Silent Hill sempre teve um espaço especial em minha história nos mundos dos jogos. A franquia foi uma das primeiras experiências que tive com o survival horror. Sinceramente, nunca consegui escolher um jogo favorito entre eles, pois todos me causavam medo e pânico.

Recentemente, antes mesmo do remake de Silent Hill 2 ser anunciado, decidi revisitar alguns jogos da franquia, enfrentando os mistérios da cidade com uma coragem que eu nem sabia que tinha. Quando o remake foi revelado, confesso que fiquei receoso. Estamos vivendo uma era saturada de remakes e remasterizações, e nem sempre o resultado é positivo.

Felizmente, fui surpreendido de forma muito positiva. Desenvolvido pela Bloober Team SA e distribuído pela KONAMI, o remake trouxe uma nova camada de vida a uma obra que já era incrível. A Bloober, conhecida por títulos como Blair Witch e The Medium, conseguiu criar algo tão perturbador quanto impressionante.

AVISO DE SPOILER!

Explicar a história de Silent Hill 2 sempre foi um desafio para mim, e o remake mantém essa complexidade. Senti que as “brechas” do original foram preenchidas, o que tirou um pouco daquela sensação de múltiplas interpretações e teorias, mas ainda assim a narrativa continua uma obra-prima.

Acompanhamos James Sunderland, que recebe uma carta de sua falecida esposa Mary, pedindo para encontrá-la novamente em Silent Hill. Ao chegar à cidade, somos jogados em outra dimensão, tão macabra quanto fascinante.

Uma das mudanças que me chamou atenção está logo no início do jogo. No original, havia um amontoado de tecido nos bancos de trás do carro de James, e muitos teorizavam que poderia ser o corpo de Mary. O remake confirma essa teoria, o que foi um detalhe que me agradou bastante.

Os múltiplos finais continuam presentes, incluindo dois inéditos. Meu favorito ainda é o final do cachorro, onde tudo é revelado como uma manipulação canina — infelizmente, não canônico. Outro novo final memorável mostra James sendo abduzido por alienígenas, onde ele encontra o James do jogo original, numa espécie de crossover intrigante e bem-humorado.

Assim como no original, o remake está repleto de mensagens subliminares e significados escondidos. Inimigos, cenários e itens possuem simbolismos que revelam mais sobre o estado mental de James. Personagens como Mary, Eddie, Laura e Angela ganharam ainda mais profundidade com as melhorias visuais e narrativas.

Um combate mais moderno

O combate em Silent Hill 2 Remake lembra os jogos mais recentes da franquia Resident Evil, com perspectiva em terceira pessoa e mecânicas fluídas. Isso, longe de ser um problema, funciona muito bem. Temos armas como pistola, espingarda e até um “fuzil de precisão” para combates à distância, além das clássicas armas corpo a corpo, como o pedaço de madeira com pregos e o cano. Particularmente, usei tanto o pedaço de madeira no início que parecia meu fiel companheiro até trocá-lo pelo cano, o que eu senti que perdi meu melhor amigo, e uma parte de segurança minha para continuar no jogo.

O terror de Silent Hill

A ambientação do remake é simplesmente fenomenal. A atmosfera densa e opressiva me fez hesitar em abrir portas ou explorar certos locais, com medo do que estaria à espera. Os inimigos trazem um desconforto psicológico que reflete muito bem a essência de James.

Os puzzles são outro destaque. Alguns, como o enigma do relógio nos apartamentos, exigem atenção aos detalhes para serem resolvidos, tornando a experiência ainda mais gratificante, o que o jogo te induz de resolver, a resposta sempre esteve no jogo, em todos os cantos. Também há a opção de ajustar a dificuldade dos quebra-cabeças, mas preferi me desafiar no nível mais alto, o que aumentou minha imersão.

Beleza sombria

Graficamente, Silent Hill 2 Remake é espetacular. Desde os detalhes na cidade e nos personagens até as nuances do Ray Tracing, tudo foi cuidadosamente trabalhado. Até mesmo a sujeira que James acumula ao longo do jogo é perceptível, até de baixo de sua unha tinha sujeira.

A trilha sonora, assinada novamente por Akira Yamaoka, continua maravilhosa. No entanto, percebi que em muitos momentos o jogo optou pelo silêncio, criando uma sensação de vazio. Os ruídos do ambiente e os sons altos repentinos amplificaram o terror e me deixaram em pânico mais de uma vez.

Desempenho

O desempenho de Silent Hill 2 Remake é um ponto problemático no momento, algo que só pode ser resolvido com patches futuros. No momento da escrita desta review, o jogo apresenta quedas de FPS frequentes em diversos momentos, algo que observei em várias máquinas durante os testes.

Para finalizar a campanha e explorar todas as possibilidades que o jogo oferece, utilizei um sistema com Ryzen 5 3600, RTX 4060 e 16 GB de RAM. A experiência foi fluida, com uma média de 73 FPS em configurações no máximo, incluindo Ray Tracing ativado e o Frame Generation da NVIDIA habilitado. Apesar de alguns problemas, o desempenho nesse sistema foi, em geral, suave e incrível.

Entretanto, ao testar o jogo em outros PCs, os problemas se tornaram evidentes. Em um sistema com Intel i5 de 10ª geração, RTX 3060 e 16 GB de RAM, o jogo sequer abriu corretamente, apresentando crashes no menu inicial. Imaginei ser um problema isolado, então testei em outro PC com uma RTX 3060, mas com componentes completamente diferentes, e enfrentei os mesmos travamentos constantes. O jogo simplesmente não era jogável nessas máquinas, impossibilitando sequer o início da campanha.

Enfrentando o Terror

Silent Hill 2 Remake não é apenas um resgate visual ou uma mera nostalgia. É uma experiência sensorial que nos arrasta para dentro de um pesadelo onde cada passo ecoa com o peso de nossas próprias escolhas e arrependimentos. Ao reviver a história de James, não somos apenas espectadores; somos parte do cenário distorcido que reflete os dilemas internos do protagonista. Não há respostas fáceis, nem escape verdadeiro — apenas o confronto constante com o que se esconde nas sombras, tanto externas quanto dentro de nós mesmos.

Este remake pode ter seus problemas, mas ele transcende a simples categoria de jogo, deixando uma marca indelével, um lugar no qual você não estará apenas pensando nas criaturas ou na cidade amaldiçoada, mas no que tudo isso significa para sua própria jornada pessoal. Silent Hill 2, em sua forma renovada, se confirma como uma obra-prima atemporal — e mais do que um simples remake, é um espelho sombrio de tudo o que tememos enfrentar.

Para finalizar, meus sinceros agradecimentos para Nuuvem por fornecer a Key para esta review.

Nota
Geral
10
silent-hill-2-remakeSilent Hill 2 Remake é uma reinterpretação que, apesar dos desafios técnicos, mantém intacta a essência do original e intensifica a experiência emocional. Com uma narrativa profunda, um clima insustentável e personagens complexos, ele se destaca como uma jornada psicológica que nos deixa refletindo muito depois dos créditos.