Para além do alvoroço causado por Ellie em The Last of Us Part 2 no ano passado, a representação LGBTQIA+ nos games já se fazia presente há muito tempo. As primeiras aparições de personagens fora da heterossexualidade eram singelas, estereotipadas ou negativas, sem muita preocupação com inclusão ou respeito.
Um breve histórico sobre representação LGBTQIA+ nos games
Em Le Crime du Parking pode se encontrar Paco, o primeiro personagem gay em um jogo. Porém, o papel que este representa é o do vilão. O jogo de 1985 tinha por tema um crime e a aventura se baseava em escolhas do jogador. Ainda mais, no mesmo ano a mesma produtora (Froggy Software) lançou Le Mur de Berlin va Sauter, onde mais uma vez um personagem gay era o vilão.
Em 1986 o jogo Moonmist contava com a primeira representação lésbica que se tem notícia. Sendo assim, vale lembrar que esta foi rápida e com apenas uma simples menção de que Vivien Pentreath, amiga do vilão, tinha um caso com uma mulher casada.
Em 1988 a Nintendo fez, mesmo que sem intenção, o primeiro personagem transexual em um jogo. Neste sentido Birdo, um dos chefes de Super Mario Bros 2, nasceu menino, porém se identifica como menina e prefere atender pelo nome de Birdetta.
Durante o início da indústria dos jogos a representação LGBTQIA+ nos games era por vezes homofóbica. Por exemplo, o que aconteceu em jogos de luta como Streets of Rage 3. Neste Ash usa roupas justas e age de maneira afeminada, reforçando estereótipos de gênero.
Por fim, vale lembrar que sexualidades como a bisexual, intersexual e várias outras eram pouco representadas ou simplesmente não estavam presente nos jogos da época. Por isso, é difícil encontrar exemplos para citações aqui.
Representações positivas
A representação LGBTQIA+ nos games começou a se mostrar de forma positiva apenas recentemente. Mas mesmo assim vale lembrar que esta vêm encontrando resistência do público heterossexual
Nos anos 2000 o primeiro The Sims causou espanto ao mostrar um beijo entre duas mulheres no Electronics Entertainment Expo. No entanto, é importante ressaltar que a possibilidade de fazer casais do mesmo sexo não era prevista no início do jogo. A princípio o game deveria permitir apenas casais héteros, mas um descuido na programação fez com que se pudesse haver representação LGBTQIA+.
Atualmente, além de representações positivas como em Life Is Strange, existem jogos que permitem casamento entre personagens do mesmo sexo. O primeiro deles foi Fallout 2 de 1998.
Representação LGBTQIA+ nos games também existe em um mercado focado para este público. Sendo assim, é possível encontrar jogos desenvolvidos e criados por LGBTQIA+ para LGBTQIA+. Por exemplo, Dys4ia e Do I pass?.
O que pensam os membros da comunidade?
Longe de ser perfeita, a representação LGBTQIA+ em games se faz presente hoje em dia, mas ainda exclui alguns grupos. Mulheres transexuais entrevistadas tiveram dificuldades em citar um jogo com um personagem com a mesma identidade de gênero.
A representação mais próxima foi Poison de Street Fighter, esta é considerada mulher trans na América mas cisgenero no Japão. Sendo assim, Luna Fazollo comenta: “Não conheço uma personagem trans mulher em jogo, ainda mais protagonista”.
Por outro lado, Lev de The Last of Us 2 foi utilizado como exemplo de homem transexual. “Até chorei, foi a primeira vez que tive a oportunidade de ver uma narrativa trans tão bem representada. Foi muito emocionante todo o contexto social que ele vivia e o que teve que fazer para sobreviver”, diz Olyntho Campos sobre o assunto.
Lésbicas citam Tracer de Overwatch como uma representação, Ellie de The Last of Us também chama a atenção. Por outro lado bissexuais relataram certa escassez de personagens. José Alves diz que “lembro só da Max de Life is Strange e Dina do The Last of Us 2 de boa representação. Sinceramente, acho que ainda não abordam bem a bi/panssexualidade em obras”.
Homens gays citaram Dorian Pavus de Dragon Age Inquisition como uma representação LGBTQIA+ nos games positiva. Soldado 76 de Overwatch e Gibraltar de Apex Legends também chamaram atenção nas menções dos entrevistados.
Mudanças para incluir
Porém, o maior destaque talvez seja Varus, personagem de League of Legends. A narrativa inicial do personagem contava que este era um guerreiro encarregado de guardar um ser corrupto em um templo. Porém, durante um ataque à sua terra este se junta ao monstro que deveria vigiar para ter forças o suficiente para vencer o inimigo.
No entanto, em 2019 a história passa a ter uma nova versão. Um casal gay à beira da morte mergulha em um poço no qual havia um espírito maligno. Este se funde aos corpos dos dois homens e se torna Varus. Sobre o tema Henrique Marinhos diz: “Amei terem mostrado que mesmo em um mundo ficcional que é Runaterra o amor também não tem gênero, não é necessariamente o heteronormativo que conhecemos”.
Um longo caminho em representação LGBTQIA+ nos games
Por fim, outras sexualidades ainda são praticamente excluídas da representação LGBTQIA+ em games. Alex Bee pontua “sou não binário e nunca vi um personagem abertamente com essa identidade. Boatos de que a Max Caulfield seja (Life is Strange). Porém, nada que dê na cara”. Ao mesmo tempo, Rêmulo Brandão que é assexual também relata o apagamento “acho que nunca vi minha sexualidade em um jogo”.
O avanço em relação ao passado deixa claro que o respeito é maior atualmente quando o assunto é representação LGBTQIA+ nos games. Porém ainda existe o apagamento de certas minorias, como mulheres trans, bissexuais, etc.
O caminho percorrido foi longo, mas ainda há avanços para serem feitos. Lucas Moraes lembra que fora de julho as marcas tendem a esquecer a representação: “Passamos o resto do ano todo esperando para saber mais a respeito de um personagem da comunidade e mesmo quando vem algo é indireto e subentendido”.