Em junho de 2013 chegava ao PlayStation 3 o que se tornaria uma das mais aclamadas sagas dos videogames, Joel e Ellie conquistaram o público com uma velocidade absurda, a jornada repleta de momentos épicos e emocionantes deixou uma forte marca na indústria de jogos.

A obra recebeu diversos prêmios, além de servir como fonte de inspiração para inúmeras outras histórias, chegou ser considerado como o jogo da última década por diversos sites especializados.

Uma narrativa única, capaz de trazer para além das telas questionamentos profundos sobre a natureza humana.

Foto: Reprodução/Ricardo Gomes

Nove anos depois, a saga volta em uma nova versão recheada não só da atual tecnologia, mas de todo carinho e cuidado em mostrar para novos jogadores uma das mais belas histórias entre pai e filha.

26 de setembro de 2013, madrugada

Ao iniciar novamente a jornada rumo ao desastre que acabou com a humanidade, de cara percebo que teremos algo ainda mais bonito do que fora lançado originalmente, quando o game apareceu era um milagre ver algo rodar em um console que até hoje recebe críticas no que diz respeito sua arquitetura, The Last of Us fechou a era do terceiro console de mesa da Sony, muitos diziam que ele extraiu todo o potencial da máquina.

O pacífico início traz o trabalho da Naughty Dog para que fique claro que teremos uma jornada melhor, os modelos de rostos refeitos são impressionantes, as cores deixam a antiga saturação exagerada de lado, dando espaço para cores menos agressivas, mas não menos bonitas aos olhos.

Enquanto avançamos com Sarah, é possível notar que o que foi dito pela empresa (pelo menos referente aos cenários) é real, se você tiver uma boa memória, e lembrar bem dos lugares que o jogo apresenta, fica impossível não perceber as diferenças.

Foto: Reprodução/Ricardo Gomes

As sombras que se espalham por fora da casa e o tom de terror que surge ainda é único e muito bem aprimorado em gráficos mais realistas.

Das paredes, ao chão, tudo foi refeito para que pareça atual, o que leva ao questionamento crucial referente essa versão, mas vamos com calma.

Enquanto o fim dos tempos se aproxima, as expressões que surgem nos rostos dos protagonistas ficam responsáveis por deixar o jogador envolvido ao máximo, quando a parte II foi lançada um dos pontos mais elogiados foram as inacreditáveis expressões faciais, o que é indispensável para o universo de The Last of Us; raiva, tristeza, frustração e felicidade, irão marcar ainda mais os principais eventos do jogo.

Seguimos com Joel e Tommy para a fuga da cidade, e enfim chegamos até uma das mais marcantes cenas da história, aqui o que citei anteriormente pode ser observado de maneira sublime, ainda que seja de forma dolorosa, é incrível como puderam deixar ainda mais emocionante o evento que marca o prólogo.

Algo que não iremos acompanhar aqui, justamente pela repaginada, é a mudança brusca entre gameplay e cinemática, tudo compartilha de um belíssimo visual, aumentando assim a experiência do jogador.

Seguimos para o tempo atual em que se passa a narrativa, teremos as primeiras “surpresas” do jogo, modelos de rostos novos, cenários realistas e em muitos pontos, com grandes diferenças ao jogo original.

Por exemplo, o visual da Tess serviu para dar mais significado ao que ela sente em certas cenas, ficou ainda mais parecido com um filme em forma de jogo, ou seria o contrário?

As mudanças não se limitam apenas aos personagens principais, os figurantes foram inteiramente refeitos, afinal de contas seria de péssima escolha manter o visual inacabado de antes, desde um simples civil que não possui interação, até os inimigos que enfrentamos pelo caminho.

Quando saímos para além dos muros é gratificante ver que um dos principais personagens de The Last of Us foi tratado com respeito, o mundo pós-pandêmico, e digo com segurança de que sim, ele é um personagem, pois através dele toda uma história é apresentada e eventos passados acertam o mais casual dos jogadores.

A Naughty Dog sabe o que faz quando o assunto é ambientação, se a obra se passa em um mundo devastado, onde humanos não realizam suas atividades mais simples há anos, cada canto deve indicar isso.

E aqui é exatamente assim, a vegetação está mais presente e viva, há maiores indícios da passagem do tempo e da decadência que aos poucos corroí construções por onde passamos.

Não pode ser em vão…

Algo que me incomodava bastante no primeiro jogo era sua jogabilidade, não em todos os pontos, mas referente ao combate direto contra os inimigos, Joel travava os golpes e ao mudar a direção para onde queríamos correr, parecia estar preso em uma gravidade não condizente com a da Terra, era frustrante.

Por sorte isso foi organizado no remake, agora há fluidez, não tanto quanto a Ellie na parte II, mas já infinitas vezes melhor do que a versão de 2013.

Foto: Reprodução/Ricardo Gomes

O combate corpo a corpo recebeu um bom reparo, ao revisitar o jogo original, confirmei que os golpes não possuíam o peso suficiente para nos passar a sensação necessária de um confronto, os socos me pareciam tão rápidos quanto o de um pugilista.

Ao que parece, os desenvolvedores lembraram que na maior parte do tempo estamos no controle de um homem sobrevivente em um mundo apocalíptico, não um atleta, agora os socos de Joel possuem peso e impacto, o intervalo entre um golpe e outro dão mais realismos nas lutas.

A furtividade não mudou muita coisa, exceto por lapidarem certas animações, por exemplo, antes, se um inimigo estava fora do alcance do personagem, era comum que quando executássemos o comando de agarrar, ele deslizasse alguns centímetros, resolveram isso fazendo Joel realizar um movimento de puxar com força bruta o alvo.

Os inimigos estão mais agressivos e a inteligência artificial sofreu reajuste, ela ainda esquece com facilidade ridícula de nós, caso seja despistada, mas as duplas de caçadores se comunicam melhor e caso o jogador passe tempo o suficiente à mostra para uma desconfiança, eles se movem rapidamente para o local.

Isso gera uma certa tensão nos principais confrontos do jogo, além de vasculharem melhor, realizam avanços em dupla com o intuito de nos encurralar, sempre se comunicam caso algo fuja do normal, indicando nossa posição ou chamando o companheiro se ele deixa de responder.

Há animações novas para eliminações, por exemplo a surpresa dos humanos ao levarem uma flecha no peito, além da rendição que estreou na parte II.

No caso dos infectados, pouca coisa mudou, os corredores ainda são suicidas, porém mortais em bando, os estaladores acabam com a jornada em segundos e os baiacus aparentam que nunca irão morrer.

Mas isso não significa que mudanças são inexistentes paras as vítimas do cordyceps, em momentos chave o estúdio tratou em não deixar exatamente igual, mas deixo para que tenham uma pequena surpresa.

A violência gráfica em detalhes está presente nessa nova versão, desmembramentos e litros de sangue para cada combate, por sorte, para quem sente desconforto com esse tipo de conteúdo, é possível diminuir consideravelmente esse fator no menu de opções.

Na maioria dos combates iremos utilizar da furtividade e quando realizamos a finalização de Joel o nível de detalhes é insano, o enquadramento dificilmente se perde em ambientes fechados, a câmera se move de acordo com os espasmos do alvo, dando um tom mais cinematográfico.

Foto: Reprodução/Ricardo Gomes

O olhar enlouquecido dos infectados ou o desespero dos humanos que logo desfalecem é o tipo de coisa que gera desconforto, realismo e peso para a narrativa.

Existem dois pontos que gostaria de destacar sobre essa versão, a iluminação e os sons do jogo, dentro das construções, por entre as frestas de janelas ou buracos nas paredes, os feixes de luz dão um charme ao game, um primor gráfico excelente para que o mundo nos pareça o mais crível possível.

A luz das chamas quando existentes no cenário também impressionam, o reflexo nos personagens e em superfícies espelhadas, tudo nitidamente bem trabalhado.

Sonoplastia, outro exemplo perfeito de como deixar a aventura ainda mais interessante, quando há chuva é perceptível o barulho que as gotas fazem em diferentes materiais.

Sem falar no barulho perturbador que os estaladores fazem, quando um ambiente está lotado deles, uma cacofonia absurda preenche o ar e mesmo quando saímos de lá, o eco trata de levar o som até uma boa distância.

Além do estrondo que os trovões fazem, a sensação é que estamos de fato sob uma tempestade violenta, os personagens nitidamente encharcados até os ossos, detalhes simples, mas que fazem toda diferença.

Ir aos limites do universo e voltar…

E para que não ficasse o mesmo jogo, apenas com gráficos melhores, alguns detalhes foram adicionados como os já citados anteriormente, há também atualizações de armas e ferramentas que eram muito simples na versão original, agora trazem a elegância que faltava.

Joel tem um arsenal razoável para enfrentar as ameaças do mundo de The Last of Us, no jogo de 2013 era possível realizar melhorias nas armas, e para que as mais avançadas fossem desbloqueadas, níveis diferentes de ferramentas eram necessários.

Pois bem, no remake obviamente isso não foi retirado, porém, agora existe um capricho necessário para aqueles que gostam de observar coisas a mais nos jogos.

Foto: Reprodução/Ricardo Gomes

Joel ao encontrar uma caixa de ferramentas, diferente da antiga versão, agora ele literalmente vai encontrar um objeto específico, como um alicate, lixa, chave de fenda etc.

E nas já conhecidas bancadas de trabalho, assim como na parte II, poderemos realizar as melhorias para cada equipamento, mas não com uma simples animação do velho Joel mexendo em sua mochila.

Se o foco é em capacidade de balas, uma animação única mostra ele usar as ferramentas obtidas para expandir o cartucho, ou removendo o gatilho e trocando por outro, assim como novos canos para a espingarda ou escopeta, corda e miras diferentes para o arco.

As armas se modificam e terminam com uma aparência diferente, outro detalhe é a gambiarra de costurar uma tira de couro na mochila, para poder prender e sacar armas de médio porte com maior facilidade.

E ainda falando sobre os detalhes em jogo, a física melhorou muito em relação ao ambiente, principalmente no quesito destruição, durante um tiroteio, se estamos escondidos atrás de um carro, as janelas explodem em estilhaços, tijolos ou garrafas voam com o impacto dos tiros, se o cenário for uma biblioteca por exemplo, livros são arremessados, buracos de balas aparecem nas superfícies etc.

O que foi deixado para trás

A grande questão que foi levantada durante o anúncio de The Last of Us part I: precisava?

Afinal de contas o jogo envelheceu muito bem, e poucas coisas são de fato datadas, a repaginada que os modelos faciais tiveram e os gráficos de última geração são lindos, entre os detalhes que podemos observar já citados no texto.

Mas não ter implementado o combate da parte II é sem dúvidas o maior e (em minha concepção) único erro que a Naughty Dog teve, seria a cereja apocalíptica do bolo ter Joel com um botão de esquiva, animações novas em que ele rouba as armas dos caçadores, rastejar e tudo mais realizado por Ellie ou Abby.

Não acrescentar novas cenas na campanha principal ou na expansão Left Behind também fez falta, nem que tivesse o mesmo propósito, vistas em novos ângulos, como em Resident Evil 2 lançado em 2019, mas essa questão não é tão grave, pois a narrativa do jogo é excelente.

The Last of Us continua incrível, a jornada é absurdamente mais bela no PlayStation 5, se por algum motivo nunca a experimentou, será uma oportunidade e tanto ver o começo da aventura de Joel e Ellie, mas se você jogou a versão original ou a remasterizada, talvez possa esperar um pouco.

Esta análise foi feita com base em uma cópia do jogo cedida pela Sony, agradecemos por mais uma vez confiar em nossa equipe.


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Nota
Geral
9.0
the-last-of-us-part-iUma obra que sobreviveu ao tempo, refeita para encantar mais uma vez os antigos fãs e quem sabe conquistar mais jogadores, a Naughty Dog trata suas obras com respeito e sabe contar histórias como ninguém, apesar de faltar algo, o saldo final segue positivo.