MiSide é um jogo indie desenvolvido pela AIHASTO e distribuído pela IndieArk, e foi uma bela surpresa. Um jogo que consegue divertir e trazer elementos inesperados tanto para a trama quanto para a gameplay. Mais do que apenas um indie promissor, MiSide se destaca por sua capacidade de enganar o jogador, desafiar expectativas e entregar uma experiência que permanece com você mesmo após os créditos finais.
AVISO DE SPOILERS!
Uma História Que Engana e Surpreende
A história de MiSide é um daqueles contos que brincam com nossas expectativas. Eu realmente gostei de como a narrativa se desenrola e de como a conclusão foi satisfatória. O jogo te dá a ilusão de estar no controle das decisões, mas, no fim, essa ilusão é despedaçada. Essa sensação de impotência ficou comigo após finalizar o jogo.
Cada escolha parece significativa, e por um momento eu realmente achei que estava ditando o curso da história. Mas, quando as peças se juntam, percebemos o quanto a narrativa foi meticulosamente planejada para nos enganar. Essa mistura de controle e falta dele me fez refletir sobre as próprias escolhas que fazemos na vida.
Além disso, MiSide se aprofunda na ideia de metalinguagem e quebra da quarta parede, trazendo uma história que não apenas se passa dentro do jogo, mas que também parece dialogar diretamente com o jogador. Isso me lembrou títulos como Doki Doki Literature Club! e Undertale, onde a ilusão de liberdade esconde uma manipulação muito bem planejada dos eventos.
Terror, Tensão e Risos
MiSide pode não parecer um jogo de terror à primeira vista. Com seu visual cartunesco e personagens carismáticos, eu não esperava a quantidade de sustos e momentos tensos que me aguardavam. E aí está um dos grandes triunfos do jogo: a imprevisibilidade. Cada nova situação era um mistério, e essa sensação de não saber o que vem a seguir é algo que poucos jogos conseguem proporcionar hoje em dia.
Há uma construção cuidadosa da atmosfera, com silêncio absoluto intercalado por momentos de tensão crescente. A sensação de estar sendo observado é constante, e o jogo brinca com isso de maneira genial. Algumas cenas me lembraram o terror psicológico de Silent Hill, onde o medo não está apenas no que aparece na tela, mas também no que sua mente começa a projetar.
Entre os momentos de puro terror, houve também cenas engraçadas e inesperadas. Cada Mita que encontramos ao longo da aventura tem uma personalidade própria, tornando essas interações memoráveis. Essas criaturas não são apenas obstáculos; são parte fundamental da experiência, agregando charme e emoção ao enredo.
Jogabilidade Que Mistura Tudo e Funciona
A gameplay de MiSide é um mosaico de experiências. Em alguns momentos, estamos em um ambiente 3D, explorando, resolvendo puzzles e coletando itens. De repente, o jogo nos joga em um cenário 2D, em uma tentativa frenética de escapar desse universo. Essa transição entre estilos torna tudo mais dinâmico e envolvente.
E, como se não bastasse, existem minigames espalhados pelo jogo, muitos deles trazendo referências a clássicos da indústria. É simples, mas funciona incrivelmente bem. Cada minigame oferece uma pausa na tensão, trazendo momentos descontraídos que equilibram a atmosfera do jogo.
A inteligência artificial também merece destaque, pois consegue criar um desafio real sem parecer injusta. Os inimigos têm padrões de ataque bem elaborados e, às vezes, parecem se adaptar às escolhas do jogador, tornando cada encontro imprevisível.
Dublagem Feita por Fãs: Um Toque Especial
Algo que me chamou muita atenção foi a presença da dublagem feita por fãs. A opção de ativá-la foi uma surpresa, e a qualidade da dublagem é realmente impressionante. Foi algo feito com carinho e dedicação, e isso se reflete a cada linha de diálogo. Seria interessante ver mais jogos independentes adotando esse tipo de iniciativa, pois adiciona uma camada extra de imersão.
Visual e Som Que Encantam
Visualmente, MiSide é um deleite. Seu estilo cartunesco é vibrante e detalhado, especialmente nas expressões dos personagens e na ambientação dos cenários. A trilha sonora, por sua vez, complementa perfeitamente a atmosfera do jogo. Em momentos de tensão, a música cresce, deixando o coração acelerado, enquanto em situações mais leves, ela acalma e embala a jornada.
Os efeitos sonoros também contribuem para a imersão, principalmente nos momentos de terror. Pequenos detalhes, como sussurros ao fundo ou ruídos inesperados, fazem toda a diferença na experiência.
Performance e Experiência Técnica
Joguei MiSide em um Ryzen 5 3600, RTX 4060 e 16 GB de RAM, e a experiência foi extremamente estável. O jogo rodou a 180 FPS, que é o limite de Hz do meu monitor, sem qualquer problema ou bug significativo. Foi uma jornada fluida e suave, sem nada que atrapalhasse a imersão.
Não testei o jogo em configurações mais modestas, mas, pelo seu estilo gráfico, acredito que ele deva rodar bem em hardwares menos potentes. Ainda assim, seria interessante verificar a otimização para diferentes configurações.
O Controle Que Nunca Tive
Finalizar MiSide foi uma experiência transformadora. A ilusão de controle, os momentos imprevisíveis e as reviravoltas da história me marcaram de uma forma que poucos jogos conseguem. Quando achei que estava no comando, percebi que o jogo sempre esteve um passo à minha frente.
Se você busca um jogo que desafia suas expectativas, emociona e ainda consegue te arrancar alguns sustos, MiSide é uma escolha certeira. E, mesmo depois dos créditos, a reflexão sobre a ilusão do controle ainda ressoa na minha mente. Porque, no fim das contas, não temos controle de nada — e talvez essa seja a maior lição que MiSide tem a oferecer.