Uma faceta inexplorada da Máfia japonesa
Chegou o momento de todos aqueles que olhavam com preguiça para os muitos jogos numerados e spinoffs da série Yakuza, darem finalmente uma merecida chance para a franquia. Em Yakuza: Like a Dragon, os novos jogadores podem entrar de cabeça que não vão ficar boiando.
Além de marcar a mudança de estilo para RPG, este jogo apesar de possuir uma história séria, assim como, seus predecessores, tem um ar leve repleto de humor e referências à cultura geek japonesa. A máfia é explorada em tom muito mais bem humorado e um outro estilo de organização criminosa mais interiorana é apresentada ao jogador.
O equilíbrio emocional do game, depende muito de sue protagonista Ichiban Kasuga. Ele possui um jeito inocente quase como uma criança grande que foi criado por pais postiços e em sua adolescência entrou para a máfia através daquele que se tornou a sua grande figura paterna e chefe: Masumo Arakawa.
Um lendário matador que mostrou seu lado piedoso em uma situação de urgência que Kasuga passou até eles se conhecerem. Ao longo dos 15 capítulos, esse passado será revelado aos poucos trazendo boas reviravoltas para a trama. Os personagens auxiliares ao protagonista durante a aventura são todos carismáticos.
Cada um com histórias mais curiosas que o outro. E essa camada de desenvolvimento dos laços entre os membros da party, são vitais para ganhar habilidades que podem ser decisivas no late game.
Brincando de trazer o RPG para o cotidiano japonês
Apesar de fazer referências, na primeira parte do game, às franquias clássicas japonesas de RPG, apenas o sistema de turnos é bem inspirado nessas obras. Já que, em Like a Dragon a ideia é trazer o RPG clássico para o cotidiano japonês.
Usando de personagens caricatos para variar entre os tipos de oponentes encontrados pela cidade. Não é incomum encontrar por exemplo, um homem debilitado mentalmente que como ataque, vai gritar bem alto e em seguida começar a chorar.
Um stalker que vai usar de um passo leve para se aproximar antes de atacá-lo. Algumas dessas aparições são engraçadas, já outras vão mais para a linha do bizarro e imoral. É sempre bom lembrar, que nesta franquia a cultura oriental é muito forte o que vai de encontro com certos conceitos ocidentais, podendo até mesmo chocar os desavisados.
O famoso conceito de job nos RPGs. Que são as “profissões” ou “classes” dos personagens, aqui seguem o sentido literal da palavra. Existem dezenas de profissões com habilidades únicas. Vai de chefe de cozinha até uma dominatrix sensual.
Sendo necessário cumprir certos requisitos para poder liberar todas. Dependendo das ações que o jogador tiver em relação aos personagens secundários ao longo da aventura. Certos níveis de características aumentam. Algumas como carisma e coragem, são necessárias para desbloquear certas ações no jogo.
Como por exemplo, se relacionar amorosamente com um NPC. Não é nada obrigatório, mas com algumas horas dedicadas a essas sidequests, é possível ter algumas surpresas. Algo sempre presente na série que não podia faltar por aqui são os mini games. Dessa vez o game conta com mais de 12 espalhados e alguns até escondidos pelo mapa.
É possível pilotar um Kart, assistir um filme sem dormir, coletar latinhas em um carrinho de supermercado, e até ter a sua própria empresa em um complexo sistema de aquisição de propriedades necessário para ganhar mais dinheiro na campanha.
Algo que a partir do capítulo 10 será muito vital para avançar na história. Então por mais que seja um pouco intimidador, é aconselhável focar nesta parte empresarial desde o princípio, para não sobrar essa parte inteira para o final. Podendo causar fadiga no avanço da campanha.
Músicas que aumentam o brilho do jogo
A trilha sonora é um espetáculo à parte. Mesmo após longos e por vezes, cansativos diálogos, entra aquela música que faz o jogador ficar ereto no sofá e imergir novamente no universo de Yakuza. Tanto nas invocações de summons, como também, nas boss fights.
As animações muito caprichadas, sem nenhum bug visual. É impressionante a quantidade de animações entre os golpes especiais, ou o desempenho em geral. Joguei-o em um PS4 Slim e a experiência foi ótima. As telas de loading foram até rápidas e não eram frequentes. Mais em mudanças de capítulos. Até os fast travels foram bem aceitáveis.
A falta de uma localização em português é uma reclamação de muitos por mais de uma década. E desta vez os clamores serão atendidos. Junto à versão de Playstation 5, será possível jogar com as legendas em português. Ambos estão previstos para serem lançados em fevereiro de 2021. Podendo abrir as portas de vez para novos fãs da saga.
Combate em turnos viceral e intenso
É difícil falarmos em combate por turnos e pensarmos em algo dinâmico ou fluído, por mais de 45 horas (duração média da campanha, fazendo algumas sidequests). Porém, alguns fatores permitem que isso seja dito sobre Yakuza Like a Dragon. Os personagens se movimentam automaticamente o tempo todo.
Alguns efeitos conhecidos em jogos desse tipo são animados e mudam toda a perspectiva de intensidade da luta. Efeitos como tonteira, loucura ou sonolência são muito bem utilizados. E os menus são mais simplificados que o de costume em jogos orientais. Apesar dos longos tutoriais pelas primeiras 8 horas do game.
Poucas dúvidas ficam caso o jogador tenha a paciência para ler todos os guias do jogo. Cuidado com o trânsito. Os carros não são só enfeite e podem atropelar seu personagem e causar um dano considerável a ele.
Em termos de dificuldade, o jogo é bem equilibrado. Apenas a partir do capítulo 12 é que o bicho pega de verdade. Mas nada que algumas horas na torre de treinamento, deixando assim, sua party forte o bastante para as lutas derradeiras que são muito difíceis e requerem estratégia e paciência na utilização de cada artifício do jogo.
Falando em artifício, os queridos summons estão presentes. Alguns de maneira meio galhofa, mas funcionam como devem. Personagens clássicos da franquia aparecem como algumas dessas invocações servindo como balança para os que não conhecem ficarem com vontade de conhecer através dos títulos anteriores da série.
E, para os que idolatram estes personagens sentirem aquele saboroso gostinho nostálgico. Mas como nem tudo são Tsubakis, para utilizá-los é exigido dinheiro a partir da 2 utilização. Confesso que tirando o último summon concedido nas missões finais do game, o restante não é lá extremamente necessário para prosseguir na história.
É como se fosse um tempero interessante e nada mais. Aliás, grande parte dos summons são adquiridos através de sidequests então fique esperto caso queira ignorar todas elas. Existe até um gatinho fofo dentre essas invocações.