Tenho quase certeza absoluta de que nunca houve – e provavelmente nunca haverá – uma celebridade tão ligada a uma franquia de videogames como é o caso de John Madden. Para quem não o conhece, John Madden foi um dos maiores nomes do esporte americano, mais precisamente do Futebol Americano.

Após uma carreira como jogador e outra ainda mais vencedora como técnico, conquistando inclusive um Super Bowl pelo Oakland Raiders, o saudoso John Madden ainda teve pela frente uma longa carreira na frente das câmeras, sendo um dos maiores comentaristas e apresentadores esportivos dos Estados Unidos.

Imagina aí por exemplo, um Galvão Bueno ou Casagrande sendo o título do principal de um jogo de futebol? É basicamente isso que acontece com o EA Madden NFL quando falamos de futebol americano.

John Madden vem sendo o título dessa franquia clássica da EA há mais de 30 anos, realmente nenhum outro nome consegue se manter nos holofotes de uma franquia tão popular como John Madden consegue até hoje. Infelizmente este lendário treinador e comentarista de futebol americano faleceu em 2021, sendo esse o primeiro título de Madden NFL, que John Madden não pôde ouvir seus comentários. Mas neste título, a EA optou por fazer uma gigantesca e justa homenagem a todo o seu legado. Mas será que foi o suficiente?

Uma justa homenagem

O legado de John Madden é o principal ponto de partida de Madden NFL 23, isso é imediatamente ilustrado nas incríveis animações da tela de título e com o Madden Legacy Game apresentando duas gerações de John Madden com equipes cheias de lendas da NFL e com jogadores modernos. Esse jogo de exibição juntamente com os comentários do próprio John Madden ajuda a mostrar não apenas o quanto ele significou para essa franquia de jogos, mas também para a Electronic Arts em geral.

Como dito acima, ao invés de nos colocar no controle das equipes que chegaram ao Superbowl na temporada passada -o que podemos fazer mais tarde- que sempre foi o padrão da franquia ao abrir um novo Madden pela primeira vez, a EA decidiu por nos dar uma dose de nostalgia nos oferecendo ela em uma bandeja de prata com uma primeira partida do Madden Legacy Game, uma espécie de aula interativa de história do esporte, com dois elencos de jogadores lendários da NFL.

Voltando para os anos 1970, mais precisamente no Oakland Coliseum, vamos jogar com e contra figuras de diferentes décadas do esporte, como Brett Favre, Ray Lewis, Tim Brown, Barry Sanders, Randy Moss ou Tom Brady, todos com uma estética de design que remete ao primeiro jogo da franquia licenciado com o nome de John Madden, lançado lá em 1988. Se você ama a saga desde suas raízes e se interessa pela história do futebol americano em todas as suas variações, esse detalhe na apresentação, assim como o próprio modo, será um prato cheio. Sem dúvida alguma, uma grande dose de nostalgia e que deixará o fã da NFL com olhos marejados.

Um desafio a mais para os veteranos

Madden NFL 23 não demora muito para nos apresentar o que é sua maior novidade em termos de jogabilidade: um novo sistema de passe, muito mais complexo do que conhecemos até agora. Passamos de simplesmente pressionar o botão do controle no momento certo, para poder fazê-lo com mais ou menos intensidade ou até acompanhá-lo com gatilhos para fazer o passe mais alto ou mais baixo, e nesta edição vemos uma nova evolução. Para aqueles que desfrutam dessa franquia há anos, ainda era extremamente frustrante ver um wide receiver, estar livre para receber um passe e ele terminar incompleto.

Agora, esta nova mecânica de passe é baseada em dois aspectos: precisão e força. Como de costume, o ícone corresponde exatamente ao botão do controle que você deve apertar, mas desta vez veremos um medidor de força quando começarmos a pressioná-lo, que, como podemos imaginar, deve ser apertado no momento certo. Até agora não é tão diferente do que estamos acostumados, mas as coisas se complicam quando também entra em jogo uma espécie de mira que manuseamos com o analógico esquerdo e que define a precisão do passe.

Não entre em pânico, esta mira, por padrão, aparece perto do caminho do receptor do passe, mas em níveis de dificuldade mais altos é um grande desafio. Nada que algumas partidas jogando offline não seja o suficiente para se adaptar e partir para o competitivo. É um sistema que adiciona uma camada de profundidade, sem dúvida, e que os veteranos vão gostar muito, mas creio eu que não é a melhor porta de entrada para um usuário que está começando a jogar a franquia nesta edição. Mas felizmente, o Madden NFL 23 deixa você escolher o estilo de gameplay que você prefere, e claro, para o usuário mais novo na franquia, eu recomendo o modo clássico.

Além dessa novidade, teve uma que certamente é a principal, que a EA passou a chamar de FieldSense, que é uma série de melhorias focadas na jogabilidade, mais precisamente voltada para o sistema de tackles. O Hit Stick agora nos dá mais liberdade para realizar uma variedade maior de tackles agressivos: com o ombro abaixo da cintura, no ar, ou até mesmo quebrando um bloqueio para outro companheiro de equipe.

Isso vem acompanhado de uma nova mecânica, como os Stand Up Tackles, que são aqueles contatos que são feitos enquanto o atacante ainda está de pé e pode lutar por alguns metros extras, algo que é resolvido com um simples QTE de botão para determinar se o atacante é derrubado ou, se ao contrário, recebe 3 ou 4 jardas extras.

Como de costume em cada nova edição, a EA apresenta novas animações, especialmente no contato físico dos jogadores, mas todas essas novidades de captura de movimentos e de colisões entre jogadores, ainda carece de uma segunda mão de tinta. Em alguns momentos, é possível notar uma física surreal, contatos estranhos ou até bugs… Tudo isso aconteceu em grande parte nas jogadas de corrida pelo centro, onde jogadores de ambas as linhas -ofensiva e defensiva-, algum linebacker, tight end e, claro, o running back, se acumulam nas descidas e vira um sanduíche de brucutus com armaduras se debatendo entre si. Mas apesar de ainda ser algo comum, esses problemas ainda estão em menor número do que se comparado ao Madden NFL 22.

Em campo, não há dúvida de que o jogo realmente brilha. Ele usa da licença oficial da NFL de forma perfeita. As partidas soam realmente como um jogo que você pode assistir na TV em uma temporada regular da NFL: as apresentações de ambas as equipes, a entrada dos jogadores em campo, a visualização das estatísticas, os comentários, tudo é exatamente como um “Gameday” de um jogo de NFL.

Mas por outro lado, os gráficos poderiam ter dado um salto maior, especialmente se levarmos em conta que o PlayStation 5 e o Xbox Series já estão há dois anos no mercado. Apesar de recursos como fieldsense só estarem disponíveis nas versões de PS5 e XBOX Series, ainda deixando de fora por exemplo, a versão de PC, a EA ainda pensa o jogo para a geração anterior de consoles, o que acho justo devido ao número na base de jogadores, mas ainda assim, continuo acreditando que deveriam ter dado um pouco mais de atenção à nova geração e a tudo que ela pode proporcionar.

Uma zona de conforto perigosa

Se em nível de jogabilidade e simulação as coisas melhoraram e tiveram alguns ajustes, não é possível falar o mesmo sobre os modos de jogo. Aqui as coisas ainda estão muito alinhadas com o que vimos em Madden NFL 22, exceto por alguns retoques aqui ou ali.

Estamos de volta com o Modo Franquia, que inclui algumas novidades interessantes para termos que lidar fora de campo, como motivações dos jogadores, mudanças no sistema de olheiros e algumas mudanças no uso de tags e rascunhos.

Talvez seja o modo mais complexo, maior e divertido, aquele em que podemos passar horas e horas com nosso time favorito e, embora tenha mudado pouco do que vimos alguns anos atrás, a EA continua a mimá-lo edição após edição. Não espere uma revolução, não é, mas é levemente temperado com alguns ajustes que foram bem-vindos.

Como de costume, Madden NFL 23 nos traz de volta o Face of the Franchise, o modo cinematográfico que encarnamos um jogador em sua jornada pela NFL, e desta vez ele procura nos dar uma ligeira mudança na apresentação de sua narrativa, convidando-nos a assinar um contrato de um ano com o clube dos nossos sonhos.

Não começamos mais do zero ou da universidade. Já estamos entre os grandes e temos que abrir espaço para voar alto. Há um grande número de posições para escolher jogar e aspectos para personalizar em nosso jogador, o que é muito bem-vindo. Além disso, foram incluídas as chamadas Atividades Secundárias, que nos permitem desenvolver nosso jogador com atividades fora do campo, como praticar exercícios, treinamento, recuperação pós-treino, um dia de folga para curtir, entre outros.

São novidades que podem ser bem vindas, mas sempre fica um gostinho de quero mais. Parece que a EA não sabe o que fazer com esse modo, que se tornou popular nos jogos 2K Games e que até a FIFA tentou surfar na onda e que vêm entregando boas experiências ano após ano.

E claro, tratando-se de EA SPORTS, é claro que o Ultimate Team ainda tem seu lugar. Apesar de nem chegar aos pés do sucesso e popularidade que é o Ultimate Team do FIFA, Madden NFL tenta ano após ano adicionar algumas fórmulas e ajustar as ideias já vistas na franquia de esportes vizinha, buscando maneiras mais fáceis de desbloquear jogadores e pacotes, mudando a gestão de equipes e expandindo o sistema de recompensas com base em objetivos, algo que é bem-vindo, especialmente se tratando de um modo que existe basicamente devido as microtransações com dinheiro real.

Sim, há muito o que fazer em Madden, mas para ser honesto, ainda parece que, embora existam muitos modos de jogo e que cada usuário pode ter um favorito, tudo ainda é mais ou menos o mesmo do ano passado. E isso pode ser um problema.

Ainda mais levando em consideração que o próprio FIFA, apesar de também sofrer com o mesmo problema de entregar poucas novidades de uma versão pra outra, hoje já conta com muitos mais modos de jogo e formas de jogar, incluindo partidas mais personalizadas. Talvez a franquia Madden possa se espelhar um pouco exatamente no que já existe na própria EA.

Imersão com requintes

Dito tudo isso, Madden NFL é um jogo extremamente imersivo para quem gosta de Futebol Americano. Mas ele é imersivo só até o momento em que para de funcionar. E em nossos testes em um XBOX Series S, a perda de imersão ocorreu em várias ocasiões.

A maioria delas, foi relacionada a problemas na interface: selecionar um menu e ele congelar, não deixando mais interagir com ele e sendo preciso reiniciar o jogo, ou ao final de uma partida, ao invés de voltar para o menu do modo de jogo, eu era levado de volta para o menu principal e em muitas vezes perdendo o próprio save daquela partida que acabou de terminar… esses foram alguns problemas que enfrentei e que me deram bastante dor de cabeça com o jogo, me fazendo por muitas vezes, sair da imersão que o jogo proporciona durante as partidas.

Apesar das novas mudanças nos controles e ter realmente aprimorado muita coisa em relação aos títulos anteriores, a inteligência artificial dos seus jogadores continua um pouco estranha, principalmente quando você está tentando jogar pelo alto. Sai os fumbles estranhos que aconteciam nas edições anteriores e entram as inúmeras interceptações que acontecem de forma inexplicável por parte da defesa do time adversário. Madden ainda é um jogo que por muitas vezes eu sinto não ter o total controle da situação.

Alguns dos problemas de interface podem ser facilmente corrigidos com alguns patches de correção, o que provavelmente irá acontecer ao longo das semanas, mas não posso deixar de falar que jogar o jogo na semana do seu lançamento foi um pouco frustrante devido aos inúmeros bugs que ocorrem principalmente na interface.

Conclusão

Madden NFL 23 é, acima de tudo, um jogo divertido e o que há de melhor em videogame quando se trata de futebol americano. Os fãs da NFL vão encontrar nesta edição um jogo que tem uma leve melhora em alguns aspectos, mas com ainda alguns vícios e problemas da edição anterior.

É ao mesmo tempo uma homenagem justa e bonita a John Madden, uma figura lendária neste esporte e um rosto visível como parte do licenciamento dessa franquia por anos. A EA Sports conseguiu atualizar a mecânica de passes tornando-os mais desafiadores, divertidos e interessantes para os jogadores mais experientes, além de se dar ao trabalho de buscar um desenvolvimento mais orgânico das partidas com situações mais realistas baseadas nos desarmes.

Porém, e apesar da melhora na simulação física, o título continua arrastando problemas, bugs e uma seção gráfica que precisa dar um salto e usar todo o poder de processamento que o PlayStation 5 e Xbox Series X/S tem a oferecer. Os modos de jogo merecem destaque, variados e cheios de possibilidades, mas com poucas novidades e mudanças de peso. Madden NFL 23 é um pequeno passo em direção à end zone, mas não o suficiente para para um touchdown que irá arrancar gritos da torcida.

Essa análise foi feita com base em uma cópia cedida pela EA GAMES, a qual agradecemos pela confiança em nossa equipe.

Nota
Geral
6.5
madden-nfl-23Apesar de inovar pouco e ainda não dar um salto de geração gráfica, as novidades em relação ao gameplay e o novo sistema de passes tornam Madden NFL 23 o melhor jogo da franquia em anos, mas ainda longe de ser o que o fã realmente anseia.