Eu tenho fascínio por jogos de corrida antigos.
A maior realização desses antigos aglomerados de códigos a fim de emular veículos em alta velocidade é de apresentar uma ambientação que não pode ser encontrada na vida real. Enquanto os jogos atuais buscam retratar a realidade, sinto falta de espaços etéreos, onde vivem os reinos mágicos de Super Mario quando ainda eram em 2D, ou mesmos as pistas listradas de Top Gear.
Apenas nesses locais vamos construir mentalmente o nosso cantinho confortável e esses lugares são ótimos para passar um tempo ou até se esconder da vida real por vários momentos.
E então chegamos ao Slipstream
Slipstream é a combinação de vários jogos de corrida dos 16-bit dos anos 90. O Brasil exportou um grande jogo com o Horizon Chase. Ele puxava mais de Top Gear do que outros exemplos como inspiração. Já em Slipstream é sentido que está muito mais puxando de Outrun do que de qualquer outro jogo, embora haja sim, uma pitada de Top Gear ou outras coisas inseridas na obra do desenvolvedor brasileiro Ansdor.
Talvez uma das maiores cartadas de Slipstream seja de que temos à nossa disposição um belo leque de modos diferentes, algo que acontecia de forma diferente com jogos antigos. Geralmente nos games retrô, a visão era mais reta e desviava pouco de “1 player/2 players”. Aqui, por ser um jogo de natureza mais simplista, o desenvolvedor explora as várias formas de se brincar com um jogo de corrida e seus modos. Confesso que não me importaria um sistema de apostas, tal como o game Lamborghini American Challenge trazia no SNES, ou o 80’s Overdrive, que é outro jogo mais recente que homenageia jogos anteriores.
Na parte gráfica, o game lembra mais jogos de segundo tier no arcade. Enquanto é possível mergulhar em nostalgia quando olhamos a progressão colorida do cenário, é possível constatar que nem todas as coisas conversam com outras coisas de forma harmoniosa na parte da arte.
Por exemplo, em 80’s Overdrive, existe um acordo na paleta de cores e todas as escolhas das cores trazem de certa forma um pouco das outras, além de um filtro individual amarelado para cada sprite. Isso mascara o resultado final e deixa a apresentação geral mais uniforme. É possível notar algum acordo mais sutil em Slipstream, porém não irá ocorrer em todos os cenários, que são dezenas e dezenas, felizmente.
O modo Grand Tour, aparece no topo do menu, sendo oferecido como a atração principal de Slipstream. Ele consiste em correr contra o relógio, passando por checkpoints e cidades e áreas das mais diversas, podendo escolher o seu caminho em bifurcações entre uma zona e outra. E parece até que eu descrevi Outrun aqui, mas é exatamente o que esse modo representa.
A inserção de rivais em seus carros, somados aos porta-retratos no topo da tela, dá um tom de carisma, não deixando que o jogo seja feito naquela sensação de mundo sem personagens – apenas veículos. Porém, esse modo é limitado, o tanto quando Outrun é limitado para os dias de hoje. O que você quer então é vencer os seus rivais para começar uma nova partida pegando caminhos diferentes, e nada mais.
É aí que chega outro modo no menu. O modo Grand Prix é mais clássico, onde as mesmas pistas anteriores, agora são separadas e possuem voltas. Então sim, são corridas de circuito, porém desta vez contra vários corredores para se ultrapassar. Esse modo é o que mais poderá consumir o tempo do jogador, já que é organizado em forma de pequenos campeonatos.
A dificuldade do jogo está mascarada pela forma de controlar os carros, podendo-se deixar com drift manual ou automático, acionados pelo botão de freio, exatamente como vários jogos Mario Kart empregaram. Outra mecânica emprestada de jogos mais atuais foi a habilidade de rebobinar no tempo. Essa prática é vastamente utilizada em qualquer jogo da franquia Forza e também em vários jogos de corrida da Codemasters. Claro, não podemos abusar da mecânica aqui.
Após utilizar é preciso esperar alguns segundos para utilizar novamente. Porém, se o botão de rebobinar for pressionado acidentalmente, mesmo que por um mísero toque, vai valer como utilizado e pode acontecer de você ficar sem esse poder em alguma curva surpresa, do alto da alta velocidade e ritmo do game.
Também podemos executar uma habilidade e ela dá nome ao game: Slipstream. O ato de colar atrás de algum veículo e conseguir mais velocidade enquanto se mantém nessa posição, entre retas e curvas, se chama Slipstream.
Slipstream é algo que existe na vida real. Você se aproveita do veículo em movimento na sua frente, para receber menos vento, fazendo o seu próprio veículo ter mais força para se mover para frente. Assim, ele fica pronto para ultrapassar o veículo que acabou de usar com escudo do vento. Essa prática é muito comum entre ciclistas e corredores na Nascar Racing de Fórmula 1.
Aqui, no jogo de arcade, você poderá receber essa proteção, de uma distância nem um pouco real. O carro da frente pod estar há metros e mais metros de distância, às vezes podendo nem estar sendo visto entre curvas velozes e morros íngremes. O game Slipstream não lhe concebe nitro, como de costume nesse estilo de jogos, porém oferece essa mecânica a fim de oferecer um desafio de se manter firme atrás de um oponente a fim de ganhar esse impulso totalmente mentiroso, mas prazeroso.
Como em jogos de corrida da Midway no arcade, é possível ver um gráfico pequeno na tela, de carros que estamos perto de passar ou de carros que estão prestes a nos ultrapassar. Mas não teremos um desenho da pista. Isso significa que a gameplay será sobre memorizar algumas partes de curvas mais perigosas, ou se aventurar no susto de dar de cara com curvas mais fechadas.
Conte com o drift para estes tipos de curva, e o sistema de derrapar empregado tenta emular um pouco do que temos nos jogos 3D Ridge Racer. confesso que senti dificuldades maiores em executar com perfeição essas derrapagens, mesmo tendo dominado a técnica em jogos com cadência mais organizada, como em Mario Kart.
Alcançar os oponentes é uma tarefa que não posso chamar de difícil, exceto se você comete o erro de bater ou capotar várias vezes, essas, muito próximas umas das outras. Você acaba não dando espaço para a rubberband agir e acaba não se saindo bem na corrida.
Interessantemente, os oponentes também cometem muitos erros, parecendo algo próximo de outras pessoas jogando, o que é interessante e torna mais prazeroso jogar por se sentir que é algo mais justo. Infelizmente, não temos variações climáticas e de horário nas pistas: ela possuem um set fixo visual, e embora haja uma gama enorme de cenários diferentes, poderíamos ter esse toque especial para dobrar ou triplicar a sensação de não repetição geral do setting.
As pistas e identidade visual do jogo são explicitamente inspirados na identidade visual dos Sonic para Mega Drive, e os cenários e nomes dos locais são referências diretas a jogos da SEGA.
Se você desejar desfrutar de Slipstream com os amigos, terá de fazer isso localmente, pois o game suporta multiplayer para até 4 pessoas, desde que seja uma jogatina local. Além disso temos outros modos como o Knockout do último colocado de tempos em tempos através da corrida.
Recheando por cima disso tudo, as músicas synthwave ajudam demais a entrar no clima, embora eu desejasse que essa parte igualmente fosse fosse representada por canções em estilo 16-bit.
Conteúdo não irá faltar em Slipstream e com certeza é uma ótima opção de “snack” de retro simulador para alguma tarde em que esteja se sentindo nostálgico. Fruto de campanha em 2016, Sandro “andsor” De Paula conseguiu bater a meta e ir além, comprovando que a paixão pelas pessoas por jogos de nicho existe e é suficiente para existir no mercado.
E quando isso não é atendido pelas grandes empresas, é claro que os fãs apaixonados estarão lá para criar/consertar/reviver/melhorar tudo que for possível. A Blitworks faz esse sonho brasileiro possível e o que resta para nós é a sensação de orgulho.
Cópia do jogo gentilmente cedida pela produtora Trabalho de captura de imagens: Rafael Bastos