Quando pensamos nos dois primeiros títulos da saga Dead Space, lembramos que foram jogos completos quando o assunto é Survivor Horror, isso porque os desenvolvedores souberam como criar um clima de terror tenso, que nos fazia temer cada inimigo, por menor que ele parecesse, além de mesclar ação e cenas macabras com maestria.
Claro que houve deslizes, o terceiro jogo da franquia é um completo erro, e quando falamos de deslizes, eles podem ser classificados em diferentes tipos, temos os clichês que podem até dar certo, a falta de atmosfera e tensão, entre outras.
The Callisto Protocol abraça uma fórmula clássica de criar uma narrativa simples, que atinge seu objetivo, mas é insuficiente quando é necessário o engrandecimento da obra.
Bem-vindos à prisão do Ferro Negro
Ao iniciarmos o game, temos de cara um espanto por sua qualidade gráfica, mesmo que ainda não tenha batido jogos da geração anterior, a obra é bela e impressiona, controlamos Jacob Lee, que está realizando mais um trabalho com seu companheiro, no rádio informações complementam a cena inicial e é fácil nos localizarmos na trama, mesmo que no começo haja diversos mistérios.
Como nem tudo na vida é simples, por obra do acaso, Jacob vai entrar em uma espiral de problemas que o levará para uma prisão localizada em Calisto (segunda maior lua do planeta Jupiter), onde uma prisão fora construída.
Um local de segurança máxima, onde não demora para percebermos que o que acontece ali não é simplesmente um sistema carcerário comum, enquanto observamos a instalação, Jacob se vê perdido e sem saber o que fazer, antes de iniciarmos de fato o game e partirmos para a jornada, toda narrativa faz questão de nos lembrar que o game será em sua totalidade, extremamente violento, mesmo com os avisos e trailers, as vezes o jogador pode achar que possam existir momentos que a violência será subjetiva, que apenas insinue o que está acontecendo.
O que de fato não estará aqui, mas deixemos para falar disso depois, porém fica o aviso. O local passa por um pequeno problema e aqui temos o início da jornada para tentar sobreviver em Ferro Negro, Jacob terá que unir forças com outros sobreviventes, o primeiro que aparece é Elias, um simpático prisioneiro que quer apenas sobreviver, ambos estarão juntos durante a aventura terrível que nos aguarda.
Falar sobre The Callisto Protocol sem citar Dead Space por muitas vezes, é quase impossível, o jogo é praticamente um sucessor espiritual, ele está para Dead Space, o que Dark Souls está para Demon’s Souls, isso é claro com um salto gigante de tecnologia.
A estética do ambiente, o level design, os monstros e até mesmo a forma de executá-los é bem parecida, e isso não é ruim de maneira nenhuma, como um grande fã da saga de Isaac Clarke, estava com saudades desse estilo de jogo, onde o menor dos seres pode causar uma morte horrível e a tensão só vai aumentando.
Mas ter como base um jogo tão famoso e que marcou seu nome na indústria é perigoso, pois existem apenas dois caminhos, aceitar que ele será apenas uma lembrança distante e nostálgica, ou seguir por um lado mais igual do que gostaria.
Se em Dead Space Issac não possuía um combate corpo-a-corpo polido, servindo apenas para finalizações na maioria das vezes, em Callisto isso foi aprimorado e dominar essa nova mecânica será essencial para não sair frustrado e correr o risco de desistir do jogo.
Adotando uma das melhores ideias dos últimos anos, o game não possui nenhuma informação que “polua” a tela, tudo que precisamos saber para controlar nosso jogo está ou no jogador, ou nas armas que ele carrega, barra de saúde, o nível da GAR e munição, e isso cria uma imersão absurda para não ter que ficar abrindo o menu de itens para saber se é preciso recarregar uma arma, além de criar quase uma forma de esquecermos que aquilo é um jogo, nos prende e nos conecta com toda a situação.
Se proposital ou não, a câmera é colada no personagem, e quando entramos em combate existem três opções, esquivar para a direita, esquerda ou bloquear, esse sistema não possui janelas de reação, o que significa que não precisamos apertar na direção correta para evitarmos o dano, basta segurar a manete para um dos lados, mas caso seja posto para o mesmo lado duas vezes seguidas, a sequência dará errado.
Essa forma de encarar os inimigos próximos seria muito boa, ela até que é divertida quando enfrentamos apenas um monstro, mas quando existem dois a coisa complica e se um terceiro se juntar, será necessária uma habilidade a mais para sair vivo.
Porque quando o personagem detecta que está em batalha, automaticamente ele trava sua visão no alvo, para que assim o boneco possa responder aos comandos de evasiva, e se um outro estiver nos cercando, e um ataque for direcionado enquanto estamos tentando achar uma posição melhor, Jacob irá fazer o comando de defesa e não de andar.
Isso pode acabar com uma estratégia e resultar em game over, dependendo da dificuldade que estiver, principalmente no começo do jogo, quando temos apenas uma arma para combate melee, depois de conseguir armas de longo alcance a situação ficará mais fácil.
E para completar, as vezes o inimigo ficará imune aos ataques, caso queira lançar uma pressão para aniquilar mais rápido o inimigo, um ataque forte e devastador passa no vazio, sem qualquer tipo de impacto ao monstro e abre uma janela para que nós sejamos atacados.
Mas uma vez dominado, o combate se torna muito efetivo, combinar ataques corporais com disparos é tão eficiente, que até mesmo um sistema de acerto crítico aparece mais para frente.
Uma obra que carece de ameaças
Por se tratar de um jogo de terror e de sobrevivência, assim como o já citado Dead Space, é normal lembrar de clássicos como Alone in The Dark, Resident Evil ou Silent Hill, e o que boa parte dos títulos dessas franquias nos davam eram monstros memoráveis, seres assustadores para temermos sempre.
E em The Callisto Protocol, a diversidade de monstros é quase inexistente, teremos os inimigos mais comuns, clássicos cuspidores de ácidos e mais dois tipos que evito falar para não estragar a experiência de quem ainda não jogou e esteja lendo o texto.
E para uma jornada curta como essa, o melhor é colocar o máximo de coisas para nos tirar da repetição que uma hora ou outra entra nessa mídia, mas existem repetições e repetições, combinações de inimigos e estar nos mesmos ambientes com ameaças diferentes, nos obriga a criar estratégias, além de sermos pegos desprevenidos.
O jogo conta com um total de apenas dois chefes durante toda a campanha, e até mesmo um deles cai na falta de criatividade, o outro entra só para completar o clichê abraçado desde o começo.
Após algumas horas, o jogo vira apenas um fábrica de sustos (bons sustos até) e muitos passos dados do ponto A ao ponto B, e claro que isso uma hora vai cansar, o que é um feito negativo, uma obra curta que ainda assim tem a capacidade de causar tédio no jogador.
Por outro lado, a atmosfera e a ambientação do jogo é muito bem-feita e nos prende para seguir em frente e saber mais do que ocorreu para que a situação chegasse naquele ponto, os locais que apresentam destruição e sinais que servem de dicas para o jogador, sombras que tomam salas e que compõem o clima de terror, sons vindos da tubulação de ar, passos que nos fazem ficar atentos, quando não dão em nada, como se quisessem nos lembrar do perigo iminente.
A mixagem de som é muito bem trabalhada, jogar de fone reserva um frio na espinha a mais, quando juntamos tudo isso com o frenético combate, fica prazeroso superar cada uma das hordas que aparecem.
Violência gratuita
Não lembro qual foi o último jogo que me fez sentir vontade de virar o rosto, para não acompanhar a barbaridade que seguia em tela, é uma vontade de mostrar o absurdo, que as vezes parece que vão largar o freio e passar dos limites, mas impressiona pelo tom visceral e realista das mortes, mas coisas bem piores são vistas na franquia Mortal Kombat, então ok, mas é válido lembrar que isso não significa que o jogo pode ser apreciado por quem não é acostumado com tamanha brutalidade.
E quem for sensível, passe longe, pois como já citado, trata-se de uma obra realista e as cenas impressionam mesmo, como quando somos pegos por engrenagens de uma máquina e o desespero e esforço do protagonista não resulta em absolutamente nada.
E isso se repete por várias vezes, pois mesmo nas dificuldades mais baixas, o nível de dificuldade não vai significar muita coisa em certas partes, pois o jogo não alivia, lança tudo que tem no jogador e a gente que se vire.
The Callisto Protocol possui momentos tensos, uma história minimamente interessante, mas peca ao não ter uma alma, é a melhoria de um jogo que já existe em alguns aspectos, e a piora em outros, não possui personagens cativantes e em muitos pontos ele será cafona sem vergonha de assumir isso.
Fica claro que a intenção em fazer um excelente jogo de terror existiu, mas cai na mesmice e entrega um resultado bem abaixo do que era aguardado, por mais que ele tente, falta fôlego para continuar.
Essa análise foi feita com base em uma cópia cedida pela Krafton, agradecemos por confiar em nossa equipe.