Imagine sem barreiras, sem família para se apoiar. É assim que Sean e seu irmão Daniel se sentem.

Vítimas da xenofobia velada da sociedade americana, os irmãos não têm outra saída senão fugir sem rumo após estranhos eventos. Você controla o irmão mais velho, nessa road trip involuntária e vai precisar moldar o caráter de seu irmão Daniel, que parece aprender as coisas a partir das suas atitudes com ele ou até observando suas interações com as outras pessoas.

Muito se é discutido nestes jogos de narrativas e escolhas sobre o que realmente você está mudando no curso da história ou não. Bom, infelizmente Life is Strange 2 neste momento deixa a tal mágica de nos enganar um pouco mais exposta a céu aberto, quando claramente estamos dando respostas que levariam o roteiro pra esquerda mas mesmo assim ele é jogado brutalmente para a direita.

O importante é perceber que muito embora você faça input de suas opiniões através de duas ou três respostas e blocos de diálogo, muitas vezes não será possível dobrar o curso das coisas, tirando um pouco a sensação de que podemos levar esse rio para mais de um lugar. O que vamos mudar são micro arcos de resoluções que não importam tanto como um todo.

Naturalidade

Mas o que eu gosto em como eles estão desenvolvendo essa linha de jogos em específico é da forma com que são honestos conosco. Life is Strange 2 não tenta inserir gameplay forçadamente só para que um indivíduo consiga chamar isso de um jogo. Eliminadas estão quaisquer formas de chacoalhada de controle e meias luas desengonçadas, mesmo porque não há tanta ação aqui, para que justifique tanto afobamento no controle. O foco do jogo é que você caminhe até objetos que vão compor o roteiro em sua volta, para construir mais o mundo e as vidas dos personagens envolvidos. Um objeto final é claro ao jogador e interagir com esse despertará a continuidade do roteiro, nunca frustrando nós jogadores, com aquela sensação de que cortaram a nossa investigação involuntária pelo cenário.

Fora está a trama adolescente, que até dá uma ensaiada de ser a primeira coisa a aparecer, mas não. A narrativa está na mão de crianças e adolescentes num mundo muito mais importante em tudo que está acontecendo, as políticas e ameaças de muros erguidos proferida pelas bocas antigas e conservadoras daquele país. Estamos falando aqui de questões pequenas que importam muito mais do que aquelas do primeiro jogo, pois se encaixam muito mais em nossa sociedade. É claro que para deixar os dilemas aparecerem com mais pressa, o fator sobrenatural ainda está presente aqui, porém não mais se trata de um jogo sobre voltar no tempo. Além do mais não existem mecânicas ligadas a tais poderes, você só assiste eles se manifestando e decide como lidar com eles.

Sem pretensões

A ambientação é uma das coisas mais agradáveis. Os lugares pacíficos, de um mundo e sociedade que só quer existir em paz ali traz um jogo suave de se ver e de se ouvir. Diálogos serenos e caprichados na performance e sem os estrondos de tiro e pancadaria que um jogo americanizado poderia oferecer. Os lugares despertam sensações adormecidas em sua mente fazendo imaginar como aquele mundo poderia rodar quando você não estivesse olhando. É vivo.

Adicionalmente você pode jogar gratuitamente uma espécie de prólogo que inicialmente não parece oferecer conexão alguma com a série. Então vai lá e jogue também The Awesome Adventures of Captain Spirit.

Dito Isto, Life is Strange 2 é uma experiência superior ao primeiro, tratando coisas de forma mais contundente e madura. No fim das coisas é uma narrativa bem linear com leves desvios de caminho mas que rapidamente se encontram. Ele não tem pressa em permanecer um pouco mais em um foco em um galho com neve ou um rio correndo. Ele está ciente de sua própria construção, sem ter pressa e ambição de lhe mostrar a próxima coisa genial. Não há ‘genial’. Há o sereno e mundano, pois videogames adoram ser pretensiosos. E talvez a melhor qualidade de Life is Strange 2 é não ser pretensioso.

Ele está na leva de jogos que gosto de chamar de “gringos”, aqueles que não são de autoria americana ou japonesa. Isso traz uma visão claramente diferenciada das coisas e um bom trabalho em dizer que…

A Vida é Estranha.

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