Antes de jogar qualquer jogo da série Yakuza, em especial o Ishin, não teria como descrever uma obra tão única e cheia de criatividade como essa, junte filmes clássicos de samurais, no melhor estilo Akira Kurosawa, adicione o diferencial das obras nipônicas e misture tudo com toques sutis de dramas japoneses, com romance ou não.
No fim o produto é uma excelente aventura, que vai mesclar o melhor que um jogo de vídeo game poderia nos entregar, gameplay e narrativa, sem deixar de lado a diversão durante todo o tempo.
Por ser um remake, é aceitável que comparações sejam feitas, e por sorte ele não perde em nada para sua versão anterior, junto de Sakamoto Ryoma, seremos lançados para um dos capítulos de uma saga bastante famosa e aclamada no mundo dos jogos.
Uma viagem pela história do Japão
A obra se passa entre os anos de 1853 e 1867 período que marca o fim do Edo, chamado de Bakumatsu, que historicamente possuí uma importância enorme para o país, nesse cenário de guerra política é que iremos passar toda nossa jornada, por ser um capítulo separado da saga Yakuza e ser no passado, as principais diferenças serão o contexto histórico e sua ambientação, os personagens são como atores em uma novela, interpretando papéis diferentes, mas com o mesmo modelo.
Ishin busca mostrar ao jogador que ele terá mais que um simples jogo de vídeo game (caso ele deseje) é muito fácil sair de um capítulo e ir atrás de algumas informações extras, mas mesmo para quem não quer fazer isso, o jogo entrega uma espécie de guia histórico.
Em determinados diálogos, será possível apertar o botão start para entender que termo é aquele usado na conversa, em praticamente todas as vezes, é necessário ver a informação, assim estaremos por dentro do contexto e será fácil entender as motivações dos personagens.
Seremos levados para uma era conturbada do Japão, onde um grande xogunato estava próximo de terminar, iniciando uma nova página para a nação japonesa.
Patriotismo e a esperança por um mundo melhor permeiam a narrativa de Ishin, mesmo que o jogo tenha um tom leve em muitas partes, existe uma seriedade, diria até mesmo um certo orgulho para mostrar a visão do diretor aos acontecimentos em questão.
De qualquer forma, isso não é necessário para entender a história do jogo, mas agrega bastante.
O caminho da espada
A narrativa adota uma fórmula bastante usada em alguns filmes de ação, principalmente os que usam lutas samurais em sua construção, dar exemplos desses filmes seria correr o risco de entregar um segredo do jogo logo de cara, então guarde apenas a primeira informação.
Me parece bem clássico e esteticamente belo, iniciar grandes histórias em noites chuvosas, onde após uma grande batalha seremos jogados em algum lugar no tempo, seja para o futuro ou passado.
Após uma breve cinemática, iremos assumir o controle de Sakamoto Ryoma, que retorna ao seu lar com a vontade de dias melhores, após um breve e eficiente tutorial, teremos os primeiros confrontos e missões, após uma batalha intensa, nosso personagem é obrigado a deixar seu lar mais uma vez, para evitar que coisas piores o atinjam.
É necessário dizer que muitas ações serão previsíveis, onde clichês de filmes de ação são usados sem dó, mas isso nem de longe significa que a história seja ruim, pelo contrário, enquanto estamos felizes por adivinhar coisas simples, a trama se desenvolve e nos surpreende ao longo dos capítulos, são reviravoltas marcantes e que nos prendem até o fim.
A presença da figura samurai é uma grande adição para a trama, isso porque com se passa em uma era longe da glória desse grupo específico e bem próximo de seu fim, teremos os clássicos de armadura, mas na maior parte será o chamado ronin.
O jogo começa pra valer quando vamos para essa nova cidade, lá iremos adotar uma nova identidade e começar a jornada até desvendar todos os mistérios da trama.
Ryoma, assim como os outros protagonistas, é carismático ao máximo e esse é um dos pontos mais agradáveis do jogo, cada um que aparece no caminho possui muito carisma, mesmo os que aparecem pouco, destaques para Okada Izo, antagonista que vai pegar no pé de Ryoma, Okita Soji, um lunático que faz parte de uma organização presente na cidade e Nakagura Shinpachi brutamontes que testa Ryoma em uma missão de iniciação.
Cada um tem tempo suficiente para ser desenvolvido, uns terão mais que outros, pois a importância deles na narrativa é maior.
Apesar de não ser um jogo de mundo aberto, em Like a Dragon: Ishin, teremos muito o que fazer, a cidade possui entradas que levam para outras áreas, como se fossem bairros, há a viajem rápida, mas andar ou correr até o objetivo não demora muito e é aconselhável.
Explorar os becos e ruas da cidade vai nos levar para os combates aleatórios, parecidos com os de Pokémon, que são úteis para conseguir mais experiência, e assim chegarmos até níveis mais altos, esses confrontos também servem para que itens essenciais sejam deixados pelos inimigos.
Além de encontrarmos as missões extras, que darão mais tempo de jogatina e nos apresentaram momentos estranhos como um cachorro que não para de latir, um menino que chora para comer vegetais etc.
O mapa pode parecer confuso no começo, e é provável que se perca, mas em algumas horas estará acostumado.
Rpg diferente, mas ainda assim rpg.
Uma das maiores diversões desse jogo, são justamente suas batalhas, mas antes, precisamos entender que estamos falando de um rpg de ação, ficar mais forte é necessário, para isso a obra conta com um vasto estilo de luta, passando por quatro variações de combate, cada uma delas com suas vantagens e desvantagens.
Existe o lutador, focado em lutar com as mãos nuas, possui golpes rápidos e capazes de derrubar o inimigo, nesse estilo, é possível agarrar alguns inimigos para causar dano extra, nessa variação a defesa do personagem é feita pelos membros.
A dança selvagem, focado em usar espada e revólver, é o estilo mais veloz e mescla cortes precisos com disparos de projéteis, mas não possui uma defesa, mas sim esquivas rápidas.
O atirador, como o nome já diz, usa apenas armas de fogo, o disparo normal possui munição ilimitada, mas existem munições especiais que causam dano extra, podem ser de raio para paralisar, de ácido contra armaduras, veneno, fogo entre outras, é o mais seguro dos estilos por atacar apenas de longe e causar bastante dano.
O espadachim, que usa os golpes com a arma principal do samurai, a katana, melhor estilo do jogo, usa golpes rápidos e golpes fortes para abrir a defesa do oponente, após ser evoluído na árvore de habilidade, muitos combos e especiais leitais são desbloqueados.
Todos os estilos possuem golpes que usam a barra de heat (algo como o calor obtido pelas batalhas), essa barra pode ter vários níveis, o máximo é o seis, é preenchida por golpear os inimigos e usar itens específicos, esses golpes mudam o rumo do combate, pois causam muito dano.
Depois de um determinado capítulo, teremos acesso aos cartões de guerreiros, cada um deles tem um efeito; aumentam o dano causado, curam o personagem, dano em área, alguns lançam até mesmo vórtices que sugam os inimigos para o centro.
A progressão de personagem é muito boa, teremos as árvores de habilidade, uma para cada modo, ao usar um estilo, iremos adquirir um orbe para ele, que só deve ser usado em seu respectivo grupo de habilidades, mas existem os orbes de treinamento, que podem ser usados em qualquer grupo para obter qualquer habilidade.
As armas possuem enorme variedade, podemos forjar muitas outras usando os ingredientes certos, as armas possuem slots que vão ser preenchidos por amuletos que darão atributos adicionais.
Durante a jornada, para cada desafio realizado, ganharemos novas armas para completar nosso arsenal.
E quando não estivermos em combates, ou ajudando civis malucos, o jogo nos coloca para administrar uma casa, com direito a plantação, cozinhar nossos alimentos, dormir para recuperar a vida ou usar nossos frutos do plantio para ganhar umas moedas.
A narrativa de Like a Dragon: Ishin é sem dúvidas fantástica, um jogo que une a pancadaria, com mistério, comédia e momentos emocionantes, é um jogo completo que quando menos perceber, estará preso entre um capítulo e outro, apresenta uma trilha sonora sensacional, e uma forma boa de contar sua história.
Mas dificilmente um jogo escapa sem críticas, e para Ishin preciso comentar sobre dois fatores que podem incomodar e isso dura até o último instante do game.
Para um combate ser bom, ele deve ter boas animações, os controles devem responder bem e precisa ser divertido, tudo isso consta em Ishin, mas em lutas onde o ambiente é muito fechado, a câmera se posiciona em ângulos horríveis, fazendo com que o inimigo, que na maioria das vezes é um chefe, saia do nosso campo de visão, assim um golpe fatal pode ser desferido sem que possamos ao menos nos defender.
Outro fator que senti falta e que faria uma diferença gritante, é não poder travar a mira no inimigo, até podemos segurar um botão para que a câmera fixe no centro, mas essa função é falha e não ajuda tanto quanto deveria, se no original não tinha essa função, seria uma adição bem-vinda para o remake.
Mas tirando esses pequenos detalhes, Like a Dragon: Ishin é um excelente título, um jogo completo para os amantes de narrativa e jogos de ação, após embarcar na jornada de Sakamoto é quase impossível deixá-la de lado.
Esta análise foi feita com base em uma cópia cedia pela SEGA, agradecemos por confiar em nossa equipe.