playstation.

Nota
Geral
9
god-of-war-pcGod of War aterrissa no PC quase 4 anos após o seu lançamento com um título que deixa para trás a fantasia do poder adolescente para subir montanhas e novos desafios com um olhar mais adulto, mas não menos selvagem. Um título obrigatório para os amantes de action RPG.