O jogo clássico, a lenda ainda viva nas memórias frescas de gente que já é velha para o Tik Tok. Esse mesmo, que inaugura uma variação de gameplay no mundo dos games, ainda continua sendo um dos jogos mais gostosos de se jogar em seu segmento, e, agora está de volta, dando continuidade a uma das fermentações de maior sucesso da indústria de games. A Capcom deixou o tempo curar jogos já clássicos e vem entregando nos últimos anos, seguidamente, no mínimo jogos muito bons de Resident Evil.
Até o momento, em termos de remake de Resident Evil, este é o título que menos surpreende no quesito surpresas e mudanças esperadas. A atmosfera foi brutalmente reforçada, porém as mudanças se dão através de muitas trocas de ordem dos fatores, invés de uma completa reimaginação. Os jogos originais Resident Evil até então fazem parte da era clássica, em que tínhamos os pontos fixos de câmera.
Talvez por ser o primeiro remake baseado em um jogo já em 3D, a decisão tenha sido de mexer menos em um título que até hoje é lembrado como estando no top 5 de melhores jogos da história de muitas pessoas e crítica em geral. O remake deste Resident Evil não possui gráficos monumentalmente representados porque ele quer se manter fiél ao jogo original e o jogo original por sua vez não tinha ambição nessa parte. Nada de vistas deslumbrantes. Invés disso, vamos pegar esses cenários antigos e deixá-los mais atmosféricos.
Para você que estava morando embaixo de um vilarejo, Resident Evil 4 (o original) instaura uma era que mudou pra sempre a geração de consoles que se iniciava um ano depois (talvez tempo suficiente para os então “copiões” pegarem emprestado as ideias da Capcom). Embora seja muito diferente dos jogos clássicos, o momento a momento do jogo é muito instigante, porque, para que a exploração e busca de recursos seja prazerosa, as ameaças oferecidas num jogo desses deveriam funcionar bem, e é exatamente isso que acontece.
Agora no remake, a produção aposta na seriedade em sua própria temática, embora Leon as vezes pareça destoar do veterano treinado a partir de chantagens do governo. Na verdade, dizer coisas como “foi mal, escorregou” depois de ferrar totalmente com um nativo, pode representar uma sensação sádica, descontando sua frustração em estar preso nas demandas do governo, vai saber…
De qualquer modo, a trilha sonora radicalmente selvagem nos momentos de pânico e pessoas encurralando o seu personagem, pode fazer você ficar estabanado na hora de escolher o que fazer, devido ao bom trabalho audiovisual conjunto do jogo.
Resident Evil 4 é um jogo de atmosfera criada a partir de uma pegada diferenciada se comparado aos clássicos. Agora, a inspiração parece ser de filmes que permeiam os anos 2000, como Pânico na Floresta, mas sem deixar de resgatar profundas inspirações mais envelhecidas no cinema, e estamos falando aqui de coisas como “O Massacre da Serra Elétrica” ou “Crianças do Milharal”.
Nessa tradução para o remake, novamente, menos foi arriscado, e o trabalho gráfico mais atmosférico do que técnico é sentido. O original carregava uma constante de ter cenários marrons (uma tendência levada por toda a sétima geração), e principalmente, exteriores. Por causa dessa proporção maior de cenários mortos, tão mortos como a floresta em A Bruxa de Blair, vamos perder um número maior de seções em interiores onde por exemplo, em Resident Evil 2 Remake ou Resident Evil 7, podíamos curtir os detalhes com esmero maior nestes interiores. Oras, basta lembrar as melhores partes de Village, que sem dúvida foram dentro do castelo inicial que o mesmo fenômeno acontece.
Então, por 4 Remake não querer arriscar demais (lembrando que o último remake fora do terceiro jogo) se assemelha muito com do Dead Space Remake, outro jogo analisado aqui, e que possui esse pequeno porém, o de não querer radicalizar e fica menos uma reimaginação. Por sorte, o jogo da Capcom, assim como Dead Space, invariavelmente é um jogo excelente e consegue ser viciante, mesmo estando dentro da temática que está.
Muitas pequenas melhorias de jogabilidade foram implementadas, porém. Claro a mais latente será a habilidade de atirar enquanto se anda. Mas eu gostaria de elogiar como lidamos com a faca, barris e caixotes de uma forma muito mais prática. Se você jogou o original, você sabe do que eu estou falando. Leon agora pode dar bicudas em barris, sem a necessidade de sacar a faca, que antes ainda precisava entrar em modo de mira para atacar.
As facas, aliás, são itens com durabilidade, e possuem uma barra de contagem de usos, similar ao que vemos em jogos como The Last of Us. A faca principal de Leon irá quebrar com o tempo de uso e deverá ser reparada por uma quantia variável no mercador, além de outras facas encontradas no jogo, como facas de cozinha, são totalmente descartadas após serem usadas por completo.
Alguns jogos na franquia possuem algum sistema de parry, mas que sempre se sente que são instáveis ou difíceis de executar, uma decisão provavelmente intencional, para evitar o abuso da mecânica, que realmente pode salvar vidas. Como RE4 se aproxima muito mais da ação, foi sentido que realizar parry usando a faquinha (uma feature nova no remake), é algo facílimo de se fazer, com uma janela incrivelmente grande de oportunidade.
Por fim, no hall de melhorias maiores, tenho orgulho em dizer que os QTE’s foram eliminados… Ou quase. Em certas partes você ainda vai depender de pequenos parries artificiais ou coisa do tipo, porém não serão nem de perto as seções de botões pressionados repetidamente como exigência desses eventos… Exceto quando um ganado te agarra e te prende para que outro venha e crave um facão no seu peito. Mas neste caso trata-se de algo mais funcional e que casa com o tipo de situação.
Leon continua sendo aquele personagem que mais parece estar ciente do impossível se tornando possível ao seu redor, e com isso, não levar tudo 100% a sério, caracterizando o que Resident Evil nunca escondeu mas muitas pessoas insistem em negar: estas obras contém horror mas estão fortemente focadas na ação, e junto deste pacote vem personagens falastrões e/ou personagens que por pior que seja a situação, parecem não reagir da forma natural que agiriam na vida real. É por esse motivo e outros que Resident Evil 2 Remake continua sendo um dos melhores remakes da história e o melhor remake da franquia até então.
Todavia, ainda estamos tratando aqui de um jogo que está tranquilamente num patamar muito acima nos jogos do gênero e talvez toda a reunião dessas coisas boas e coisas estranhas sejam essenciais parao DNA da franquia.
Uma nota de rodapé é merecida para aqueles que ainda não fizeram o salto para a geração mais atual. O PlayStation 4 recebeu um port do jogo, e este não deverá ser subestimado. Em meu teste, esta versão roda em framerate superior a 30, e tirando alguns detalhes técnicos ajustados para o console, como corpos que não permanecem no chão, certas texturas do cenário que podem demorar mais a exibirem suas melhores versões, inimigos que possuem framerate reduzido para menos de 15 fps quando estão numa distância muito grande, etc. Mas acredite: o DNA e a intenção dos novos desenvolvedores foi totalmente mantidos.
Na versão Xbox Series X, foi apontado pelo Digital Foundry como sendo a versão com melhor gráficos e performance nos consoles. Dos gráficos, eu realmente só poderia dizer se colocássemos lado-a-lado com a versão PlayStation 5. Agora, o que pode ser complicado na versão do console Microsoft é o sistema de mira, que parece escapulir do ajuste fino com facilidade demais, e isso foi apontado por inúmeras pessoas. Talvez quem não jogou outra versão, não tenha parâmetros e ache que estar errando os tiros numa taxa um pouco acima do aceitável é normal, mas não sinto que foi o caso.
Até a presente data não foi lançado um patch, mas sigo no aguardo, pois este é o tipo de jogo que tenho vontade de explorar cada metro quadrado, ainda mais que temos uma séries de missões secundárias valendo prêmios ingame. São missões geralmente que consistem em achar objetos no cenário e destruí-los, mas ainda nos controles no Xbox, a minha solução foi ligar algumas ajudar de mira nas opções, deixando o jogo muito mais agradável de se controlar, mas não menos intimidador (uma das melhores características de um jogo survival horror).
Mesmo não tendo jogado o jogo original desde sua época de lançamento, boa parte do jogo para mim passou a ser sobre relembrar o que eu achava que tinha esquecido, e ao rejogar esse mesmo original ao mesmo tempo do remake, constatei que dos três remakes anteriores mais o quarto, realmente este é o título que menos arrisca caminhos diferentes.