A saga Final Fantasy conta com diversos jogos e histórias intrigantes, o que ocorre em Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin, é a soma de alguns fatores dos jogos clássicos da saga, qualidade gráfica mediana e uma gameplay incrivelmente divertida.
O início da jornada
Com uma belíssima cinemática, somos apresentados ao grande vilão do título, o Caos, presenciamos um exército tentar, sem muito sucesso, que a presença maligna capture a princesa Sarah, sem muito esforço, a criatura conclui seu plano e extermina todos que estavam em seu caminho. É uma grande apresentação e nos deixa curiosos para saber como será uma batalha contra ele no futuro. Quando o gameplay de fato começa, somos levados para um campo de batalha onde nossos heróis travam uma batalha contra o lendário Tiamat (criatura famosa nas campanhas de D&D e no desenho para a TV), aqui, no melhor estilo God of War, estamos com bons equipamentos e a luta não demora para acabar.
A cena era apenas um vislumbre do que vai acontecer mais na frente da campanha principal, o grande dragão é derrotado, mas algo parece dar errado e o grupo é atacado por uma espécie de magia das trevas.
Retrocedemos no tempo e conhecemos Jack, que chega sem saber para onde ele deve ir, ou onde ele está, apenas com uma vontade única no peito, derrotar o Caos. É aceitável que no mundo dos games, personagens tenham personalidades que desagradem quem estiver no controle, por divergências de pensamentos sobre temas reais, por ser um vilão e que a gente seja obrigado a realizar suas maldades, mas Jack não é nada disso, o carisma dele é similar ao de uma pedra, ou uma cadeira, durante quase todo o jogo, tirando suas frases sobre matar o Caos, e seus grunhidos de cão raivoso, nada chama atenção em sua personalidade. Basicamente ele é como os personagens brucutus dos filmes dos anos 80, tudo que sabe fazer é ficar de cara fechada e dizimar os inimigos com o máximo de brutalidade possível.
Os guerreiros da luz
Assim como em Final Fantasy, originalmente lançado em 1987, a história se passa no reino de Cornelia em torno da lenda dos quatro guerreiros da luz, que irão surgir para salvar o mundo e restaurar a paz. Jack encontra Ash e Jed, que possuem cristais iguais aos dele, que ressoam ao estarem próximos, e com meia dúzia de palavras trocadas, um toque de punhos cafona, está praticamente formada a equipe de heróis, é como encontrar um amigo na rua e perguntar se ele não tem nada para fazer e se ele não quer ir salvar o mundo com você.
O rei da cidade entrega nossa primeira missão, ir ao santuário do Caos para que possam se livrar da ameaça, mas quando a luta termina, encontramos uma garota que possui um dos cristais pretos, Neon fecha o que seria os lendários guerreiros da luz.
Aqui destaco as primeiras coisas que me desagradaram no jogo, os personagens possuem falas caricatas, que aparentemente eram para guiar o jogador, mas acabam sendo irritantes. Ao aparecer um baú, quase sempre um deles vai falar “vai Jack, olha o que tem dentro” ou o próprio Jack vai dizer “ah, um tesouro?”
Mas não são todas as interações que merecem ser criticadas, outras são muitos boas pois fazem referências aos temas clássicos de filmes e jogos, quando como descobrimos uma passagem secreta e alguém grita, “achei que era apenas lenda que existiam passagens secretas em castelos”, fora isso, os personagens vão avisar tudo, se aparece um cubo (aqui são como as bonfires de Dark Souls, restauram poções, inimigos etc), se você estiver com a vida baixa e por aí vai.
Durante o game, vamos encontrar mais alguns personagens e assim moldar nossa equipe de acordo com nosso estilo e estratégia de jogo.
Um único personagem, diversas classes.
Em Stranger of Paradise, o grande destaque é seu combate extremamente viciante e fluido, me lembrou os jogos da franquia Devil May Cry, aqui temos classes principais, como guerreiro, mago e duelista, e cada uma delas gera uma subclasse, que na obra são chamados de trabalhos, para melhor informar, vou destacar a classe de mago.
Para usar os golpes não é necessário ter pontos de força, inteligência ou algo do tipo, basta equipar as armas que são espécies de sabres ou pequenos martelos, que funcionam como catalisadores de magia e desferem golpes corpo a corpo. Quanto mais usamos um trabalho equipado, vamos ganhando afinidade e pontos que servem para nutrir a árvore de habilidade correspondente, isso libera golpes novos, e quando uma linha é completada um trabalho extra é liberado. No caso do trabalho de mago são dois: Mago Negro e Mago Branco, e ainda há o Mago Vermelho, cada um focado em diferentes estilos de jogo, ataque, cura ou suporte.
Ao todo são vinte e oito trabalhos, separados em básicos, avançados e especialistas.
Os trabalhos podem ser atribuídos não só ao personagem principal, mas igualmente para os demais integrantes da sua equipe, assim podemos focar um personagem para ser um tanker, outro um guerreiro com magias sagradas, e outro focado em suporte, ou os três focados em apenas dano massivo (que foi o que eu fiz) quando a pancadaria começa, os inimigos mais fracos são aniquilados com facilidade.
Além dos trabalhos, há os combos que gastam o que seria nossa barra de especial, são golpes ativados quando apertamos uma sequência de botões, ex: R1, R1, R1 e L2. Isso desencadeia um golpe poderoso, ao usar os direcionais para o lado esquerdo ou direito, um comando é enviado para que seus companheiros usem seus golpes especiais, isso pode virar a luta ao seu favor em situações complicadas.
Old School Style!
Aqui para que tenha espaço para todos jogarem, o game conta com três níveis de dificuldade, fácil, normal e difícil e um quarto que aparece quando o game é concluído. No modo fácil é um passeio no parque, nada que vá demandar trabalho nem mesmo estratégias calculadas, já no modo normal as coisas começam ficar mais cascudas, é uma dificuldade balanceada, é extremamente necessário saber bem os comandos do jogo, usar defesa normal ou a defesa com o escudo da alma, são comandos que salvam a vida nas batalhas contra os chefes.
Aqui os inimigos são agressivos, e dependendo do nível de dificuldade, dois ou 3 golpes dão cabo da sua vida, então é sempre bom entender como que a mecânica funciona, para não precisar perder tempo em situações que podem facilmente serem contornadas. Cada inimigo tem seu padrão de ataque e é simples decorar, mas o problema está na combinação das hordas que lhe atacam, as vezes chega ser desonesto, um grupo com quatro slimes, um Mind flayer e um Beholder é um desafio e tanto.
É importante lembrar que seu personagem não sobre de nível, são nossos equipamentos que ficam mais fortes, então tenha em mente sempre usar armas e armaduras que correspondem ao level da fase.
Como se fosse um jogo das antigas, vamos percorrer longas fases, derrotando inimigos e coletando itens para no fim enfrentarmos o grande chefe do cenário, e são muitos chefes, cada um mais desafiador que o outro, vamos encontrar inimigos clássicos como o já mencionado Tiamat, além de Lich e Behemoth, o jogo conta com atalhos que facilitam a chegada até pontos distantes, mas é no todo bastante linear.
Se você já é acostumado com jogos no estilo Nioh ou Devil May Cry em dificuldades maiores, recomendo ir de cara no normal para ter uma boa e gratificante experiência de jogo.
Terra, fogo, ar, água… VAI PLANETA!
A grande missão do jogo é reativar os quatro cristais principais, cada um corresponde a um elemento diferente que vai restaurar o equilíbrio do planeta, são as fases mais divertidas e as mais desafiadoras, aqui vamos enfrentar chefes icônicos, inclusive os que já foram apresentados no primeiro título da franquia.
Conforme vamos prosseguindo, sentimos falta de ter uma variedade de inimigos, são poucos e quando mudam é apenas a cor, o tamanho ou o nome, para que seja justificado sua maior resistência e isso em um jogo longo (de acordo com sua disponibilidade para jogar) desanima e tira o fator surpresa, após 4 horas de campanha, já sabemos o padrão de todos os inimigos e que eles vão apenas aumentar o dano em nossos personagens, por sorte isso é suprido nas batalhas contra os desafios finais das fases, destaques para o chefe que defendo o cristal do fogo e os dois irmãos de água e fogo, são um show de efeitos, com golpes bem animados, gerando batalhas difíceis e memoráveis.
Como a história não possui uma narrativa tão atrativa e para ajudar o jogo não possui legendas em português, é complicado focar em descobrir os segredos da trama, se não tiver um entendimento mínimo do idioma (que é essencial, mas não obrigatório) o que resta é dominar os golpes e trucidar as ameaças.
Como uma vitamina que é boa, mas poderia ser melhor.
Stranger of Paradise me pareceu a tentativa de juntar diversas fórmulas de jogos atuais como Nioh, Sekiro e Dark Souls, e entregar o melhor de cada um, mas esqueceram de refinar cada inspiração, o que gera um jogo que foca demais em determinados pontos, mas outros parecem estar ali apenas para ocupar espaço. O sistema de equilíbrio semelhante ao de Sekiro funciona bem e o combate inspirado em Nioh é extremamente bem aplicado, mas deixa os buffs especiais e os estado fúria um pouco de lado. Até mesmo os trabalhos que são muitos, estão ali para fins de replay ou eventuais conquistas e troféus, já que são demorados e longe de serem essenciais para o término do jogo.
O que mais me impressionou, foi depois de mais de 10 horas de jogo, nos momentos finais, a trama crescer em níveis de narrativa e entregar um final que sozinho é melhor que o jogo inteiro, parece que outra pessoa escreveu as últimas fases, a conexão com as pontas soltas é finalmente explicada e o protagonista cresce, narrativamente falando, e podemos nos conectar de alguma forma com ele.
Jack pode surpreender você no fim do jogo, por isso não desista dele nos primeiros grunhidos e nas 99 falas sobre o caos.
*Essa análise foi feita utilizando uma cópia do jogo
disponibilizada pela Square Enix, agradecemos por confiar em nossa equipe*