Pouco a pouco, o cenário de jogos independentes vai criando novos gêneros e subgêneros que podem ser explorados ao longo dos anos por outros jogos independentes, e às vezes, até mesmo por grandes estúdios em produções AAA.

Um exemplo extremamente bem sucedido, são os jogos Roguelike. Após anos fazendo sucesso no cenário independente, produções como Returnal (PS5) começaram a dar as caras em jogos com orçamento bem maior. Hades, por exemplo, apesar de um jogo independente, concorreu ao jogo do ano em 2020 e consagrou o gênero.

Roguelike é um gênero que veio pra ficar na indústria, mesmo que apesar de tudo que se torna muito popular, pode se tornar sinônimo de uma quantidade exagerada de conteúdo sendo lançado aos montes, e que, se não for bem explorado, pode se tornar falho. Em 2018, Into The Breach foi lançado para as principais plataformas, o jogo tinha um objetivo bem claro: unir o gênero de jogos táticos por turnos com o gênero roguelike.

Poderia dar muito certo e também muito errado, assim como a maioria dessas apostas de sanduíche de gêneros. O certo é que Into The Breach foi um sucesso de público e crítica. Ele inclusive figurou entre os melhores jogos da década passada, na humilde opinião deste redator que vos escreve.

Quatro anos se passaram desde que Into The Breach foi lançado, e eu confesso que imaginei que aquele jogo que misturou dois gêneros amado por muitos fãs, fosse render também outros jogos inspirados nele. Eu até havia me esquecido do subgênero, meio que aceitei que só veríamos Into the Breach mesmo. E volta e meia eu voltava pra ele. Mas eis que em pleno 2022, Oakenfold chega para nós. E eu joguei ele o bastante para escrever sobre essa nova aposta independente feita por um exército de um homem só.

Tem que ter charme pra jogar bonito

É muito bom quando desenvolvedores ousam entregar algo que realmente pode proporcionar aventuras um pouco mais diferentes do que já estamos acostumados. Principalmente quando se trata algumas coisas que normalmente não caminham de mãos dadas tão frequentemente, que é o caso de jogos táticos e roguelike.

Tal qual a mistura do Brasil com Egito, nós não temos uma gama muito alta de jogos que exploram esses dois gêneros. Mas isso mudou graças a um desenvolvedor holandês Rutger van Djik, que lançou a proposta de Oakenfold primeiramente no kickstarter e que teve rapidamente o seu financiamento bem sucedido.

Com o lançamento marcado para 17 de novembro para PC, Oakenfold é um jogo que sabe muito bem onde está se inspirando, mas sabe mais ainda para qual caminho deseja seguir. Oakenfold pega o estilo de jogo que Into the Breach proporcionou, e lança seu próprio toque único nele.

Enquanto Into the Breach é um grande quebra-cabeça de estratégia, Oakenfold traz a jogabilidade e a estratégia indie geradas proceduralmente para uma abordagem que apesar de tentar focar em um grande objetivo, é capaz também de avançar independente dele. Além dos níveis variáveis ​​clássicos e atualizações comuns no gênero, o grande ponto de Oakenfold é sua mecânica única de manipulação de tempo.

Se uma solução que você está usando para o quebra-cabeça de um nível não funcionar, você pode reverter o tempo e tentar novamente com as novas informações que você reuniu até então na sua jogatina.

Ok, você deve estar pensando: “mas Into the Breach também se tratava de um jogo que permitia manipular o tempo”. Sim, verdade. Mas neste caso aqui difere um pouco: você pode manipular o tempo ainda na sua partida atual, diferente de Into the Breach que te permite resgatar soldados para uma nova tentativa.

Uma estrutura de jogo viciante

Oakenfold sabe muito bem fazer uso da frase “só mais uma run” que é dita por inúmeros gamers. Por mais que ele entregue em sua proposta de roguelike uma morte permanente após você falhar, você sempre sente que conseguiu absorver um pouco mais de experiência e já parte imediatamente para uma nova tentativa, que, eu já adianto: você vai falhar novamente.

Ele é um jogo punitivo, e por usar a mesma fórmula batalha de Into the Breach onde você consegue ver onde e como será o próximo ataque ou movimento dos seus inimigos, ele te dá aquele gostinho amargo de “tragédia anunciada”. Mas ao mesmo tempo ele passa a sensação de prazer que é ver um trem desgovernado em movimento.

Chega um momento em que você falha em uma fase e já sabe que está por um único movimento errado para colocar toda sua ‘run’ por água abaixo. Então você já está vendo que aquele trem irá em algum momento, sair dos trilhos. Mas você persiste, continua e observa a sua própria falha e a engole amargamente como um bombom de 50 centavos que tem gosto de sabão. Mas relaxa, é só tentar de novo, e como o jogo é procedural, então você jamais jogará a mesma partida novamente.

Como se fosse um tabuleiro de xadrez separado por quadrados e alguns pontos de ação, você precisa performar seus movimentos de maneira com que você consiga sobreviver a uma quantidade determinada de ondas de inimigos que irão surgir para tentar, ou te matar, ou na maioria das vezes: destruir as caixas que você precisa proteger. Essas caixas são combustíveis que a protagonista Asha precisa manter segura para recuperá-las.

Ao invés de usar vários personagens com habilidades diferentes para você escolher, Oakenfold vai na contramão disso. Você joga exclusivamente na pele de Asha, mas para proporcionar uma variedade maior de jogabilidade, Asha tem uma mentalidade variada de combate que você pode escolher antes de começar uma nova tentativa bem sucedida.

A mentalidade variada de Asha dá a ela habilidades iniciais únicas, onde você pode optar por uma abordagem ofensiva, mais ágil ou manipular a posição de seus inimigos para que eles ataquem uns aos outros. Durante a jogatina, você se depara dentro das fases, com mesas de pesquisas.

Ainda usando seus pontos de ação para conseguir matar alienígenas e completar sua missão, você pode gastar a energia que você recupera dos inimigos que você derrotou, para comprar novas habilidades ou melhorar as já existentes. Ou seja, como todo bom roguelike, você começa com um equipamento básico e o melhora ao longo da sua jornada.

Como é comum em roguelikes mais recentes, o jogo conta com uma uma tabela de classificação de recordes para incentivar a comunidade de jogadores em torno do jogo a manter uma competição saudável para ver quem consegue vencer o jogo com um melhor aproveitamento. Além disso, Oakenfold conta com missões semanais, as chamadas ‘Weekly Escapes’, um jogo atualizado semanalmente, onde todos os jogadores terão os mesmos desafios e escolhas em um cenário e batalha pré-determinados.

Isso permite que os jogadores joguem repetidamente essa missão semanal para conseguir alcançar a posição no topo da tabela de classificação. Sem dúvida alguma, é algo que proporciona um fator de replay e competitividade muito maior.

Arte e história caminham de mãos dadas

Em termos de história e enredo geral, Oakenfold gira em torno de uma personagem chamada Asha, uma jovem que vive em uma época em que a humanidade está à beira da extinção, devido a uma misteriosa ameaça alienígena conhecida como Biocide. Seu pai colocou a última esperança da humanidade em seus ombros após sua morte em um ataque dos Biocide.

A partir daí, cabe a você jogando como Asha e usando todo o aprendizado que o pai da protagonista a ensinou para recuperar a última das caixas cheias de combustível para energizar Oakenfold, o último assentamento da humanidade e um biodomo que Asha precisa lançar nas estrelas. Usando as habilidades que seu pai lhe ensinou, Asha deve coletar o combustível enquanto luta contra os Biocides para escapar dos alienígenas e dos assustadores chefões de cada mundo explorado.

O jogo também conta com uma direção de arte que rapidamente me fisgou. O design da Asha, independente do traje que representa a mentalidade em uso, é muito bonito e suas animações ao usar as inúmeras habilidades também. Mas nem só de protagonista vive um grande jogo. Os alienígenas que enfrentamos também contam com um design de personagem que combina muito com a ameaça que cada um carrega consigo.

Os chefões então, pra mim são a cereja desse bolo bonito e gostoso. Por mais que nos primeiros minutos de jogo eu tenha ficado com opiniões divididas quanto ao ‘mapa’ do jogo, não demorou muito tempo para eu ficar imerso nele e me apaixonar com a combinação de cores e personagens que compunham esse tabuleiro viciante.

Vale a pena?

Oakenfold trata-se de um jogo tático com elementos de jogos roguelike. Por si só, cada um desses gêneros já são muito nichados. Unindo os dois então, é preciso que o jogo seja realmente muito equilibrado e divertido para agradar uma parcela maior de usuários. Como um fã de jogos táticos há décadas e um grande apreciador de roguelikes, mas que ao mesmo tempo, sempre fica com um pé atrás por causa da quantidade exagerada de títulos sendo lançados diariamente, eu não posso deixar de recomendar Oakenfold.

Rutger van Djik, o desenvolvedor holandês que criou Oakenfold sozinho, conseguiu explorar muito bem o gênero e subgênero que ele mesmo disse tanto amar. É notório que quando uma obra é feita por alguém que gosta de forma genuína não só naquilo que está trabalhando, como naquilo que ele quer que as pessoas usufruam da obra criada, tal obra dificilmente irá falhar.

Por se tratar de um jogo extremamente leve, Oakenfold deve rodar facilmente até mesmo naquele seu netbook que está guardado na gaveta com um modem 3G de 2007. Portanto, tem tudo pra ser o seu mais novo jogo leve em que você pode ouvir um bom podcast, de preferência o Supernovas, enquanto derrota vários alienígenas, falha em algum momento e está pronto para falar: vou jogar só mais uma!

Esta análise foi feita com base em uma cópia cedida pelo Studio Taghua, agradecemos pela confiança em nossa equipe.

Nota
Geral
8.5
oakenfoldOakenfold mistura o gênero de jogos táticos por turno com roguelikes em uma clara inspiração ao aclamado ‘Into the Breach’ e entrega um jogo com uma proposta mais madura e cheia de alternativas para o jogador.