Em 2022, o ‘mangá’ de One Piece comemorou seu 25º aniversário – desde sua estreia nas páginas da Weekly Shonen Jump em 19 de julho de 1997.

Como parte das comemorações do 25º aniversário das aventuras de Monkey D. Luffy, a Bandai Namco e a ILCA planejaram lançar One Piece Odyssey em 2022. Infelizmente, alguns atrasos adiaram o lançamento da nova aventura da tripulação dos chapéus de palha para 2023. Mas a espera acabou e finalmente essa grande aventura está disponível para o público.

Mas quando falamos de adaptações de mangás e animes para os videogames, é como procurar agulha no palheiro para encontrar as boas adaptações em meio a tantas horríveis. Será o caso de One Piece Odyssey? Ou será que a aventura do ‘Chico Bento com poderes elásticos’ poderá ser uma boa adaptação não só para os fãs, como para marinheiros de primeira viagem?

Do naufrágio ao mistério

Os Piratas do Chapéu de Palha navegaram pelos mares inúmeras vezes, enfrentando todos os tipos de perigos e descobrindo mistérios suficientes para não precisar temer praticamente mais nada. No entanto, eles nunca haviam se envolvido em um enigma como o que One Piece Odyssey coloca na mesa. Enigma esse que leva um pouco de tempo para que não só os protagonistas da história, como quem está jogando, sejam apresentados a ele. O jogo de fato demora para nos apresentar uma história capaz de nos pegar do começo ao fim.

Tudo começa com um naufrágio. E o mais curioso, é que o principal culpado não foram as condições do oceano nem o clima, mas um estranho fenômeno que dá origem à materialização de uma enorme construção que se perde além dos céus. Até aí, nada de estranho… eu acho? O problema é que quando o que parecem ser grandes pedaços de gelo começam a cair na praia, os nossos tripulantes descobrem que há raios congelados lá dentro.

Para piorar a situação, não demora muito para aparecer uma garota misteriosa, cujo nome não pretendo revelar, afirma garantir a tranquilidade da ilha; ao longo da história você percebe que ela desconfia de qualquer pirata devido às más experiências do passado. Em condições normais, uma jovem garota não deveria ser um problema para Luffy e sua tripulação, mas e se ele tiver um dom capaz de extrair o poder interior de todos que toca com as mãos? De qualquer forma, não pretendo estragar nenhuma surpresa para você, mas garanto que a história é muito interessante e muitas vezes tem um ás na manga. Inclusive, o próprio criador do mangá, Eiichiro Oda, é quem escreve essa história inédita para os videogames.

Um JRPG de 2023 como tem que ser

Se eu tiver que citar outros jogos para dar uma ideia de como é One Piece Odyssey, certamente posso falar dos últimos capítulos de Tales of e Dragon Quest. Ou seja, estamos diante de um JRPG clássico, mas adaptado aos tempos atuais e modernizado para evitar cair em certo tédio e elementos que muitos usuários consideram um tanto arcaicos hoje. Uma aventura com letras maiúsculas, cheia de conteúdo e com um desenvolvimento fluido.

Não pretendo entrar em spoilers sobre personagens ou locais, pois acredito que seria uma pena estragar qualquer surpresa, já que cada momento de descoberta de um local novo, é sempre muito gostoso em qualquer JRPG. Mas posso afirmar que é possível esperar uma ótima jornada por todos os tipos de ambientes que, além de transbordar de beleza, são enormes, e em alguns casos, sempre é uma nova área para você explorar cada cantinho, já que sempre há algo para fazer nelas. Regiões abertas, masmorras, caças ao tesouro, cidades, lojas, missões secundárias… É impossível ficar entediado ao jogar um jogo equilibrado como One Piece Odyssey.

E é exatamente esse um ponto que eu realmente gostei: exploração. Muitas vezes vemos baús trancados, ruínas e lugares que não podemos acessar no momento em que os visitamos pela primeira vez, além de elementos com os quais não podemos interagir até mais adiante. Isso combina bem com o uso de habilidades de campo (Luffy pode alcançar posições altas usando seus braços como gancho, Zoro pode destruir portais especiais com sua espada e por aí vai…). O jogo realmente cumpre o objetivo de fazer com que o jogador tenha a sensação de que há sempre algo de novo por vir. Inclusive, isso é deixado claro logo no início, já que o jogo conta com inúmeros tutoriais que vão sendo entregues em doses homeopáticas.

Não faltam inimigos especiais, mais poderosos que o normal, ou chefes secretos, claro. Em One Piece Odyssey não há batalhas aleatórias, mas os inimigos circulam livremente pelos cenários e nós decidimos se queremos entrar em combate ou não, embora seja aconselhável fazê-lo com frequência para subir de nível e não ter problemas depois. Inclusive, quando esse clímax chega, significa enfrentar um chefe final daquele arco. Outro ponto bom para se alertar, é que não há seletor de dificuldade, o que pode fazer falta para alguns jogadores que curtem um desafio maior. Por outro lado, a curva de aprendizado é muito bem equilibrada: muitas vezes é desafiadora, mas nunca é injusta ou excessiva por sorte.

Algo que pode incomodar um pouco, é o que já vem como o pacote de “JRPG Tradicional”. Ou seja, espere por tutoriais excessivos que poderiam ser facilmente melhor trabalhados. Mas não espere apenas por isso, espere por isso com o acréscimo de que isso irá pipocar na sua tela durante muitas horas do jogo. Sim, acredite. Por volta de 8 horas de jogo, eu ainda estava sendo apresentado a coisas novas com pop up de tutoriais aparecendo na tela.

Combate que dá conta do recado

Como não poderia deixar de ser em um JRPG, os elementos de cada personagem são muito importantes na hora de atacar, fazendo com que estudar os pontos fracos e fortes de cada inimigo é essencial. Existem golpes capazes de infligir 400 pontos de dano, e outros que são praticamente inúteis. Além disso, temos à nossa disposição uma ampla gama de habilidades exclusivas para cada personagem, que podemos aprender e melhorar —desde que encontremos alguns cubos espalhados pela ilha— para cobrir nossas costas.

Uma das coisas que mais me degustei nos combates é a aposta em batalhas que se dividem em diferentes grupos e zonas. Por exemplo, há momentos em que alguns inimigos enfrentam um de nossos personagens, enquanto os demais preferem se concentrar em outros. Às vezes podemos descartar o rival à nossa frente e optar por atacar outro que esteja colocando nossos companheiros em apuros naquele momento. É algo que traz dinamismo às lutas, já que não há duas iguais e muitas vezes nos encontramos na situação de ter que escolher o melhor para o bem do grupo.

Outro elemento que faz com que as batalhas se tornem mais desafiantes e com um objetivo maior do que só grindar, são as situações dramáticas de perigo. Essas, são certas oportunidades que aparecem aleatoriamente e determinam objetivos bônus aos combates, pois abrem a possibilidade de superar pequenas missões em tempo real. Existe uma boa variedade de desafios, como tornar Luffy quem dá o golpe final em um determinado inimigo, ou desafios como acabar com todos os rivais em apenas dois turnos, entre outros. Claro, se além de vencer a batalha cumprirmos essas missões, o ganho de experiência aumenta consideravelmente.

Por fim, aqui temos algo que eu sinto muita falta no gênero: a possibilidade de aumentar a velocidade das batalhas. É um recurso que parece relegado aos remasters JRPG clássicos, mas por que não adicionar isso para um moderno? É exatamente o que One Piece Odyssey faz, e acho de fato, que vai se tornar rotina para o gênero, já torna a hora de grindar para subir alguns níveis ou aliviar algum tédio quando temos que atravessar uma área cheia de inimigos, um pouco mais fluída. Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age já fez isso, e eu fiquei feliz em encontrar isso aqui também.

Seja você fã ou não

Aproveitar a viagem que One Piece Odyssey me proporcionou, me ajudou a reafirmar o que gosto de pedir em um jogo “licenciado” de uma obra já existente: a facilidade no entendimento da história. Se você chegou até aqui, pode não ter percebido, mas eu não entrei a fundo no lore de One Piece, e isso tem um motivo simples: eu jamais havia tido contato nem com o Mangá ou o Anime. Ou seja, caí de paraquedas para avaliar One Piece Odyssey exatamente como um jogo de fato.

A única coisa que eu sei sobre One Piece, é que ele está no ar há décadas e eu levaria mais do que uma faculdade inteira para assistir a todos episódios que já foram ao ar. Isso inclusive pode ser um motivo para muitos, assim como eu, sentir um pouco de preguiça para começar a acompanhar a obra original. E posso afirmar com toda certeza, que One Piece Odyssey, foi a minha porta. Enquanto jogava o jogo, intercalei em assistir alguns episódios do anime e, bem… acho que virei um pirata(?).

Se você é fã do mangá, pode inclusive, desfrutar de forma bem mais divertida do que eu, essa obra digna do nome que leva, mas se isso não for o caso, você encontrará um JRPG Clássico com elementos modernos, totalmente prazeroso para qualquer jogador como foi pra mim. Uma aventura que oferece dezenas de horas de diversão, com um notável sistema de combate e uma grande quantidade de conteúdo.

Nota
Geral
8.0
one-piece-odysseyEstamos diante de um bom JRPG moderno envolvendo uma das obras japonesas mais populares de todos os tempos. Ainda há espaço para melhorias e potencial inexplorado, mas a ILCA conseguiu criar um sistema de combate bem projetado, uma trilha sonora mágica e uma história interessante o suficiente para manter um bom fã de videogame e da obra original, vidrado por algumas dezenas de horas de frente para a TV ou monitor.