Não se enganem com ‘Operação Hunt’. O longa-metragem da Coreia do Sul não é apenas mais um filme qualquer de ação rasteira. Digo isso, inclusive, já contando com o frenético início da obra, que com cerca de cinco minutos já nos põe diante de uma cena de ação desenfreada, envolvendo movimentos elaborados e um elenco bastante vasto em cena.
No filme, mais do que uma trama entre caça e caçador, o que existe de verdade são dois predadores tentando avolumar provas um contra o outro, pois há uma desconfiança de que a captura de um informante interno chamado Donglim, líder de uma célula de espionagem, é a peça-chave para evitar uma eventual trama de assassinato do presidente, em um já conturbado momento de bastante conflito, nos anos 80, entre as duas Coreias.
No caso de ‘Operação Hunt’, os dois predadores são vividos pelo astro sul-coreano Lee Jung-jae (do megassucesso mundial ‘Round 6’, série da Netflix), que aqui interpreta Park Pyong-Ho, chefe de uma unidade de inteligência de combate ao crime internacional, e Jung Woo-sung, intérprete de Kim Jung-do, que também é chefe de uma unidade de inteligência de combate ao crime, só que em solo nacional. Um detalhe adicional ao contexto da produção que é deveras importante: além de protagonizar o filme, Lee Jung-jae é também o diretor da obra.
Logo de cara, ficamos também sabendo que o filme possui todo um contexto geopolítico que guiará grande parte da narrativa pelas próximas pouco mais de duas horas: dos conflitos às intrigas internacionais, dos golpes que ameaçam a democracia às revoluções mais urgentes e perigosas.
Dessa forma, além de acompanharmos a operação para descobrir quem é o traidor/informante, também vemos de perto as interações entre Park e Kim, outrora aliados, e agora em lado opostos de uma grande, misteriosa e eletrizante investigação em que correr contra o tempo se faz não apenas necessário, mas é um dever para ambos, que ora estão operando juntos, ora estão operando um contra a outro. O motivo: ambos desconfiam que o outro pode ser o tal infiltrado que pode causar uma ruptura democrática em um momento já tenso para os governos norte e sul-coreano, além de outras implicações internacionais.
Para quem já era habituado com o cinema policial asiático, que, principalmente no século 21, quase sempre operou sob a lógica do suspense e do mistério de forma muito atrativa e gradual, ‘Operação Hunt’ será uma obra que provavelmente irá satisfazer. Quem nunca ou pouco viu esse gênero a partir do cinema oriental, e foi acostumado apenas e tão somente com o cinema policial de Hollywood, poderá se espantar ao ver como ‘Operação Hunt’ é dinâmico, com vários focos de tramas, com personagens dúbios e que carregam suas próprias subtramas.
Além disso, sempre que precisa sair do “conforto” meramente dramático para descambar na ação, o filme faz isso quase sempre apoteoticamente. É inventivo, tresloucado e não poupa sequências de ação grandiosas com outras em menor escala, mas também satisfatórias.
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Quem já conhecia obras cinematográficas como o norte-americano ‘Fogo Contra Fogo’ (Michael Mann) ou ainda ‘Os Infiltrados’ (Martin Scorsese), perceberá semelhanças visuais e narrativas nos dois longas estadunidenses. Vale dizer, inclusive, que no caso do filme de Martin Scorsese, trata-se de uma refilmagem bastante interessante de um filme, vejam só, asiático: o ‘Conflitos Internos’ (Andrew Lau, Alan Mak), que chegou a receber outras duas sequências, algo que, infelizmente, não aconteceu com a versão hollywoodiana.
E se quem for assistir acredita que apenas o desmascarar da identidade do tal infiltrado é o grande mistério do filme, estará enganado. Por sorte, ‘Operação Hunt’ desenvolve tão boas tramas ao longo da narrativa que, ao fim, tudo que vai se revelando diante do espectador se mostra tão ou mais interessante do que apenas a identidade do grande suspeito, que já motivaria um filme por si só, ainda que igual aos tantos outros por aí afora com esse único objetivo narrativo.
Esse tipo de engendramento dramático, que “brinca” conosco ao ir apresentando diversos novos elementos com certa constância, algo felizmente comum ao cinema asiático, não é solto sem esmero. Há todo um cuidado ao apresentar o que será visto em tela, pois, a isca, potencialmente, servirá e surgirá mais na frente como uma recompensa ao espectador ou espectadora que se dedicou à imersão narrativa.