A Fênix-dragão

Poucas franquias antigas de jogos de luta conseguiram se reinventar tão bem quanto Mortal Kombat em 2011, saindo de uma geração repleta de lançamentos medíocres, começando até antes em MK4 para depois o que parecia mirar num declínio eterno rumo ao esquecimento total.

A partir da sétima geração, com a deixa dada pelo inusitado Mortal Kombat vs DC Universe, “Mortal Kombat” ou Mortal Kombat 9 não só rebootava a série – sem ignorar toda a porcaria que aconteceu até então, mas também incluia um modo história parrudo em si. E quem conhece a franquia sabe que não se trata de um comparativo qualitativo a histórias de filmes adultos.

A narrativa recontava com fidelidade os eventos a trilogia clássica, com cutscenes de alto orçamento, puxando de volta todos os fãs perdidos ao longo do caminho. Esse modo história ensinava os fundamentos do jogo sem ser cretino e de quebra fazia você jogar com praticamente todos os personagens a fim de lhe vender o produto Mortal Kombat na forma de jogo de luta puro, para que você não se apegue a somente um personagem.

O capricho não parou por aí, pois o game era recheado de modos bem diferenciados e até para o jogador offline solitário o título era atrativo. Os DLCs também eram interessantes, mas o mais importante de tudo é que nunca ficava no comprador do jogo a sensação de que ele comprou um pacote efêmero. E essa tradição se mantém em Mortal Kombat X e 11.

Retomando às altas Konfusões

Eis que estamos em Aftermath imediatamente revendo o final do jogo base do MK11, este que não foi o mais elogiado quando foi ao ar no ano passado. Aqui, vamos ver o que acontece depois do final e, claro que é muito mais ação e motivos baratos para que ocorram conflitos. Óbvio que não vou dar spoiler dessa história diminuta, de cerca de 3 horas de duração.

Mas ela envolve a turminha do barulho (do bem) tendo que confiar em alguns personagens malignos (você sabe que é Shang Tsung, isso está no trailer) para alterar alguns eventos indesejáveis no curso da humanidade. É interessante sentir uma certa tensão entre os personagens desconfiados da presença do feiticeiro, que por sua vez é interpretado por Cary-Hiroyuki Tagawa (Shang Tsung do filme original) e se entrega de forma bastante satisfatória.

Fujin vs ShangTsung mk11
Fujin vs ShangTsung

Apenas o olhar traiçoeiro de víbora nessa interpretação já é o bastante para ser uma atuação prestigiosa. Os personagens que são novos na expansão (tirando o Robocop) são o foco da gameplay dentro dessa campanha. Alguns apareciam no jogo base porém não eram jogáveis em modo algum. Estamos falando de Sheeva. Além disso o nosso paladino Fujin tem presença marcada também.

No caso desses dois, a primeira representa uma gameplay bem travada e de especiais limitados, e o outro aposta numa jogabilidade mais clássica que pode render bons kombos e diversão garantida.

Qualquer contenda sobre como o modo história é tratado, é deixada de lado quando o assunto é a jogabilidade como puro jogo de luta. Os golpes podem ser lidos, os “tells” e suas animações. Esse feito de tornar o jogo um balé bonito de se ver entre aqueles que possuem o mínimo de técnica, certifica que Mortal Kombat hoje exerce um feito duro de ser alcançado, onde de verdade sinto que somente 3 em cada 10 jogos de luta conseguem chegar lá.

Os outros 7 jogos geralmente são bonitos, todos os personagens possuem golpes, e seus desenvolvedores colocam eles para brigar, sem pensar nas minúcias e consequências mútuas. Uma fórmula de bolo.

Uma historinha bem gostosa de se ver

Dentro desse habitat é preciso cometer algumas suspensões e uma delas é o fato de que mesmo que elogios tenham sido feitos em relação a história… O roteiro não é de se levar muito a sério. Como num episódio de cartoon de herói americano de alguma manhã da TV Globinho, os eventos acontecem com uma velocidade muito alta.

Pode ser que poucos minutos separem uma aliança de uma traição e vale de tudo para os personagens mudarem de lado só para fazer você jogar com eles. Isso está muito, muito forte em Aftermath, porém existe uma novidade interessante que é de que o jogo irá algumas vezes negar a regra que acabei de citar e fazer você jogar com os vilões e suas pretensões, sem véu algum, sem desculpas.

Essa ingenuidade às vezes pode incomodar em qualquer um dos três últimos jogos lançados, porém mais uma vez eu digo: Mortal Kombat é isso e talvez não esteja interessado em incluir desenvolvimento de personagens (que aqui é quase zero), um artifício muito popular nos dias de hoje em várias mídias.

Lembre-se de que as novas campanhas de Mortal Kombat são um gerador de conflitos e tudo bem, estamos em um jogo de luta. Também há um prazer despertado em que o jogador estará se perguntando contra quem será a próxima luta, pois a tempestade pode mudar de curso a qualquer instante.

Mortal Kombat 11 Aftermatch
Sub-zero vs Sheeva

Isso as vezes vem do fato de eu achar que a parafernália militar não combine com o viés de filme de kung fu, estruturas e locais antigos. Por sorte o modo Kripta, onde é simulado um soft RPG com exploração, se passa totalmente na ilha de Shang Tsung, se tornando um deleite aos saudosistas e atentos aos detalhes.

É importante ressaltar que Mortal Kombat 11: Aftermath é um pacote com conteúdos, um deles não é o jogo base ou outros DLCs menores anteriores. Porém, existe a versão chamada Mortal Kombat:Aftermath Kollection, que inclui todo o conteúdo lançado até então, incluindo claro, Aftermath.

Nota
Geral
7.5
mortal-kombat-11-aftermath-e-um-ensaio-sobre-o-modo-historiaTendo em mente o roteiro corriqueiro, é preciso dizer que todavia existe um espaçamento considerável entre uma luta e outra, cansando um pouco aqueles que esperavam o ritmo de torneio que o game de 2011 teve. Isso pede que a narrativa de alguma forma seja mais esforçada e felizmente, ela consegue ser, pelo menos mais interessante que o jogo base ou o Mortal Kombat X.