Para além dos filmes sobre superação, onde o ápice da obra é uma vitória, terminando com algo que todos nós desejamos, vencer. Mas é fácil encarar o cinema e sua forma de mesclar coisas do nosso cotidiano, quando tudo tem um caminho traçado, e ao fim, algo belo e glorioso espera os personagens que decidimos nos inspirar e em alguns casos até mesmo nos identificar.
Mas o cinema não seria algo tão admirado se mostrasse a vida sempre em seus melhores dias, seria ilusório, querer mostrar a vida é entender que em algum momento teremos que provar algo amargo, e infelizmente, para muitas pessoas esse amargo perdura por mais tempo.
Em A Baleia, filme dirigido pelo polêmico Darren Aronofsky e inspirado em uma peça de teatro escrita por Samuel D. Hunter, que escreveu o roteiro do filme, vamos acompanhar os difíceis dias de Charlie, um professor que sofre com as consequências do excesso de peso, enquanto descobrimos os traumas que ele carrega.
Aquilo que não queremos ver
Ao início de A Baleia, somos levados para a rotina de Charlie, que auxilia alunos em um curso online, a câmera desligada é explicitamente a vergonha de sua imagem, com poucos segundos de filme seremos tomados por um desconforto quase palpável, que grita como algo que quer sair de nossa mente, sentimento esse que irá nos acompanhar pelas quase duas horas do longa.
Os filmes do Darren são polêmicos, e perder tempo falando disso talvez não seja o melhor caminho para interpretar A Baleia, onde iremos encontrar camadas de uma sociedade que após anos, ignora a evolução, que obriga muitos que vivem nela a se curvarem diante daquilo que o sistema julga correto.
Vamos ficar presos com Charlie em sua casa, e talvez esse seja um ótimo ponto de partida para começarmos entender essa obra que apresenta certa complexidade, o personagem nos faz pensar sobre coisas que não são fáceis de encarar; negação da imagem, o preconceito com outras formas de amor, o capitalismo que escolhe, usa e descarta a população como se trocasse uma peça com defeito.
Tudo isso de forma mais branda para alguns temas e mais intensa para outros, o maior de todos é justamente o problema de saúde do personagem do Bredan Fraser, a obesidade. Tema que levantou muitas criticas ao diretor, mas o foco não é sobre alguém que simplesmente chegou ali em um piscar de olhos, mas no trajeto doloroso, nos motivos que deixaram marcas irreversíveis. E claro que essa não é uma opinião para se ter como correta, como muitos filmes do diretor, a interpretação e entendimento são muito particulares.
A obra faz questão de nos mostrar tudo o que houve antes de Charlie querer apagar sua convivência na sociedade, e não á fácil admitirmos que possivelmente conhecemos ou já escutamos histórias assim, os personagens que fazem contato com o protagonista, sempre estão vindo de encontro a ele, como se fossem fragmentos do passado, explicando e levando peças para montar um quebra cabeça trágico.
A enfermeira Liz e sua raiva pela instituição religiosa do missionário Thomas, ambos tentam de maneiras diferentes ajudar Charlie, e contam com atuações convincentes. Ellie, filha de Charlie é o elo que nos fará entender a complexidade do personagem principal, a separação dos pais e a distância entre a filha, são responsáveis por desvendar o passado do professor.
Bredan Fraser entrega uma atuação impressionante, isso para dizer o mínimo, apesar usar uma maquiagem pesada e próteses, sua expressão facial, a dor e a sinceridade passada pelo olhar e a verdade na voz, criam uma emoção profunda, não atoa seu nome apareceu em diversas premiações.
É uma obra que merece ser vista sem muitos julgamentos iniciais, os dias cinzas pertencem exclusivamente a cada um, escolher ou não compartilhar é uma decisão difícil.
A Baleia é como o vento que entra pela janela, que pode ser frio em dias de tempestades, ou quente como em um belo dia de sol.