Para escrever um artigo sobre este jogo acredito que o ideal é começar com o significado da palavra limbo. De acordo com o nosso famoso dicionário Michaelis de Língua Portuguesa: “limbo é o limite de uma superfície, esquecimento, local intermediário entre o céu e o inferno”.
A partir do conhecimento destas expressões já podemos começar a interpretar a trama que envolve esta aventura que ficou tão famosa na época de seu lançamento. Com uma ambientação sombria e enredo, completamente, aberto a interpretações, este jogo encantou um grande número de jogadores, também, pela sua arte única e dificuldade satisfatória.
Nos fazendo lembrar que games são arte e que quando feitas com inspiração, como neste caso, nos motivam ir até a sua conclusão para conhecer tudo que os artistas possuem para nos oferecer ou, simplesmente, saber se seu protagonista conseguirá superar aquela terrível provação.
Limbo é um jogo que mistura elementos de plataforma com quebra-cabeças que foi desenvolvido e publicado pela Playdead. Lançado, originalmente, em julho de 2010 como um exclusivo de Xbox 360 na Xbox Live Arcade, recebeu, posteriormente, vários portes para as seguintes plataformas: PlayStation 3, PlayStation 4, Windows, Xbox One, Switch, PlayStation Vita, Nintendo Switch, Android e iOS. A seguir vemos um trailer de apresentação de Limbo.
Curiosidade 1: O sucesso de Limbo junto ao público se deu de forma quase instantânea, com vendas que superaram a marca de 300 mil unidades no seu primeiro mês de disponibilidade e ultrapassando a marca de 1 milhão no período inferior ao de um ano. Vale destacar que neste momento o título era um exclusivo de Xbox 360.
Bastidores
O diretor de Limbo, Arnt Jensen, já no começo do projeto, determinou três principais diretrizes que o jogo deveria ter em sua essência. Elas são: 1) Que sua arte tivesse como foco o minimalismo, com uma ambientação sombria e original, assim como seus personagens não poderiam ser ricamente detalhados;
2) Os controles do protagonista deveriam ser simples e intuitivos, com ações básica, tais como andar, agachar, agarrar e pular. Assim sendo, facilmente acessível a todo aquele que quisesse experimentar o título;
3) O jogo não poderia ter tutoriais ou textos explicativos, de forma que o jogador deveria aprender como se joga através da experiência do “level design”. Assim como seu enredo ser, propositalmente, interpretativo, gerando experiências diferentes nos jogadores.
Ao que tudo indica, muito do projeto inicial de Limbo sofreu grandes alterações até a sua conclusão. Segundo consta, o encontro com a icônica aranha gigante iria ocorrer mais próximo do final da aventura, além de que a campanha deveria ser maior e com NPCs ativos em toda a jornada.
Por incrível que possa aparentar, inicialmente, Limbo seria um game gratuito para ser jogado através do Windows, porém, quando o desenvolvimento do jogo começou a demonstrar o alto potencial que possuía, seus produtores mudaram seus planos.
A partir daí o título passou a sofrer tentativas de influências externas, como desenvolvedores que desejavam que o game tivesse multiplayer online, assim como escolha de níveis de dificuldade por parte dos jogadores (características típicas de jogos modernos), mas todos foram vetados.
No decorrer de sua criação o time de desenvolvimento variava entre 8 e 16 membros e seu lançamento acabou sendo, inicialmente, exclusivo no serviço Xbox Live Arcade, como o primeiro game de uma promoção anual de nome “Summer of Arcade”.
Em entrevista mais recente, o produtor Mads Wibroe, informou que tal medida foi tomada como um método de combate à pirataria, já que isto seria muito difícil de ser controlado caso o título fosse lançado, conjuntamente, com sua versão de Windows, conforme planejado inicialmente.
Curiosidade 2: Como esperado, o reconhecimento não veio apenas por parte do público, como também pela crítica. Antes mesmo de seu lançamento oficial, o game já tinha prêmios na estante de seus desenvolvedores, como os de arte visual e excelência técnica recebidos na Game Developers Conference de 2010.
Ainda, no mesmo ano, recebeu da Gamespot o reconhecimento de jogo mais baixado do ano. Em seguida, no European Milthon Awards, as nomeações de jogo do ano, melhor game independente e melhor arte visual. Já na mais popular das premiações, na época chamada de Spike Videogame Awards, ganhou de melhor jogo independente.
Estes citados foram apenas alguns dos prêmios recebidos por Limbo, o que provavelmente garantiu que a Playdead seguisse com uma temática semelhante em sua, também, reconhecida sequência espiritual.
Enredo e Narrativa
Conforme já dito anteriormente, nesta matéria, Limbo é um jogo que possui seu enredo ligado à interpretação daquele que o jogou. Assim sendo, irei abordar aqui a forma que eu compreendi a experiência de sua aventura, de forma que não irá atrapalhar aquele que ainda não o jogou.
Nosso protagonista, que, aparentemente, trata-se de uma criança do sexo masculino, de repente se encontra em um ambiente escuro que lembra uma perigosa mata. Sendo sua única possibilidade de ação seguir em frente.
Assim, acaba encontrando outra criança, agora do sexo feminino, que afastasse ao avistá-lo. Logo após, outros seres humanos, aparentemente de pouca idade, são avistados mas reagem de forma agressiva, evitando maiores contatos.
Aqui, vale uma reflexão sobre o fato de que algumas religiões interpretam o limbo como um lugar para onde são enviadas as almas daqueles que não foram batizados, o que, por sua vez, explica a presença da grande quantidade de crianças neste ambiente. Uma relação semelhante vemos no excelente jogo Dante’s Inferno.
A narrativa de Limbo se dá, apenas, através dos cenários em que a aventura se desenvolve, cabendo ao jogador interpretar os objetivos de nosso protagonista sem nome. Já neste primeiro momento temos contato com outras crianças e uma enorme aranha.
Aqui destaco estes dois elementos. Já que aracnofobia é considerado um dos medos mais comuns no mundo todo, o que nos faz pensar se estas criaturas são produtos da mente do próprio personagem que controlamos. O outro, é a presença perturbadora de crianças mortas enforcadas ou, até mesmo, apodrecendo em jaulas (conforme vemos em imagens nesta matéria).
Dou ênfase a este ponto pelo fato de que temáticas pesadas, como esta, não são comuns em jogos do gênero plataforma. Na verdade, é incomum até mesmo em games com ambientação mais adulta. Vale lembrar que não há crianças em GTA, assim como não temos zumbis de pouca idade em Resident Evil. Isto para que os jogadores não possa vê-las mortas ou matá-las.
Curiosidade 3: Apesar da popularidade de Limbo, muitos jogadores não sabem que existe um nível secreto na aventura. Para desbloqueá-lo é necessário encontrar e quebrar 10 ovos que estão distribuídos em lugares escondidos que, em regra, são de difíceis acessos. Não estrarei em detalhes quanto a isto, mas aqueles curiosos encontrarão dicas, sobre o tema, com facilidade na internet.
Análise Técnica
Graficamente Limbo é um jogo bastante simples, com cores limitadas à intensidade do branco e do preto. Esta característica minimalista, em conjunto com sua trilha sonora única, ajudam a proporcionar a ambientação misteriosa presente na aventura, o que faz parte da crítica e dos fãs considerá-lo um jogo de terror, ou ligado aos “film noir” e ao expressionismo alemão. Seu estilo artístico merece bastante destaque, já que vemos detalhes curiosos, como as animações de morte do protagonista um tanto quanto violentas.
A Jogabilidade de Limbo é bastante simples, sendo que nosso personagem pula, corre, empurra e agarra em beiradas, fazendo isto para simplesmente sobreviver ou apenas solucionar a série de quebra-cabeças presentes em toda nossa aventura. Prestar atenção nos cenários para evitar suas armadilhas, ou desarmá-las, faz parte de nossa rotina desde o início da campanha.
Como de costume nos jogos da atualidade sua dificuldade é baixa, bastando que o jogador preste atenção nos cenários para conseguir avançar nos quebra-cabeças e evitar as possíveis ameaças. Nas palavrar dos próprios desenvolvedores, enquanto o título estava sendo feito, suas metas eram produzir “puzzles” não tão fáceis como os presentes em Uncharted 2, assim como não tão complicados quanto os de Prince of Persia (2008). Ou seja, Limbo seria um equilíbrio de dificuldade entre as duas experiências.
O tempo de campanha de Limbo é baixo e, aparentemente, isto foi um ponto negativo junto à crítica especializada. Já na primeira partida, o jogador provavelmente levará cerca de 3 horas para terminar sua aventura, isto caso venha a perder um grande número de vidas e fique preso em alguns quebra-cabeças.
Ressalto que não considero curta a duração da aventura, pois acredito que caso fosse maior provavelmente acabaria se tornando cansativa e diminuindo sua diversão.
O fator replay de Limbo é bastante limitado. Isto se dá devido à linearidade de sua aventura e baixo tempo de campanha. Apesar disso, os jogadores mais fãs da obra terão momentos extras de diversão em busca dos troféus e procurando pelos ovos que dão acesso à área secreta existente.
A diversão é um dos destaques de Limbo, assim como grande parte dos indies que, eventualmente, recebem reconhecimento. Isto se dá principalmente pela proposta do jogo ser diferente do que estamos acostumados a jogar dentro do seu gênero.
Aqui controlamos um personagem com poucas habilidades e a ausência de músicas felizes na ambientação, com uma proposta que exige que o jogador se permita desfrutar de uma experiência diferenciada.
Durante seu gameplay devemos sempre lembrar da fragilidade do nosso protagonista, assim como aprender com os erros fazer parte do processo de evolução na aventura. O que é justificado com a presença de checkpoints sempre próximos.
Um dos destaques que devemos dar para Limbo está nas animações de morte de nosso personagem, sendo sempre violentas e macabras (lembrando que controlamos uma criança). Nas palavras dos próprios desenvolvedores, estas medidas foram tomadas para, além de colaborar com a ambientação da aventura, também fazer com que o jogador evite suas mortes, exatamente para não ver as diversas formas existentes.
Quando tratamos dos efeitos sonoros e a trilha de Limbo, temos o ponto mais polêmico da obra, já que muitos críticos, erroneamente, divulgaram que o título era ausente que músicas em seu conteúdo. Mais detalhes vemos a seguir.
A controversa trilha sonora de Limbo foi composta por Martin Stig Andersen, um reconhecido músico especialista em canções acusmáticas. Este estilo, pouco popular, tem como objetivo fazer que seu ouvinte interprete qual a fonte sonora.
Outras características correspondem ao fato de elementos como ritmo, harmonia e melodia serem pouco utilizados e, até mesmo, ignorados. Assim sendo, o jogador de Limbo deve interpretar, não somente, seu enredo, como também, suas músicas. Abaixo segue a trilha completa.
Curiosidades 4: Em junho de 2016, tivemos o prazer de conhecer Inside, título este considerado por muitos como o sucessor espiritual de Limbo. Este segundo jogo da Playdead chegou como um exclusivo temporário de Xbox One e as expectativas sobre o game não eram poucas.
Por incrível que pareça, ele conseguiu superá-las e acabou recebendo um reconhecimento maior que o seu antecessor. Entre suas façanhas está o fato de concorrer a melhor jogo do ano no The Game Awards daquele ano. O game é incrível e provavelmente receberá um artigo só para ele futuramente aqui na Gamer Point. Abaixo segue o trailer de Inside.
Conclusão
Limbo foi importante dentro da indústria dos games, principalmente, por receber destaque no momento em que jogos focados em multiplayer online e FPSs dominavam grande parcela do mercado e os olhos da crítica.
Assim, este título fez com que desenvolvedores percebessem que ainda havia espaço para jogos simples, single player e de campanhas de baixa duração, desde que, é claro, fossem originais e tivessem grande qualidade artística.
Desta forma, fica nossa recomendação da Gamer Point para aqueles que ainda não jogaram Limbo, deem uma chance, há uma grande probabilidade de você começar a dar uma atenção maior aos jogos indies.
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