Indika, desenvolvido pela Odd Meter e distribuído pela 11 bit studios, emerge com uma aura sombria e uma narrativa espetacular. Nesta análise, iremos nos aprofundar na Rússia para entender mais da narrativa do jogo, pois é o foco do game. Entretanto, é importante ressaltar que haverá spoilers, então, cuidado ao prosseguir!
ALERTA – SPOILERS ABAIXO!
O desconhecido emerge
A narrativa de “Indika” nos transporta para a Rússia, onde acompanhamos a jornada de uma freira incompreendida chamada Indika. Desde o início, somos apresentados ao dilema de Indika, uma alma atormentada pelas próprias irmãs freiras, o que a faz ser excluída e maltratada por todos da Catedral
O ponto de virada surge quando Indika é encarregada de entregar uma carta a um padre distante. É nesse momento que ela deixa a catedral e encontra um trem descarrilado em uma parte sobre um rio congelado. Então, ela se depara com um encontro fatal com Ilya, um fugitivo que se torna seu improvável salvador. A partir desse encontro, a missão de Indika toma um novo rumo, conforme ela se vê impulsionada a seguir os passos de Ilya.
A busca por Ilya é motivada não apenas pela gratidão por seu suposto contato com Deus, mas também pela promessa de um milagre, a cura do braço podre de Ilya. Este objeto religioso de poder divino, acreditava-se, estava guardado em uma igreja remota na terra natal de Ilya. Assim, a narrativa de “Indika” se desenrola como uma jornada de redenção e descoberta, onde os personagens enfrentam não apenas os perigos físicos do mundo ao seu redor, mas também os conflitos internos e espirituais que os assombram.
A Realidade é diferente
Ao longo de sua jornada, percebi que alguns dos enigmas apresentados no jogo induziam a pensar em Indika com um demônio com ela, e podemos ver ele, em coisas como reflexos em espelhos, ou eventos aparentemente sobrenaturais envolvendo personagens secundários. Por exemplo, em um momento, vi uma figura demoníaca segurando um personagem, que na verdade era apenas um armário sobre ele. Essas experiências levantaram a questão: Indika realmente vê coisas que não existem, ou tudo isso é fruto de sua mente? Desde o início da campanha, somos confrontados com eventos estranhos, o que me levou a suspeitar que ela pode ser esquizofrênica.
Outro fator que me fez refletir bastante foi a questão das moedas no jogo, que acredito serem uma analogia à história de Indika. Sempre que conseguíamos moedas, elas estavam relacionadas a itens religiosos ou elementos do passado de Indika. O próprio jogo alertava: “não pegue, não serve para nada”. E quando as utilizávamos apenas para obter mais moedas, era como se fosse uma forma de humilhação ou culpa, fazendo com que as ações de Indika como freira parecessem sem sentido ou em vão, como se fossem coisas sem valor para ela.
Após seis horas de intensa imersão em “Indika”, cheguei ao seu fim narrativo e me vi imerso em reflexões sobre tudo o que acabara de presenciar, então entendi o que se desdobrou diante de mim. No fim do jogo, diante do espelho e com o objeto divino em mãos, Indika tentava orar com o propósito de banir a presença do diabo que a assombrava.
O diabo não era uma entidade que existia, mas sim uma parte reprimida de Indika, manifestando-se através da voz narrativa que a acompanhava durante toda a jornada. Essa voz representava os questionamentos e conflitos religiosos que assombravam a freira, pois ela constantemente questionava a sua fé, os dogmas de sua igreja e até mesmo sua própria espiritualidade.
Ao confrontar-se diante do espelho, Indika percebeu a verdade: toda a sua busca pelo divino, todos os seus anseios por livrar-se do diabo, eram uma ilusão. A verdadeira batalha estava dentro dela. Bastava aceitar sua própria natureza, com todas as suas dúvidas e incertezas, para encontrar a paz interior. Assim, ao perder sua fé institucionalizada, Indika encontrou a verdadeira fé em si mesma.
Com essa aceitação, seu reflexo voltou ao normal, e os demônios de seus pensamentos reprimidos se dissiparam. O jogo termina, deixando claro que a história de Indika foi muito bem elaborada e executada. Sem dúvida, é uma jornada de autoconhecimento que me provocou reflexões profundas sobre fé, identidade e aceitação.
Um mundo belo e triste
Os minijogos durante a gameplay exploram o passado de Indika, desde sua vida trabalhando em uma oficina de “bikes” com o pai até o acidente que a levou a se tornar freira. Cada minijogo é divertido e remete a jogos clássicos, oferecendo uma variedade de desafios que aprofundam a história de Indika e proporcionam uma experiência de jogo envolvente
Indika possui gráficos deslumbrantes. Em vários momentos, eles tiram o fôlego pela quantidade de detalhes nos cenários e nos modelos dos personagens, inclusive em suas expressões faciais. Tudo é tão bem elaborado e belo que é difícil não se impressionar. As paletas de cores e o clima melancólico presente no jogo combinam de forma excepcional com sua narrativa.
A trilha sonora também é muito boa, porém, em alguns momentos, senti que quebrava a imersão. Estava imerso em um clima melancólico e, de repente, uma música alegre e animada surgia, quebrando um pouco do clima estabelecido.
Desempenho
Indika tem requisitos até elevados, recomendando uma RTX 3060 Ti ou uma RX 6700 XT. No entanto, pude experimentar Indika em uma RX 6600, Ryzen 5 3600 e 16 GB de RAM, e digo uma coisa: foi uma experiência incrível. Com todas as configurações no mais alto possível, ficou em torno de 70 FPS. E como as RX 6000/7000 possuem a tecnologia Frame Generation (o jogo não possui), dobrou o FPS e foi uma experiência bastante fluida. Além do desempenho muito bom, quase não encontrei bugs.
Conclusão
Em conclusão, Indika se destaca como um jogo sombrio e melancólico, repleto de elementos bizarros, como peixes e cachorros gigantes. No entanto, por trás desses aspectos peculiares, encontra-se uma trama incrível e envolvente, capaz de prender a atenção do jogador do início ao fim. Embora apresente momentos de lentidão, a profundidade e a complexidade da narrativa compensam qualquer eventualidade, proporcionando uma experiência que desafia e instiga reflexões sobre fé, identidade e aceitação. Indika sem dúvidas é uma obra que transcende os limites do convencional, deixando uma marca duradoura na memória de quem a vivência.